Natural de Porto de Mós, Zita Santos vai receber, juntamente com Carlos Ribeiro, também da Fundação Champalimaud, o GCLRE Pitol Award, um prémio internacional atribuído pelo Consórcio Global para a Longevidade e Igualdade Reprodutiva.
O objectivo é estudar a ligação entre as mudanças metabólicas e a infertilidade associada ao envelhecimento.
“Com o tempo, as mulheres perdem a capacidade reprodutora. A produção de ovos pára e a probabilidade de se gerar progenia viável reduz drasticamente. Queremos perceber porquê”, explica Zita Santos, que está a desenvolver o seu pós-doutoramento no Laboratório de Comportamento e Metabolismo da Fundação Champalimaud.
Segundo a investigadora, o projecto irá tentar perceber o que acontece aos ovários durante o envelhecimento, procurando descortinar os mecanicismos que estão por detrás do declínio reprodutivo, associado ao avançar da idade.
]O objectivo final é, a partir desse trabalho, “delinear tratamentos baseados na dieta que possam atrasar ou mesmo reverter este processo de envelhecimento”.
Este projecto dá seguimento à investigação[LER_MAIS] que o grupo liderado por Carlos Ribeiro tem desenvolvido ao longo dos últimos anos, estudando a relação entre a nutrição e vários processos fisiológicos, usando como modelo a mosca da fruta.
“Embora possa parecer muito diferente de nós, as semelhanças connosco são imensas. Por exemplo, a maioria de genes causadores de doenças é partilhada entre os dois organismos, as vias metabólicas são comuns e os sistemas de órgãos principais estão presentes na mosca”, sustenta a investigadora, natural de Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Mós.
A cientista nota que, tal como acontece nos humanos, também na mosca da fruta existe um declínio reprodutivo associado ao envelhecimento, com as fêmeas reduzirem “drasticamente a produção de ovos com o tempo, concomitante com um aumento de progenia com anomalias”.
Todas estas razões fazem da “Drosophila [nome científico da mosca da fruta] o organismo ideal para estudar estas questões”, reforça a bióloga.
“O que descobrimos recentemente foi que os ovários na mosquinha da fruta conseguem actuar à distância, no sistema nervoso e fazer com que as moscas aumentem o seu ape-tite para comidas com açúcar. Moscas desprovidas de ovários comem pouco açúcar”, revela Zita Santos.
Dessa investigação, foi ainda possível perceber que “o metabolismo destes açúcares pelas células dos ovários que originam os ovos é crucial para a produção dos mesmos e está na base da modulação do apetite para açucares”.
Ou seja, os ovários conseguem “manipular o apetite da mosca de forma a que esta obtenha os nutrientes essenciais à produção de ovos e de progenia”.
O GCRLE Pilot Award é atribuído pelo Buck Institute for Research on Again, uma instituição de pesquisa biomédica que se dedica à pesquisa sobre o envelhecimento, em conjunto com a Bio-Echo Foundation.
Foram premiados 22 cientistas de todo o mundo, com montante global de 7,4 milhões de dólares americanos (cerca de 6,3 milhões de euros).
Em Portugal, o projecto de Zita Santos e Carlos Ribeiro foi o único distinguido.