O gosto pela biologia e, em particular, pela teoria evolutiva surgiu nas aulas do ensino secundário, na Marinha Grande, de onde Gonçalo André é natural. Pelo que, no momento de escolher o caminho a seguir, não houve hesitação. Licenciado em Biologia (ramo da Biologia da Evolução e do Desenvolvimento) pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, integra actualmente um grupo de investigação na Universidade de Maryland, nos EUA, onde está a fazer o pós-doutoramento. Pelo meio, viveu cinco anos na Austrália e uns meses na Suécia.
“O contacto com outras culturas, outros sistemas e outras realidades enriquece-nos. Abre-nos muito os olhos. Ajuda-nos a ver o mundo de outras perspectivas”, defende Gonçalo André, admitindo, no entanto, que a mudança e a exposição a realidades e contextos diferentes “nunca é fácil”. Contudo, o que se ganha com essa aprendizagem “ajuda a superar os obstáculos”.
A primeira experiência internacional de Gonçalo André, que se dedica ao estudo do comportamento animal, surgiu quando estava a terminar o mestrado na Universidade de Lisboa, em Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento. Concorreu a uma bolsa Erasmus na Universidade de Uppsala, na Suécia, e foi aceite num grupo de investigação que estudava o papel da dopamina e da histamina cerebrais no estabelecimento de hierarquias em peixe-zebra.
Ainda na Suécia foi procurando programas doutorais dentro da sua área de estudo e voltou a candidatar-se a uma bolsa de investigação, agora na Austrália (University of Western Australian), para fazer o doutoramento em Ecologia Comportamental, que concluiu em 2021, com a tese intitulada “A forma importa? A evolução do osso do peniano”. É, explica, “um osso presente na maior parte das espécies de mamíferos, excluindo humanos, para o qual a sua funcionalidade adptativa não é bem compreendida”.
Oportunidades “reduzidas” em Portugal
Terminado o doutoramento, Gonçalo André decidiu que ainda não era chegada a hora de regressar ao País. “Apesar de alguns avanços, na área da ciência as oportunidades continuam a ser muito reduzidas em Portugal”, constata o investigador, que, desde há dois anos, integra o Departamento de Biologia da Universidade de Maryland.
É aí que desenvolve o seu projecto de investigação que procura compreender o comportamento maternal num ciclídeo africano, uma espécie de peixe cujo “desenvolvimento da progenia acontece na boca da fêmea por 14 dias, depois de fecundado”.
“Interessa-me compreender os circuitos neuronais responsáveis pelo comportamento maternal e a sua integração com os circuitos responsáveis pela alimentação, já que a fêmea priva-se de comer durante aqueles 14 dias”, explica o investigador, que, para já, não tenciona regressar a Portugal.
“O mercado norte-americano é muito maior. Só no Estado de Maryland há umas 55 universidades que, periodicamente, estão a abrir posições para professores e investigadores”, partilha Gonçalo André, que ficará nos EUA, pelo menos, mais dois anos, para concluir o pós-doutoramento. Depois, “se verá”. “A investigação é uma área bastante ingrata. Estamos sempre dependentes de bolsas de financiamento”.