Texto de Nuno Granja (coordenador e programador do Hádoc)
Quando Leonard Cohen morreu, a 7 de Novembro de 2016, no seguimento de doença prolongada, várias foram as vozes que vieram a público lamentar o desaparecimento do artista. Entre elas estava a de Nick Cave, ele próprio um ídolo para milhares de admiradores, e que se referiu a Cohen como: “O maior de entre todos. Grandiosamente único e impossível de imitar”. Cave, que é conhecido pela sua rotina de trabalho – todos os dias se desloca para o “escritório” onde, em horário laboral, escreve e compõe – já havia referido a sua admiração por Cohen e como essa rotina era uma necessidade criativa, por não conseguir ser tão genial quanto o canadiano, a quem grandes canções surgiriam sem esforço.
Hallelujah: Leonard Cohen, Uma Viagem, Uma Canção, filme de abertura da 12.ª edição do hádoc – Cinema Documental em Leiria, contraria esta afirmação de Nick Cave e revela como o método de trabalho de Cohen era também ele exigente, perfecionista e fruto de inúmeras correções até ao resultado final ser tornado público. “Hallelujah”, uma das suas mais icónicas canções, surge aqui como ponto de entrada para uma reflexão sobre a vida e carreira do músico e poeta originário do Québec.
Com recurso a diversas imagens de arquivo e entrevistas, bem como às notas do próprio Leonard Cohen, Hallelujah: Leonard Cohen, Uma Viagem, Uma Canção, percorre alguns momentos da carreira do poeta e romancista de origens judaicas, à boleia de uma das suas mais conhecidas e reconhecidas canções, tentando enquadrar a tortuosa e ténue linha entre espiritualidade, amor e sexualidade que poucos terão manipulado e manobrado com tanta mestria como Cohen.
A construção do filme é bastante clássica no que toca à abordagem documental, pelo que, pela quantidade de informação disponível e duração do documentário (praticamente duas horas), se esperaria algum tipo de “encerramento” mais bem conseguido. Ainda assim fica um importante registo de uma das mais brilhantes mentes artísticas do panorama musical e poético que atravessa o final do século passado e início do atual.
“Hallelujah”, grito de louvor à transcendência, será esse sim, eternizado nas interpretações de Leonard Cohen, mas também na fantástica versão de Jeff Buckley (assumidamente inspirada na abordagem de John Cale) mas também na de Rufus Wainwright, que a trouxe para um patamar mais mainstream, por fazer parte da banda sonora do sucesso de animação Shrek.
4 abril . teatro miguel franco . leiria . 21h30
Hallelujah: Leonard Cohen, uma Viagem, uma Canção
de?Dan Geller e Dayna Goldfine
Hallellujah: Leonard Cohen, a Journey, a Song | 115 min. | EUA | 2021 | m/12
IDFA 2022 – Seleção Oficial
La Biennale de Venezia 2022 – Seleção Oficial
Tribeca Film Festival 2022 – Seleção Oficial