Que papel cumprem hoje as associações comerciais?
O papel que cumprem, ou que deveriam cumprir as associações comerciais, é de apoio ao comércio, desenvolvimento e revitalização do comércio e apoio aos comerciantes para serem mais produtivos e terem mais sucesso com os seus negócios. Foi reconduzido como presidente de Direcção da Associação Comercial e de Serviços de Pombal (ACSP) para 2024-2026.
Qual é o seu principal objectivo neste mandato?
Somos neste momento uma associação completamente saudável em termos financeiros, o que é algo raro em termos associativos. E queremos aproveitar esta saúde financeira que temos para criar novas iniciativas, novos projectos, que sejam bastante estruturantes para o comércio do concelho. O comércio tem um grande peso económico, pela quantidade de postos de trabalho que gera.
O apoio e o financiamento que têm chegado estão à altura da dimensão do sector?
O problema é que o sector comercial é absolutamente esquecido pelos governantes. Todos os grandes apoios que existem são direccionados para a indústria. À excepção de pequenas medidas, como existem agora no PRR, as aceleradoras do comércio digital, que, sinceramente, acho um pouco “ridículas” face aos montantes em causa. Sendo um sistema de apoio para a modernização digital do comércio, o máximo que as empresas vão receber são cerca de dois mil euros, o que é manifestamente insuficiente. Quando[LER_MAIS] falo em falta de apoio, estou a comparar os apoios do sector industrial, que teve apoios para a descarbonização e compra de máquinas, com os do sector comercial, que precisa tanto de descarbonizar como a indústria. Porque existem empresas do sector comercial que gastam mais energia do que algumas empresas industriais. Basta terem frigoríficos, arcas congeladoras, sistemas de frio e ar condicionado. E o sector da indústria tem programas para a transição digital e o comércio tem um valor muito residual. Por outro lado, aqueles programas de apoio estruturantes, para modernizar estabelecimentos comerciais, aquisição de máquinas, já não existem há cinco ou seis anos. O último terá sido o SI2E, de 2017. A partir daqui foram criados outros programas, que são espectaculares, mas que só são direccionados para a indústria. Há uma desvalorização total de um sector económico que tem cerca de 350 mil empresas e emprega 1,2 milhões de pessoas.
O projecto Bairros Comerciais Digitais vinha de algum modo reforçar esse apoio?
Tenho muita pena que o Bairro Comercial Digital de Pombal não tenha sido aprovado. Era um projecto que eu gostava imenso, porque permitia a digitalização dos espaços, promover o comércio, atrair públicos diferentes. E iríamos ter um marketplace. Foi uma oportunidade que se perdeu. O que vão fazer para compensar a reprovação desse projecto? Tínhamos grande empenho nesse projecto. Para tentar compensar, criámos o programa Eu Compro em Pombal, que inclui uma série de iniciativas, que visam fomentar o comércio local, criando mais interacção com os comerciantes, mais actividades. E queremos ainda tornar a nossa associação promotora do comércio sustentável em Pombal. É para isso que estamos a trabalhar e vai ser esse o grande objectivo deste novo mandato. Queremos cumprir com os objectivos de sustentabilidade das Nações Unidas, em concreto o ODS 8 (trabalho digno e crescimento económico) e o ODS 12 (produção e consumo sustentáveis).
O que pode ser feito para impedir que o comércio tradicional morra nos centros das vilas e das cidades?
Sou presidente desta associação há cerca de 10 anos, sempre estive ligado ao comércio, e sou absolutamente contra o funcionamento das grandes superfícies ao domingo. Abrir ao domingo de manhã, até admito. Mas os países desenvolvidos têm as grandes superfícies fechadas ao domingo. E até se formos a Espanha, numa cidade com a dimensão de Leiria, aos domingos à tarde as ruas estão repletas de gente. Porque as grandes marcas estão nas “Avenidas Heróis de Angola” dessas cidades. Aqui, as pessoas estão no centro comercial de Leiria. E acho que, quando se fala em emprego digno, como referiu a então ministra do Trabalho, é inacreditável que haja milhares de pessoas a trabalhar no domingo à tarde, muitas delas mulheres, que também poderiam estar a passear com o seus filhos e maridos. A ideia de que os centros comerciais iriam quebrar as vendas é mentira. Haveria sim um equilíbrio entre o comércio nos centros comerciais – sou 100% a favor que existam- e o comércio de rua. Há um desequilíbrio muito grande.
Que tipo de empresas gostaria que surgissem em Pombal?
A ACSP tem vindo a registar um aumento no número de associados, somos cerca de 550. Demonstra que ou a associação tem mais capacidade para atrair novas empresas ou existe realmente um número crescente de empresas a instalar-se em Pombal. Temos hoje em dia uma associação também muito mais profissional, mais digital, acaba por ser mais aliciante. O que gostamos é que haja um mix comercial perfeito, que haja todo o tipo de comércio de rua, para que o consumidor possa encontrar toda a oferta, como encontra num centro comercial.
Que contributo traz o pólo do IPLeiria ao comércio e à cidade de Pombal no geral?
Já temos em Pombal uma escola profissional extraordinária, que ministra alguns cursos bastante úteis para a indústria e para o comércio. Sou favorável a que se criem aqui pólos, sobretudo com residências de estudantes nos centros históricos, para fixar pessoas, promover o comércio e dar mais vida à cidade.