A redução de candidatos ao sacerdócio, por um lado, e a expansão do ensino, que há algumas décadas era, em boa parte, assegurado pela Igreja, levou ao encerramento de muitos seminários. Na região, alguns desses espaços têm vindo a ganhar nova vida, com a reconversão para novos usos, como a hotelaria, conservatório de música, residência sénior ou escola profissional.
O mais recente projecto de intervenção envolve a ala Sul do antigo Convento da Portela, em Leiria, propriedade da Província Portuguesa da Ordem Franciscana, que está a ser transformada em residência sénior, com capacidade para 60 utentes. Com abertura prevista até ao final deste trimestre, a unidade representa um investimento na ordem de 1,5 milhões de euros, feito pela empresa Primaworld, no âmbito de um protocolo celebrado com a congregação, que prevê a concessão e exploração da residência por um período de 30 anos.
Esta intervenção, sobre a qual não foi possível obter esclarecimentos de representantes da congregação, vem dar nova vida a uma área do convento que se encontrava devoluta há alguns anos.[LER_MAIS] Foi também por esse motivo e, depois de um “longo processo de discernimento”, que a congregação do Verbo Divino decidiu converter o seu antigo seminário de Fátima, desactivado há cerca de 20 anos, primeiro numa casa de acolhimento de peregrinos e mais recentemente num hotel de quatro estrelas, o SDivine Fátima Hotel, que está a funcionar há cerca de meio ano.
O padre José Fernandes, superior da comunidade de Fátima, conta que a decisão “não foi fácil”, mas reconhece que “não havia outro caminho”, sob pena de “se deixar morrer uma casa”, construída com a ajuda de “muitos amigos” e que abriu portas em 1953. O responsável da comunidade frisa, contudo, que o projecto de intervenção teve a preocupação de assegurar a continuidade da actividade missionária e de formação no local, através de um centro de espiritualidade, inaugurado no passado dia 15. O objectivo, explica o sacerdote, é “dar à Igreja local um espaço onde se possa reflectir sobre a espiritualidade e a missiologia”.
O passo dado agora pelo Verbo Divino já foi dado, há quase duas décadas, pela Congregação dos Padres Monfortinos em relaç ão ao seminário de Fátima, que ficou devoluto no final dos anos 90 do século XX e que acolhe hoje a Escola de Hotelaria de Fátima (EHF) e o Conservatório de Música e Artes do Centro (CMAC).
António Pereira, que foi provincial da congregação, conta que estiveram várias possibilidades em discussão como a criação de um lar de idosos ou de uma c asa de retiros, sendo que, desde o início, foi descartada a hipótese de uma unidade hoteleira. “Já havia outras congregações em Fátima a seguir esse caminho, mas o nosso objectivo passava por colocar de alguma forma o espaço ao serviço da comunidade e, se possível, manter o uso social e educativo”, recorda o sacerdote.
Durante o processo de “reflexão”, surgiu uma proposta da Câmara de Ourém para adquirir o edifíc io, o que viria a concretizar-se em 2003. A ideia inicial era instalar no local um centro de estudos ligado ao ensino superior, opção que não vingou. Mais tarde, o espaço chegou a ser apontado como hipótese para acolher os Paços do Concelho, caso viesse a ser aprovada a criação do município de Fátima, o que não aconteceu. Hoje, o edifício acolher a EHF e o CMAC, “duas instituições que corporizam perfeitamente o que a congregação tinha preconizado”, frisa António Pereira.
Seminário Diocesano de Leira
Residência de estudantes cai por terra
Sem a componente da formação de candidatos ao sacerdócio desde 2010 (dez anos antes já tinha deixado de funcionar o seminário menor), o Seminário Diocesano de Leiria, projectado para 250 alunos, acolhe hoje vários serviços da Diocese. Serve como casa sacerdotal, onde residem seis padres, casa de retiros, com 80 quartos duplos, “para acolher grupos eclesiais”, e centro pastoral diocesano, onde funcionam a sede de vários departamentos da cúria diocesana, o tribunal eclesiástico, o arquivo diocesano e salas de formação, entre outras valências. “O Seminário não tem nem nunca teve nenhuma parte do edifício desocupada. Tem, desde que em 2010 deixou de ter seminaristas residentes, uma ala de quartos que usa muito esporadicamente, o que é diferente”, esclarece o padre José Augusto Rodrigues, reitor da instituição. Para essa zona que está sub-aproveitada chegou a ser anunciada a criação de uma residência para estudantes, com mais de 120 camas, no âmbito de uma parceria entre o Seminário e o Politécnico de Leiria, mas o projecto caiu por terra. “Infelizmente, vimo-nos forçados a pôr fim ao processo por razões processuais e administrativas que fugiam ao seu controle”, alega o sacerdote, sem especificar os motivos que conduziram ao fracasso do projecto.