Chama-se SaFe e tem a ambição de desenvolver, produzir e testar in vivo traqueias e brônquios artificiais (implantes traqueobrôquios), através de próteses em silicone. O projecto, financiado em cerca de 1,1 milhões de euros pela União Europeia, junta o Centro Hospitalar de Leiria (CHL), o Politécnico de Leiria e a Modes RP, empresa da Marinha Grande.
O primeiro protótipo deverá ficar concluído “ainda este semestre”. Essa é, pelo menos, a expectativa de Salvato Feijó, director do Serviço de Pneumologia do CHL e investigador principal do projecto, que há anos tinha sido idealizado pelo médico. “Tentei implementá-lo em Lisboa, quando estive no Hospital de Santa Maria, mas nos grandes centros a ligação da universidade às empresas é muito mais difícil. Em Leiria há o ambiente ideal para este tipo de projectos”, afiança.
Segundo Salvato Feijó, o projecto pretende fazer um upgrade das próteses actuais, fabricadas sobretudo em França e nos EUA, que apresentam “algumas limitações”. Uma delas “é a migração, ou seja, as próteses podem deslocar-se e têm de ser reposicionadas”, exemplifica o investigador. Por outro lado, acrescenta, “a traqueia e os brônquios têm movimentos transversais e longitudinais que são fundamentais para que consigamos deitar fora a expectoração, de forma a que ela não acumule, mas as próteses existentes não acompanham esses movimentos”.
O pneumologista explica que este tipo de próteses é utilizado quando há “obstrução das vias aéreas”, devido, por exemplo, a neoplasias (cancro). “Os pulmões são constituídos por um sistema de tubos, os brônquios, que levam o ar a uma fábrica, que é o pulmão. Se, por alguma razão, esses tubos estão obstruídos, a fábrica deixa de produzir oxigénio”, esclarece o médico. E acrescenta: “Ao construirmos estas próteses, vamos permitir que estas obstruções dos tubos traqueobrônquicos sejam suportados por outro tubo, este de silicone, que vai manter a via aberta. É um cilindro que está dentro de outro cilindro”.
Mas, para Salvato Feijó, a importância do projecto poderá ir muito além do desenvolvimento de um novo modelo de próteses, que “acrescente valor” às existentes. A expectativa do investigador é que este possa ser “o ponto de partida” para a criação de outros dispositivos médicos ou, “até de uma industrial nacional” nesta área.