Natural da Marinha Grande, Nuno Neto sempre quis trabalhar em áreas com aplicação médica. Pelo que, foi com naturalidade que, após concluir a licenciatura em Biologia Celular e Molecular e o mestrado em Bioengenharia e Nanossistemas, procurou projectos de investigação que pudessem responder a essa expectativa.
Acabou por se candidatar a uma bolsa de doutoramento no Trinity College Dublin, a universidade mais antiga da Irlanda. Foi aceite e está a fazer investigação na área do metabolismo celular, trabalho que já lhe valeu o prémio de melhor investigador em fase inicial de carreira na Conferência de Bioengenharia da Irlanda.
“Estudo a forma como as células e o seu metabolismo respondem a estímulos como infecções bacterianas ou virais ou como o metabolismo delas foi modificado devido a uma mutação genética ou devido a uma doença”, explica Nuno Neto. O jovem, de 27 anos, sublinha a importância desta área de investigação na compreensão de doenças como o cancro, diabetes, obesidade, alzheimer ou parkison, patologias que “apresentam células com estados metabólicos alterados”.
A investigação nesta área “tem vindo a crescer, de modo a compreender o que causou a alteração metabólica nas células afectadas”, acrescenta Nuno Neto, referindo que essa mutação pode resultar de vários factores, nomeadamente, “erros no ADN que tenham surgido de forma hereditária, por comportamentos de risco, factores ambientais, infecções virais ou bacterianas”.
“A resposta das células a estas condições faz [LER_MAIS] com que alterem o seu metabolismo para consumir mais ou menos nutrientes para obter energia ou produzir componentes importantes como aminoácidos ou hormonas. Controlar esta flutuação metabólica irá permitir identificar, controlar a progressão e mesmo reduzir os sintomas” de determinadas doenças, nota o investigador.
Além disso, “controlar ou manipular o metabolismo celular permitirá controlar as respostas inflamatórias do nosso organismo e mesmo facilitar a regeneração de órgãos e tecidos quer no laboratório quer no corpo humano”.
Para desenvolver o seu trabalho, o grupo de investigação ao qual está associado Nuno Neto utiliza um microscópio “com detectores de fotões (luz) especiais que medem certos componentes moleculares do metabolismo das células”. Trata-se, diz o investigador, de “um microscópio o único na Irlanda, contando-se pelos dedos das mãos os restantes equipamentos semelhantes existentes na Europa”.
Actualmente, a equipa testa glóbulos brancos, células cancerígenas, cerebrais (neurónios), do fígado, dos ossos e do intestino, “revelando sempre resultados promissores a nível médico e fisiológico”. Nuno Neto explica que as técnicas usadas permitem “fazer esta análise de uma forma não invasiva (sem destruir as células)” e “a aquisição de uma imagem que possibilita estudar também a morfologia das células e avaliar em tempo real a resposta metabólica a estímulos externos (infecções, fármacos e inibidores metabólicos), exigindo menos tempo de análise e de preparação”.
“Apenas é necessário desenvolver células no laboratório ou colher as células de uma biopsia no hospital e colocá-las no microscópio enquanto mantemos as suas condições fisiológicas (temperatura e oxigénio)”, refere.