Natural de Leiria, mas radicado no Reino Unido, onde trabalha para a agência governamental inglesa para o ambiente e pescas (Cefas – Centro de Ciências do Ambiente, Pescas e Aquacultura), Rui Vieira é um dos cientistas que integram o Challanger 150, um programa internacional sobre investigação do mar profundo.
Coordenado pela bióloga Ana Hilário, da Universidade de Aveiro, e por Kerry Howell, da Universidade de Plymouth, o grupo de trabalho da Deep-Ocean Stewardship Initiative para a Década da Ciência do Oceano Profundo propõe-se unir a comunidade científica mundial na procura de respostas às lacunas de conhecimento sobre as áreas mais profundas dos oceanos.
O programa de investigação foi anunciado e detalhado na semana passada em artigos publicados em duas revistas científicas (Nature Ecology and Evolution e Frontiers in Marine Science), subscrito por cientistas de 45 instituições de 17 países, entre os quais Rui Vieira.
Ao JORNAL DE LEIRIA, o biólogo marinho explica que os artigos propõem linhas de investigação de uma década, dedicada ao estudo das profundezas dos oceanos, numa altura “crítica” no que diz respeito à crise do ambiente e das alterações climáticas.
“O Challenger 150 coincidirá com a Década das Nações Unidas da Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável, que decorre de 2021 a 2030. Esta é uma iniciativa ambiciosa que no contexto actual apenas é possível através de uma alargada cooperação internacional”, afirma.
O investigador refere ainda que com o Challenger 150 pretende-se também aumentar “a capacitação e diversidade no seio da comunidade científica”, uma vez que actualmente a investigação no oceano profundo “é conduzida maioritariamente por nações desenvolvidas, com recursos financeiros suficientes e acesso a infra-estruturas oceanográficas”.
Do ponto de vista científico, o objectivo é que o Challenger 150 “gere novos dados biológicos, biogeoquímicos, físicos e geológicos”, importantes para o apoio à definição de “políticas de conservação da biodiversidade e gestão de recursos marinhos, bem como acções estratégicas no contexto das alterações climáticas”.
Em termos pessoais, Rui Vieira espera, ao longo da próxima década, “continuar a contribuir para a capacitação de recursos humanos em ciências do oceano, bem como com dados científicos robustos” que ajudem à tomada de decisão em relação a medidas de conservação e de gestão de sustentável de recursos marinhos.
Nascido em Leiria, Rui Vieira cresceu na Marinha Grande. Licenciouse em Biologia Marinha e Biotecnologia pelo Politécnico de Leiria (Escola Superior de Tecnologia do Mar, em Peniche). Em 2013, radicou- se no Reino Unido, onde fez o doutoramento em Oceanografia pela Universidade de Southampton, especializando- se em ecossistemas de mar profundo.
Há três anos, começou a trabalhar no Cefas, a agência governamental inglesa para o ambiente e pescas. Durante os últimos anos, tem representado o Reino Unido nos grupos de trabalho em Biologia e Avaliação dos Recursos Pesqueiros de Profundidade e Ecologia de Mar Profundo do Conselho Internacional de Exploração do Mar (ICES/CIEM).
Fez parte de uma equipa responsável por uma série de expedições multidisciplinares no oceano Antárctico. Lidera vários projectos de investigação em ecossistemas de mar profundo.