Por entre os tubos verdes começam a despontar folhas de medronheiros, carvalhos, salgueiros e freixos, plantados no ano passado na parcela da Mata dos Marrazes mais próxima da Aldeia do Desporto, no âmbito de uma acção de reflorestação promovida por uma empresa.
Ao todo, foram plantadas cerca de seis mil árvores. Nem todas sobreviveram, é certo, mas começam a ver-se alguns sinais de recuperação deste pulmão verde, localizado às portas da cidade de Leiria, doente há vários anos. Há tempo de mais alegam aqueles que cresceram paredes-meias com a Mata, como é o caso de Jaime Gomes.
“Primeiro foi a praga do nemátodo, que limpou metade dos pinheiros. Depois, veio a invasão de acácias”, constata aquele morador, também proprietário de um terreno confinante com a Mata, que o JORNAL DE LEIRIA encontrou a regar árvores que plantou recentemente.
“Não basta plantar. É preciso cuidar. E na Mata muitas vezes isso não acontece”, lamenta, enquanto recorda tempos idos em que este era um pulmão verde cheio de vida e “bem cuidado”. “Havia pessoal adstrito à Mata. A população aproveitava o mato, a caruma e as pinhas. Estava tudo limpo”, conta, reconhecendo, contudo que, depois de anos de “abandono”, já se sentem as “tentativas de rejuvenescimento” do espaço.
Menos optimista está Sérgio Silva, membro da Assembleia de Freguesia (AF) de Marrazes que, em quase todas as sessões deste órgão, aborda o estado da Mata. “É preciso definir uma estratégia a médio prazo. Não é trabalho para se fazer num só mandato nem apenas pela junta”, alega o eleito da CDU. Segundo conta, já foi solicitado, “mais do que uma vez”, na AF a apresentação de “um plano” de reflorestação e de recuperação. “Não sei se existe. Nunca nos foi facultado”, critica.
O presidente da União de Freguesia de Marrazes e Barosa, Paulo Clemente, assegura que o plano “existe” e que “está a ser cumprido na íntegra”, referindo-se ao Plano de Gestão Florestal (PGF) da Mata, elaborado há precisamente cinco anos e que previa a rearborização com recurso, preferencialmente, a espécies autóctones. Estão também contemplados trabalhos de erradicação e controlo de acácias, que o autarca considera “o maior problema”, porque requer “muita mão-de-obra” e acções “contínuas”.
“Por que não envolver as colectividades locais? Se cada uma assumisse um talhão, fazia-se mais em menos tempo”, sugere Jaime Gomes, que reconhece a “dimensão” do que é necessário fazer, numa Mata com quase 80 hectares e onde as acácias estão “por todo lado”, incluindo na zona reflorestada no ano passado. “Se não se acudir, essas invasoras vão abafar as árvores que sobreviverem”, adverte.
O presidente da junta adianta que ainda este ano está prevista a plantação de mais três mil árvores, a concretizar “depois de Outubro ou Novembro”, bem como a colocação de mobiliário urbano. A criação de percursos de manutenção no interior da Mata, de um parque de merendas nas imediações do centro de saúde e de um anfiteatro natural junto à sede do rancho são outros dos investimentos previstos. Nestes casos, Paulo Clemente não se compromete com prazos.
Ainda sem projecto de intervenção encontra-se a área mais próxima do bairro Sá Carneiro, incluindo a antiga carreira de tiro. “Vamos esperar pela conclusão do centro escolar e estudar uma solução para a aquela zona, que faz a ligação entre as áreas urbana e florestal”, salienta o autarca.
Campo de tiro “sem alternativa”
Reclamada há muito por moradores da zona e pelos órgãos autárquicos locais, a retirada do campo de tiro da Mata continua sem solução à vista. Reconhecendo que a estrutura “não se adequada” ao espaço, o presidente da junta assume, no entanto, dificuldade em encontrar uma localização alternativa. “Não podemos chegar junto da associação [Clube Desportivo Campos do Lis], que sempre cumpriu, e resolver o contrato, sem que haja uma alternativa”, alega Paulo Clemente.
Em Abril de 2019, a Assembleia de Freguesia aprovou uma recomendação para resolução contrato com vista à retirada da estrutura da Mata, pelos impactos ambientais e por se tratar de uma actividade geradora de “perturbação para os residentes”. Nesse mesmo ano, foi feita uma inspecção ao local, da qual resultou a suspensão de actividade de um dos quatro campos e a imposição de medidas que “mitigassem a queda de chumbo para além da zona de segurança”.