Como descobriu a paixão pelo mundo da música?
Sempre ouvi muita música, porque os meus pais me incentivavam. Nasci em França, mas vim aos três anos para cá e ainda nem sabia falar francês, mas já sabia cantar as músicas, o que era genial! E a minha mãe contou-me que frequentei as sessões de música para bebés do Paulo Lameiro. Por isso, a música sempre esteve muito presente na minha vida. A pouco e pouco, comecei a crescer e, à medida que ia escutando bandas, sabia que também queria fazer aquilo… penso que, realmente, descobri essa paixão na escola, no 6.º ou 7.º ano. Comecei com a guitarra, mas queria mesmo aprender formação musical. Foi quando a minha mãe me disse para ir para o Orfeão de Leiria. Depois, por influência do meu professor Rui Daniel da Silva, acabei por me apaixonar pelo piano. Sinto, no entanto, que é sempre algo que vem de dentro, porque quando tive de fazer escolhas, percebi que não podia ir para outro curso a não ser música.
Tem uma licenciatura em Música, na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, do Porto, na vertente de piano clássico. Como foi essa experiência?
O curso é de três anos, mas eu estive lá quatro. Poderia dizer que foi espectacular, mas é muito mais pesado do que as pessoas pensam. Senti um choque no ensino, porque todas as semanas tínhamos de mostrar o que sabíamos, e o piano clássico é um instrumento que não é nada fácil. Foi desgastante, mas não me arrependo. Também foi lá que comecei a cantar, porque tive formação de canto jazz.
Apesar do seu mais recente projecto se enquadrar num registo de pop alternativo, tem o objectivo de fazer algo relacionado com a música clássica no futuro?
Admito que a pandemia não ajudou, mas como agora estou a leccionar, deixei de actuar tanto enquanto pianista clássica. Optei por dar aulas, até porque me sinto mais estável do que propriamente a tocar. Gostava de fazer concertos em Leiria, mas, neste momento, estou a dedicar-me mais à parte do ensino. Como foi parar ao coro feminino das Ninfas do Lis, sob a batuta de Mário Nascimento? Foi através do Orfeão. O Mário Nascimento foi meu professor e convidou-me. Assisti a um concerto do coro, que adorei e, como sou uma pessoa que gosta de fazer um pouco de tudo, aceitei. As Ninfas são uma referência em Leiria e foram muito importantes! [LER_MAIS]Recentemente, passei a ser coralista e pianista, e gosto muito. Tanto que, mesmo estando na universidade, nunca saí.
Lançou o seu primeiro single a 14 de julho, Tu Fazes Tão. Como surgiu este tema?
Comecei a escrevê-lo quando estávamos todos em casa. Como tive um relacionamento tóxico, comecei a sentir a necessidade de me libertar. Não estava muito bem e quis transmitir essa instabilidade e incerteza. A grande mensagem é o fim da música, que fica em aberto. As pessoas estão à espera de ouvir “Tu Fazes Tão Bem” ou “Tu Fazes Tão Mal” e, na verdade, nem eu sabia genuinamente se a pessoa me fazia bem ou mal. Pensei logo que queria alguma coisa, que soasse diferente do que estou habituada a ouvir, mas em português. E depois falei com um amigo, o António Graça, um músico mais conhecido por Left, que produziu a música.
O tema teve a colaboração de Cláudia Pascoal, que foi representante de Portugal no Festival Eurovisão da Canção 2018, e de Ricardo Leite, ambos da produtora Danado. Como foi trabalhar com eles?
A Cláudia é uma personagem! É muito engraçada e tem um sentido de humor fora de série. Foi ela que fez a edição do videoclipe todo e foi sempre muito profissional. O Ricardo ficou responsável pela parte técnica das gravações e é cinco estrelas também. Eles são amigos e criaram a Danado que já gravou para o Miguel Araújo, para a Blaya, para o Marco Rodrigues e para outros artistas. Por isso, confiei muito neles.
Como conheceu a Cláudia?
Já nos tínhamos cruzado quando participei com a Surma no Festival Eurovisão da Canção, mas nunca tínhamos tido grande interacção. O meu produtor, o Left, é namorado dela. A Cláudia deve ter ouvido a música e aparentemente gostou. Ela ligou-me, fez-me uma proposta. Reunimos e gravámos o videoclipe.
Uma pessoa versátil
Com 23 anos e nascida em Paris, Inês Oliveira, filha de pais leirienses, é licenciada em Música, na vertente de Piano Clássico. Iniciou o seu percurso com 10 anos, quando começou a tocar piano na Escola de Música do Orfeão de Leiria. Além de pianista, cantora e compositora, faz parte do coro feminino Ninfas do Lis, desde 2014 e foi corista de Surma, no Festival Eurovisão da Canção. Tendo da se descrever numa só palavra, a jovem artista diz ser uma pessoa “versátil”.
Sente que já é reconhecida pelas pessoas? Como lida com isso?
Penso que isso seja algo mais a longo prazo. Aconteceu-me no outro dia, em Leiria, uma pessoa que eu não conhecia vir ter comigo para dizer que o meu videoclipe estava espectacular. Mas tenho tido imensas mensagens, o que é absolutamente inacreditável. Também tenho tido alguns contactos de sites e revistas online e, sem dúvida que o Tu Fazes Tão, está a ser um abrir de portas.
Quais são os seus planos para o futuro a nível pessoal e profissional?
Para a minha vida pessoal, espero continuar a leccionar. Enquanto artista, quero tentar terminar algumas músicas que estou a compor. Mas gostava muito de tocar ao vivo em Leiria, se fosse possível.
Tem algumas novidades em vista?
Estou a ponderar lançar outro single, um bocado ainda mais “fora da caixa” do que a Tu Fazes Tão. Não tem graça se assim não for! É uma música diferente, mas também em português. E tenho também já preparado um EP, que estará disponível em todas as plataformas, talvez em 2022.