Com o apoio dos professores, os alunos da Escola Tecnológica, Artística e Profissional de Pombal (ETAP) estão a adaptar e a transformar brinquedos de modo a torná-los inclusivos e facilmente acessíveis a crianças portadoras de deficiência de, pelo menos 11 escolas dos distritos de Leiria e de Coimbra.
Para dar resposta à falta de brinquedos inclusivos disponíveis nos estabelecimentos de ensino e não só, o Centro de Recursos TIC (CRTIC) para a Educação Especial de Pombal desafiou a ETAP para uma parceria que permite dotar os alunos, daquela que foi a primeira escola profissional criada em Portugal, com competências sociais e valores como a tolerância a capacidade de trabalho em equipa, relações interpessoais, responsabilidade, voluntariado, desenvolvimento sustentável ou autonomia em novas situações.
Na iniciativa estão envolvidos cerca de 50 alunos do Curso de Mecatrónica.
Joel Nunes e Francisco Mendes têm ambos 17 anos e são dois desses estudantes. Estão a concluir o 2.º ano e explicam como é adaptar brinquedos para quem, de outro modo, dificilmente, teria possibilidade de brincar.
“Os brinquedos mantêm as suas funções, o que difere é o modo como são activados. Alguns deles chegam- -nos avariados e a nossa primeira tarefa é a de repará-los”, explicam.
Tolerância e inclusão
A inovação e a criatividade não param na ETAP. Um dos alunos, na sua Prova de Aptidão Cultural, apresentou um projecto para permitir às crianças portadoras de deficiência operarem um brinquedo através de um tablet, entre outras ideias inovadoras.
“Este tipo de trabalho dos alunos da ETAP traz-lhes também competências sociais, tolerância e inclusão e isso é extremamente positivo, numa sociedade que está cada vez mais desperta para estas questões”, destaca José Henriques, do CRTIC, instituição que que tem a seu cargo 23 agrupamentos, em 11 concelhos, dos distritos de Leiria e Coimbra.
Um grande botão vermelho omnidireccional, o “manípulo”, serve como interruptor para activar a função principal do brinquedo. Esta pode consistir na [LER_MAIS]emissão de luzes, de canções, sons e música ou de outras maneiras de captar a atenção e desenvolver processos cognitivos.
“Numa primeira fase, os jovens avaliam o estado do brinquedo. Se necessita de reparação e se é complexa. A maior parte das vezes, é apenas um fio solto no interior. Após vermos o que o brinquedo faz, decidimos qual a função a adaptar”, explica Bárbara Marto, engenheira electrotécnica e professora na área técnica que tem trabalhado com os alunos para dotar os brinquedos de características inclusivas.
A funcionalidade escolhida é, sem excepção, a que tem o maior potencial de estímulos sensorial e intelectual. “A adaptação permite que crianças que não conseguem agarrá-los operem os brinquedos. A limitação física é tal que, por vezes, apenas conseguem empurrar uma superfície. É a sua única forma de interagir”, referem Joel e Francisco.
Muitas crianças não têm a capacidade de utilizar as mãos para accionar o manípulo ou, dito de outra forma, o joelho, a cabeça ou outra parte improvável do corpo servem como mãos.
Os alunos dos 1.º e 2.º anos participam na parceria. Os mais velhos fazem as alterações e os mais novos promovem a recolha de brinquedos junto da população. “Eles fizeram a divulgação e a sensibilização da comunidade escolar para esta questão, aproveitando para trabalhar as competências na área de Projecto, e, os do segundo ano, fizeram as reparações e adaptações necessárias para que as crianças pudessem brincar com eles”, explica Nuno Marques, tutor do curso de Mecatrónica.
O foco no desenvolvimento de competências profissionais e transversais comportamentais, como o trabalho em equipa, relações interpessoais, responsabilidade, voluntariado, desenvolvimento sustentável ou autonomia, entra no conjunto de parcelas somadas na avaliação final dos alunos.
“Sentir o prazer de brincar”
A parceria começou com um contacto do CRTIC de Pombal, centro prescritor de produtos de apoio, sediado no Agrupamento de Escolas Gualdim Pais, que tem a seu cargo 23 agrupamentos, em 11 concelhos, dos distritos de Leiria e Coimbra.
José Henriques e Cacilda Tavares, professores de educação especial no CRTIC explicam que o de Pombal é um dos 25 que existem a nível nacional. A sua missão é a de prescrever produtos de apoio e disponibilizar equipamentos.
“O nosso papel principal é deslocar-nos às escolas, avaliar crianças com deficiência para, depois, fazer uma prescrição de um produto de apoio”, explica José Henriques. São instrumentos necessários para auxiliar a criança a concluir tarefas.
“Por exemplo, uma criança com paralisia cerebral, que seja muito limitada a nível da motricidade fina, não conseguindo segurar um lápis, necessitará de um computador para escrever um currículo ou desenvolver trabalho. Avaliamos a suas necessidades e fazemos a prescrição do equipamento indicado, a partir da plataforma de produtos de apoio do Ministério da Educação. Depois, o equipamento é financiado.”
Porém, nem sempre há brinquedos adaptados em número suficiente. E como não havia produtos para todos os casos e circunstâncias, foi firmada a parceria com ETAP, para criar brinquedos inclusivos, que são, não apenas, pouco disponíveis no mercado, como atingem preços elevados. José e Cacilda deparam-se, muitas vezes, com casos de crianças com deficiência tais que não lhes é sequer possível brincar.
“Os brinquedos adaptados são fundamentais para crianças com esse perfil… para que elas possam sentir o simples prazer de brincar”, explicam.
Além disso, a interacção com os brinquedos modificados permite aos docentes fazerem uma melhor avaliação da destreza física, das capacidades e das reais necessidades das crianças, em termos físicos e cognitivos.
Os brinquedos adaptados na ETAP são depois distribuídos pelas escolas onde se situam as antigas unidades de multideficiência. Cacilda Tavares refere que a lista de espera por brinquedos é grande e que há constantemente pessoas a pedir para entrar nela.
Há até escolas fora dos 11 concelhos abrangidos pelo CRTIC que já estabeleceram contactos, em busca dos brinquedos inclusivos da ETAP.
“Com a disponibilidade da escola tecnológica em trabalhar neste projecto, iremos procurar arranjar mais brinquedos para adaptação.”
Aliás, a ETAP continua a aceitar ofertas de brinquedos para esse fim.