É um dos “exemplos do que de melhor se faz” ao nível da produção de microalgas no mundo e foi visitada esta segunda-feira pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.
O complexo Algafarm, em Pataias, conta actualmente com uma área de 1.300 metros cúbicos onde são produzidas 80 toneladas de microalgas e vai continuar a crescer. As previsões apontam para a produção de 130 toneladas nos próximos anos.
Foi em 2016 que arrancou a produção industrial de microalgas para fins industriais, cosmética, substituição de combustíveis fósseis e, a longo prazo, para a alimentação animal e humana, num projecto liderado pela Secil, através da Allmicroalgae. No complexo já foram investidos mais de 15 milhões de euros.
Esta segunda-feira, Júlio Abelho, director-executivo da área de microalgas, apresentou alguns dos projectos em curso, o mais recente dos quais é o Algavalor. O objectivo é a produção de microalgas para alimentação, cosmética, alimentação animal e biofertilizantes. Mas usando para isso tecnologias amigas do ambiente.
Segundo explicou o responsável, pretende-se aferir a viabilidade, técnica, económica e ao nível da qualidade do produto final, do sequestro de CO2 nas culturas de microalgas, com a introdução dos gases de emissão numa terceira fase.
O projecto vai ser desenvolvido por um consórcio liderado pela Secil (que irá investir quatro milhões de euros) e que integra outras 20 entidades, entre empresas e instituições de ensino superior (o Politécnico de Leiria é uma delas).
No total, o projecto, que terá apoios públicos, implica um investimento de 10,7 milhões de euros e o Governo já aprovou a minuta do contrato. Considera-se que o Algavalor “contribui directamente para o aumento do volume de despesas em I&DT (inovação e desenvolvimento tecnológico) do sector empresarial, prevendo-se, por parte das empresas que integram o consórcio, um investimento em I&D (investigação e desenvolvimento) de 4,8 milhões de euros no ano pós-projecto”, com particular destaque para a líder do consórcio.
O projecto Algavalor “deverá contribuir para reforçar a competitividade internacional das empresas que o integram e permitir-lhes entrar em novos mercados”, considera o governo, adiantando que à Secil trará um “aumento significativo da sua capacidade produtiva”, o que lhe permitirá “comercializar biomassa a preços muito mais competitivos, mantendo a qualidade premium que a diferencia e possibilitando o aumento significativo da sua quota nos mercados e segmentos em que está presente e o acesso a novos mercados”.
Em declarações ao JORNAL DE LEIRIA, Júlio Abelho explicou que o complexo Algafarm é “das poucas unidades no mundo que produzem microalgas em fermentação”. Adiantou que os produtos que a Allmicroalgae produz começaram a chegar ao mercado com alguma expressão no ano passado, e que nesse período a facturação atingiu os 500 mil euros.
“Este ano queremos atingir um milhão de euros”. O complexo assegura 35 postos de trabalho, “a maioria qualificados”, e uma forte ligação às instituições de ensino superior.
Depois deste responsável ter apontado a “escassez de regulamentação” como um dos “principais aspectos negativos” com que se debate a empresa, a ministra do Mar disse que o governo irá “trabalhar no sentido de criar melhor regulamentação para proteger e incentivar este tipo de investigação e de indústria”.
[LER_MAIS] Este projecto é “um exemplo de que em Portugal também temos já neste momento, quer na fase de investigação quer numa fase de produção industrial, soluções que são inovadoras a nível mundial”, considerou Ana Paula Vitorino, lembrando que é “um dos que contribuíram para que, em dois anos, o peso da economia do mar tenha subido de 2,5% para mais de 4%” do Produto Interno Bruto.
Para a governante, os projectos desenvolvidos pela Allmicroalgae mostram ainda que “quando aliamos investigação científica à indústria sai sempre melhor resultado do que quando cada um trabalha sozinho”.
“Estes bons exemplos podem oferecer às gerações mais novas outros leques de oportunidades para trabalhar em áreas que há dez anos não estariam no nosso radar”.
Chlorella em pó e em crackers
Do complexo Algarfarm, localizado em Pataias, estão já a sair vários produtos, destinados em mais de 90% à exportação, disse ao JORNAL DE LEIRIA Júlio Abelho. Um desses produtos são os crackers vegan à base de Chlorella. Outros exemplos, na área dos suplementos alimentares, são a Chlorella Vulgaris em pó, os comprimidos e as cápsulas de Chlorella, entre outros.
Da unidade saem também produtos à base de Nannochloropsis, destinados ao uso em maternidades. Além da alimentação humana, as microalgas têm aplicação em extractos funcionais, cosméticos, rações (nomeadamente para peixes), fertilizantes, bioplásticos, bioquímicos e biocombustíveis, segundo informações da Allmicroalgae, que explica que as microalgas apresentam um produtividade maior do que qualquer outra fonte vegetal de nutrientes.