Recorrem a prostitutas de beira de estrada e chegam a pagar mais para poderter sexo desprotegido. Sucede que estão a contrair sífilis e, em casa,estão a contagiar as suas mulheres. O problema existe na região e incide sobretudo junto da população idosa,onde culturalmente existe maior relutância em usar preservativo.
Os casos de sífilis entre os idosos foram registados pela Associação NovoOlhar (ANO) II, sediada na Marinha Grande, que, só em 2018, apoiou maisde 400 pessoas com Serviço Anónimo de Rastreio e de Aconselhamento.
Carlo Melo, presidente da ANO II,começa por explicar que “muitas pessoas idosas têm uma certa renitência em utilizar o preservativo, ou porque culturalmente nunca o usaram, ou porque remetem para a falta de erecção quando o usam”.
E salienta que,“quando o homem já tem uma idade avançada e mesmo assim continua ater vontade de praticar sexo, a mulher pode eventualmente já não estar tão disponível para ter relações sexuais”.Acontece que “muitos homens recorrem a serviços de trabalhadoras sexuais”.E “muitos deles, em particular aqueles com que nós lidamos, são homens que recorrem a prostitutas de beira de estrada. Não são clientes quevão a apartamentos e pagam 200 ou 300 euros”, frisa Carlo Melo.
E “praticam sexo desprotegido com prostitutas de beira de estrada onde há maiorincidência de vírus (hepatites, sífilis,gonorreia e HIV/Sida)”, prossegue o presidente da associação.
Sucede que depois, “forçando o sexo com as suas companheiras – sabemos que existemuito essa violência sexual entre o casal– acabam por passar às mulheres aquilo que eventualmente contraíram com a trabalhadora sexual”, expõe Carlo Melo.
Por vezes os casos são detectados quando as esposas começam a manifestar sintomas estranhos e, nos serviços médicos, são verificadas essas infecções, aponta o presidente da ANOII. “Temos uma série de indivíduos mais velhos que se dirigem à nossa associação para nos falarem sobre algumas utentes nossas. Querem saber pormenores sobre a saúde dessas prostitutas,com quem tiveram relações sexuais,e alguns também querem fazer testes para despistar possíveis doenças”,acrescenta Ana Patrícia Quintanilha,directora da ANO II.
“Esta realidade existe na Marinha Grande. Não identificamos uma percentagem exacta de indivíduos maisvelhos que o fazem. Mas sabemos que existe uma promiscuidade enorme”, considera Carlo Melo.
“Até porque temos utentes nossas que nos dizem que atendem indivíduosque lhes oferecem mais dinheiro para praticar sexo desprotegido. E por norma são pessoas mais velhas”, refere o presidente.“Nos nossos rastreios ainda não detectámos indivíduos com HIV, masjá detectámos com sífilis”, nota Ana Patrícia Quintanilha.
“Quando o teste é reactivo, nós fazemos a referenciaçãopara o tratamento e acompanhamos a pessoa no tratamento. Há um percurso onde as pessoas não podem ser largadas sozinhas. É preciso haver orientação. Sobretudo quando são idosos”, defende a directora.
É precisamente para sensibilizar e desmitificar o uso do preservativo que ANO II vai promover no próximodia 27, pelas 14 horas, uma sessão deesclarecimento sobre HIV na terceira idade, a decorrer na Projectos de Vida Sénior, no edifício do ISDOM. Entre outras informações, Ana Patrícia Quintanilha irá explicar como se usa opreservativo feminino e masculino .
[LER_MAIS] Note-se que o Serviço Anónimo Rastreio e de Aconselhamento da ANO II é um projecto no âmbito da prevenção e rastreio do HIV e das hepatites,que pode ser feito outdoor, junto de grupos mais vulneráveis à infecçãoe que também pode ser feito naprópria sede da ANO II. Só em 2018,através deste projecto, a associação apoiou mais de 400 pessoas de Leiriae Marinha Grande.