No passado dia 12 de Dezembro participei no Encontro Científico de Homenagem Nacional ao Professor António Coimbra de Matos, psiquiatra e psicanalista, à luz do tema “Mudança de Paradigma: uma nova relação eutu”. O Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian encheu-se de familiares e amigos, pacientes e exalunos, tal como eu, numa bonita homenagem em vida ao homem da nova relação, do afecto, do progresso e da cooperação, a quem António Sampaio da Nóvoa chamou e bem, o Nosso Mestre! Com António Coimbra de Matos, sempre de relação afável e interessada em cada encontro que vamos tendo, tenho aprendido a construir na relação terapêutica com os meus pacientes um caminho baseado no reconhecimento do outro, na apreciação da sua beleza e da beleza do mundo e na expressão recíproca de afectos, capazes de nos envolver num percurso comum especifico ou não. Os afectos são os elos de ligação entre a função biológica e a psicológica, entre as exigências da amígdala e o pensamento neocortical, entre o interior e o exterior, entre a acção e a reflexão.
São os afectos, que permitem a ligação, no duplo sentido, entre o indivíduo e o seu meio, pela vida fora. Também é assim na relação psicoterapêutica, onde o afecto não é apenas uma avaliação interna, é também uma comunicação que liga o estado interno de quem gera a experiência ao estado interno de quem a recebe e a regista.
Este acesso só é possível através de uma forte compreensão emocional vivida a dois, numa relação terapêutica assimétrica mas de desenvolvimento e crescimento mental, que à medida que se desenrola, se torna mais íntima, complementar e criativa. Também é desejável que assim seja na relação mãe-bebé, porque também com Coimbra de Matos observo todos os dias que a vinculação infantil vem na sequência da vinculação parental, da sua autenticidade e do seu entusiasmo.
Precisamos do olhar valorizante do outro para nos auto-reconhecermos, para nos autovalorizarmos, porque, como muitas vezes lhe ouço dizer: “só se se tiver sido primariamente investido pelo objecto é que se poderá amar, é que se poderá apreciar a beleza do mundo”. São estas faltas e ausências afectivas espelhadas no rosto ou traduzidas por palavras que procuro ouvir, acolher, entender. É na força desta escuta de uma linguagem, por vezes, estranha à primeira vista, que reconheço a importância da “nova relação” que procuro oferecer a quem me procura.
E, como de homenagem se trata, termino hoje com as suas palavras, inspiradoras todos os dias: “Crianças felizes – e é de felicidade que se trata (não de conformismo) – são crianças amadas e livremente desejantes, vale dizer, sem medo de querer, pedir e ambicionar mais; já que, como sabemos, o entusiasmo e a ambição são excelentes sinais e poderosos condicionantes de saúde mental – ter Deus dentro de si (os bons pais) e desejar o infinito (lá, onde Deus mora)” – António Coimbra de Matos, In “Bonding e Resiliência”. Votos de um excelente ano novo!
*Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta