A sede da Cáritas de Leiria está por estes dias, de portas fechadas, mas o apoio continua a ser dado. E são cada vez mais os pedidos. Chegam através do telefone ou do intercomunicador existente junto ao portão. Quem atende, ouve, sobretudo, gente “a pedir alimentação”, mas também apoio para a compra de medicamentos, conta José Marques Sousa, presidente da instituição. As entregas, em forma de cabazes, são feitas ao portão ou, em certos casos, no domicílio.
“Já temos pouco para dar. Estamos a esgotar as nossas reservas”, admite o presidente da Cáritas de Leiria, revelando que, nesta fase, estão também a encaminhar os casos para as entidades oficiais, como a Câmara e para a Segurança Social. Garante, contudo, que “ninguém” fica sem resposta e que as técnicas da instituição fazem o acompanhamento das situações, assegurando isso mesmo.
Também no Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social da Paróquia de Leiria, à qual está ligado o Centro de Acolhimento, os pedidos de ajuda estão a aumentar. Segundo o padre Gonçalo Diniz, os novos casos envolvem, sobretudo, trabalhadores abrangidos por lay- -off, que viram os seus rendimentos cair e que têm dificuldades em fazer face a despesas básicas como a alimentação.
Retrato semelhante é feito pelo presidente da Cáritas. “Famílias onde só um dos elementos do agregado trabalhava e que agora ficou em lay-off, entram em situação de ruptura. E a tendência é para agravar”, antevê. O dirigente chama ainda a atenção para a situação de muitos “imigrantes”, nomeadamente de origem brasileira, que chegaram nos últimos meses à região, ainda “em processo de fixação”, e que se vêem agora sem emprego e muitos excluídos das medidas de reforço social implementadas pelo Governo.
Imigrantes “desamparados”
Com os restaurantes encerrados, o movimento Refood, há vários anos implementado em Leiria, ficou sem a parceria que lhe permitia ajudar muitas famílias. Em Leiria, o projecto abrangia, até ao início da quarentena, “mais de 50” agregados. Sem estrutura – “ficámos sem voluntários e sem a recolha junto dos restaurantes” -, o Refood Leiria tem procurado novas soluções para continuar a apoiar essas famílias.
Ricardo Coelho, responsável local do movimento, conta que alguns beneficiários foram reencaminhados para o programa da Câmara de apoio a pessoas com mais de 65 anos e doentes crónicos (ver caixa). A outros têm sido distribuídos cabazes, fornecidos pelo Banco Alimentar e entregues pelas equipas da associação InPulsar.
“Quase todos os dias recebemos mensagens com pedidos de ajuda”, conta Ricardo Coelho, que chama também a atenção para o “agravar da situação” entre os imigrantes. “Houve muitos brasileiros a chegar nos últimos meses. Tinham começado a trabalhar, nomeadamente na restauração, mas com vínculos precários, que agora ficam sem efeito, e que ainda não estavam devidamente legalizados. Estão complemente desamparados”, alerta.
No Banco Alimentar (BA) contra a Fome de Leiria-Fátima também já se sentem os efeitos da Covid-19 e de várias formas. Por um lado, na redução dos voluntários, uma vez que “muitos” daqueles que colaboram com a instituição são reformados, agora em isolamento. Por outro lado, e embora o BA não faça entregas directas a pessoas, mas sim a instituições que depois distribuem a ajuda, já se nota “um aumento das solicitações”, reconhece Adelino Simões, presidente da direcção da organização de Leiria.
Uma outra consequência da pandemia na actividade do BA prende- se com a suspensão da campanha de troca de papel por alimentos e o cancelamento da próxima acção de recolha junto dos supermercados, agendada para Maio. Mantém-se, contudo, a campanha online. “Quem puder fazer, que faça a sua contribuição, para que possamos continuar a ajudar quem mais precisa”, apela Adelino Simões.
Misericórdia entrega refeições
A pandemia trouxe um novo serviço à Misericórdia de Leiria. A instituição está, a pedido da Câmara, a fornecer refeições a pessoas em situação de “vulnerabilidade”, nomeadamente idosos e doentes crónicos. Segundo o provedor, nesta fase entregam 64 refeições diárias, uma tarefa feita por voluntários “devidamente protegidos”, que “não tem sido difícil encontrar”. José Marques Sousa é um desses colaboradores. O também presidente da Cáritas de Leiria ajuda ao fim-de-semana. “Não entramos em casa das pessoas, mas mesmo à distância, conversamos. Às vezes, este contacto vale mais do que um prato de sopa. Nota-se nas pessoas uma necessidade de socializar. Há quem esteja fechado em casa há um mês. Alguns perguntam-nos como está a cidade”, conta José Marques, que chama a atenção para a importância de, nestes tempos, ser “caridoso”. “Temos de sair de nós próprios para dar aos outros.”