O Vaticano anunciou, esta manhã, a aprovação, por parte do Papa Francisco, do decreto que reconhece as virtudes heróicas da Irmã Lúcia de Jesus, uma das três videntes de Fátima. Esta decisão abre caminho à beatificação da mais velha dos três pastorinhos.
Em comunicado, o Santuário de Fátima informa que a aprovação da publicação do decreto aconteceu após uma audiência concedida ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos (Santa Sé). “Este é um passo central no processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade”, salienta aquela nota.
No Santuário, a notícia foi assinalada com o toque a repique dos sinos, em sinal festivo pela “alegria deste momento” como referiu o reitor, padre Carlos Cabecinhas, que presidiu a uma oração espontânea na Capelinha das Aparições, na qual participaram funcionários, voluntários e peregrinos não apresenta momento.
Falta agora ser divulgado o decreto com as virtudes herocas da Irmã Lúcia, que, segundo o Santuário, deverá ser lido na presença do bispo de Coimbra, que chancelou o processo na sua fase diocesana, “em data oportuna”.
A aprovação do decreto de outubro aconteceu meses depois da entrega no Vaticano do documento sobre as virtudes heróicas da religiosa, que teve lugar em do ano passado, no âmbito do processo de beatificação e canonização da religiosa.
Além da biografia da Irmã Lúcia, esse volume “descreve as virtudes vividas pela religiosa” bem como o elenco dos depoimentos das testemunhas, o seu diário e outros documentos inéditos, “considerados relevantes no processo”. Nos últimos meses, o documento passou por um processo de análise, a cargo de “um conjunto de nove teólogos que emitiam o seu parecer favorável sobre a prática das virtudes em grau heróico”
“O parecer positivo do Dicastério para as Causas dos Santos foi apresentado ao Papa, que passou a ser designado como venerável”.
Figura “marcante”, discreta” e “humilde”
Para o bispo de Leiria-Fátima o reconhecimento das virtudes de Lúcia de Jesus é uma “alegria” para todos os que “amam Fátima e se deixam inspirar pela presença de Maria”. “Primeiro porque os pastorinhos não ficariam completos sem Lúcia, mas sobretudo porque foi ela que deu a conhecer as memórias de todo o acontecimento de Fátima”, diz D. José Ornelas que, em declarações à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, fala da religiosa como “exemplo do efeito da mensagem de Fátima junto de quem se aproxima dela, numa vida entregue a Deus”
“Foi uma figura marcante no século XX português, uma figura marcante na Igreja apesar da sua vida discreta”, acrescenta o reitor Carlos Cabecinhas, que considera que o reconhecimento da Irmã Lúcia como venerável é, para a instituição que dirige, um motivo de “alegria carregada de responsabilidade”.
“É o reconhecimento de Fátima como escola de santidade e a mensagem de Fátima como um caminho de comunhão com Deus e é isso que vemos espelhado na vida da irmã Lúcia, o que nos responsabiliza para melhor dar a conhecer a vida da Irmã Lúcia” afirma o sacerdote, citado no comunicado do Santuário.
Por seu lado, o cardeal D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima e agora membro do Dicastério para as Causas dos Santo, realça a forma “discreta e humilde” como Lúcia viveu o seu amor a Deus, a Nossa Senhora, à Igreja e a toda a humanidade.
“Ela viveu toda esta dimensão e espiritualidade de forma discreta e humilde, procurando a verdade e não a notoriedade, sempre escondida, mas sempre presente a todos”, salienta o cardeal, sublinhando que “esta sua espiritualidade, santidade e virtudes são muito humanas”. “Ela não era uma extraterrestre, não vivia fora da nossa órbita; foi humana e muito feminina, uma mulher inteligente e perspicaz, desembaraçada e solidária, cheia de alegria e humor contagiante como testemunham as irmãs do Carmelo”, destaca D. António Marto, citado pela sala de imprensa do Santuário de Fátima.
O bispo emérito frisa ainda que, apesar de ter vivido em clausura, Lúcia de Jesus “não estava alheia à vivência e aos problemas quer da Igreja, quer do mundo”, que estava mergulhado “no inferno de duas guerras e uma Igreja altamente perseguida, vítima de um ateísmo militante”. “Ela foi portadora de uma mensagem que transmitiu à Igreja e ao Mundo, mas que ela interiorizou profundamente na sua espiritualidade. Uma mensagem de misericórdia, de esperança e de paz para o mundo”, afirma D. António Marto.
Já Ângela Coelho, vice-postuladora da Causa de Beatificação e Canonização da Irmã Lúcia, refere-se à vidente como “uma figura universal”, que “pode ser uma fonte inspiradora para tantos de nós que caminhamos em busca do Senhor, que passamos por momentos difíceis, por momentos confusos”.
Sobre a decisão Papal agora anunciada, Ângela Coelho fala de um momento “importante e alegre”.
De Fátima à clausura
Lúcia de Jesus nasceu em 1907, em Fátima, e tinha dez aos quando terá presenciado as Aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria, juntamente com os primos Francisco e Jacinta. Em 1925, ingressou no Instituto das Irmãs de Santa Doroteia em 1925, onde permaneceu até 1948.
Nessa data, recolheu ao Convento do Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, onde ficou até à sua morte, em Fevereiro de 2005. Tinha 97 anos e o seu falecimento foi assinalado com um dia de luto nacional, justificado por ser uma “figura ímpar da Igreja e do século XX portugueses”. Os seus restos encontram-se sepultados na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima.