Nunca nos seus tempos de mocidade, por mais criatividade que tivessem, poderiam imaginar que um dia, sentados à volta da mesa, no conforto da Casa das Janelas Verdes, conseguiriam ver os detalhes do Santuário de Fátima, apreciar a transparência das águas nas Fragas de São Simão ou escutar vozes afinadas num espectáculo a decorrer no Museu do Vinho de Alcobaça.
Mas para Cremilde, Maria de Jesus, Francisco e Maria Ivone, assim como para outros utentes da Associação de Bem Estar-Social e Recreativa de Alpedriz (ABESRA), esta tem sido uma experiência bem real.
Quando a pandemia impôs limitações à mobilidade, em parceria com Amplified Creations, [LER_MAIS]a ABESRA arquitectou outras formas de continuar a proporcionar “passeios” aos idosos. Recorre, para o efeito, a óculos com tecnologia de realidade virtual, onde vídeos 360º transportam o utilizador para outros ambientes, numa experiência totalmente imersiva e inclusiva. Aos vídeos junta-se o som, que reforça o realismo de cada visita.
“Já tinha ido a Fátima, mas com estes óculos dá para ver tudo melhor”, defende Cremilde Ribeiro, de 86 anos. Também para Maria de Jesus, de 83, rever o Santuário foi uma das suas melhores experiências. Mesmo longe, “senti a emoção de lá estar”, confidencia. Maria Ivone, da mesma idade, destaca a visita às praias, onde, sem esta tecnologia, dificilmente conseguiria regressar. Desta vez, de óculos postos, o grupo de octogenários assiste pela primeira vez à actuação da banda Cláudia Martins e Minhotos Marotos.
Francisco Pereira, de 87 anos, é um dos idosos mais entusiasmados, acompanhando o ritmo da música com o bater do pé. Cremilde também não poupa elogios ao conjunto.
As praias de Água de Medeiros e de São Pedro de Moel, as Fragas de São Simão, o Santuário de Fátima, o Parque Arqueológico do Lapedo, o Museu do Vinho de Alcobaça, a apanha de fruta na região, um arraial com a participação do Grupo de Concertinas da Barrenta e o momento musical com a banda Cláudia Martins e Minhotos Marotos estão entre os cenários escolhidos.
Rita Ferreira, directora técnica da associação, explica que o projecto Mais Imersão já envolveu cerca de 70 utentes. “O uso da realidade virtual possibilita reactivar estímulos cognitivos e neurológicos nos idosos, que recuperam mais facilmente movimentos, emoções e memórias, impulsionadoras de equilíbrio psicológico”, realça a directora, notando que “o feedback tem sido bastante positivo, sendo possível verificar melhorias nos utentes”.
O projecto Mais Imersão está integrado na Iniciativa de Inovação e Empreendedorismo Social – Mais Alternativas Sénior, a decorrer desde 2019, financiado pelo Portugal Inovação Social e pela Câmara de Alcobaça.