“Valorização” é a palavra-chave do projecto de produção de biometano, a partir de efluentes suinícolas e avícolas, a desenvolver na freguesia de Amor, concelho de Leiria, e que prevê um investimento de 25 milhões de euros, totalmente privado.
Promovido pela Genia Bioenergy, empresa espanhola especializada em descarbonização, o projecto tem associados suinicultores responsáveis por “mais 90% do efluente suinícola produzido da região”, representados pela Ambilis. O contrato entre as partes foi assinado esta terça-feira e a expectativa é que a unidade comece a funcionar no primeiro trimestre de 2025.
De acordo com o projecto apresentado, a unidade, a instalar num terreno com 11,6 hectares, irá produzir 107 GwH/ano e terá capacidade para tratar anualmente 400 mil toneladas de efluente. Do processo de valorização, resultará ainda a produção de 300 mil toneladas de bio-fertilizantes, bem como o reaproveitamento de água – “mais de 90% do efluente é água” – para apoio ao combate aos fogos, para rega e uso nas explorações agro-pecuárias.
Segundo a apresentação feita pelos representantes da Genia Bioenergy, está ainda prevista a criação de uma unidade de Investigação e Desenvolvimento (I&D), à qual se deverá associar o Politécnico de Leiria e outras instituições de ensino, que trabalhará, por exemplo, no desenvolvimento de “novos e melhores fertilizantes orgânicos”.
O projecto contemplará também a instalação de um posto de combustível bioGLN. De acordo com os promotores, a unidade conseguirá produzir biogás suficiente para suprir “35% das necessidades de gás” do concelho de Leiria e contribuirá para uma redução de emissões de CO2 (dióxido de carbono) na ordem das 300 mil toneladas por ano.
“Este projecto vai ser uma referência internacional”, prometeu Gabriel Butler, CEO da Genia Bioenergy, que acredita que este será “um vector de mudança, que aportará valor a todos os sectores da cadeia”, contribuindo para a sua “competitividade”, mas também para responder aos desafios das emergências energética e climática.
Na mesma linha, foram as declarações do presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes, feitas na apresentação do projecto, manifestando-se convicto que este investimento “dará um contributo para a melhoria da qualidade ambiental” da bacia hidrográfica do Lis, permitindo resolver um problema “crónico” na região.
Considerando que este “é o primeiro passo para a criação de um cluster de energia renovável” neste território, o autarca destaca ainda o “nível de compromisso” agora alcançado e que “nunca” foi atingido no passado, o que, no seu entender, dá garantias de que o projecto será para concretizar.
“O sector acredita neste projecto”, afirmou, por seu lado, David Neves, presidente da Ambilis e da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores, frisando que “mais de 90% do efluente produzido na região está integrado no projecto com compromisso escrito”, através do contrato agora assinado.
“Hoje [terça-feira] é um dia importante para o sector da suinicultura, para a região e para o País”, reforçou o dirigente, para quem o protocolo agora assinado com Genia Bioenergy, que vai investir, gerir e explorar unidade de biometano, “é um passo que o sector dá no caminho da sustentabilidade”, não só do ponto de vista ambiental, mas também económica e social.
Alargar solução ao País
Já o vereador do Ambiente, Luís Lopes, destaca a mudança de paradigma associada ao projecto, que “deixa de olhar para o efluente como um resíduo”, e passa a encará- -lo como matéria-prima que é valorizável”. “É um projecto inovador não só na lógica da tecnologia, mas também porque assenta na valorização de recursos, abandonando, sempre que possível, o conceito de resíduo”, salienta.
O autarca, que tutela o pelouro do Ambiente, conta que o projecto agora apresentado resulta de um trabalho desenvolvido nos “últimos dois anos na procura de soluções” para os efluentes agro-pecuários, que incluiu visitas a unidades do género já a funcionar no estrangeiro.
Segundo David Neves, “a Genia convenceu porque tem trabalho feito, kow how”, possui unidades já a funcionar e “apresentou-se não para vender uma tecnologia, mas para investir, gerir e explorar o projecto”.
Presente na sessão, o secretário de Estado da Agricultura, Gonçalo Rodrigues, revelou que há a intenção de “generalizar” ao País a solução agora encontrada na região de Leiria.
Projecto no Coimbrão em fase de licenciamento
Este é o segundo projecto para a produção de biometano a partir de efluentes agro-pecuários em Leiria. O outro é promovido pela Biojoule, empresa que integra a Molgás, multinacional espanhola ligada ao gás natural com presença em Leiria, que prevê instalar uma unidade no junto à ETAR do Coimbrão, Leiria, um investimento inicial de sete milhões de euros, apoiado em 2,7 ME pelo PRR. Segundo os promotores, o projecto está em fase de licenciamento.