Nem os muros de pedra parecem resistir à proliferação de javalis no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC). A par dos ataques às culturas agrícolas, com prejuízos para os pequenos produtores, os animais estão também a deitar abaixo os muros que dividem as propriedades e que são uma das imagens de marca desta área protegida.
Autarcas e agricultores pedem a intervenção das entidades que tutelam o parque natural, nomeadamente através da autorização de batidas para “controlo” da população de javalis.
“Por onde passam, destroem tudo. É uma autêntica lavoura”, desabafa Francisco Baptista, presidente da União de Freguesias de Arrimal e Mendiga, no concelho de Porto de Mós, apontando para os estragos provocados pelos javalis nos muros junto a uma das estradas que liga Arrimal ao alto da serra.
O autarca conta que recentemente foi alertado por um morador para a existência de pedras caídas para a estrada. Neste caso, a junta interveio, mas “é difícil chegar a todo lado”, alega.
Além das questões de segurança, está também em causa a destruição de “algo que é património do parque natural”, salienta, por seu lado, Carlos Cordeiro, presidente da Junta de Serro Ventoso, frisando que os proprietários têm dificuldade em repor os muros, pelo que, “muitos deixam ficar como está”.
Também no concelho de Alcobaça, há registo de muros derrubados pelos javalis, nomeadamente na zona de Moleanos em estradas próximas Muros que dividem as propriedades são uma das marcas do PNSAC DR do IC2.
“São construções que não têm muita resistência, pelas suas características construtivas [sem cimento a juntar as pedras]. As pessoas nem sempre têm condições para repor e as juntas também não”, reconhece António Azeitona, presidente da Junta de Évora de Alcobaça, dando conta de avistamentos de javalis no sopé da serra já perto do IC2.
“Plantamos e eles destroem. Arranjamos os muros e eles deitam abaixo. É desanimador. Já há quem tenha desistido”, diz José Santos, que tem pequenas propriedades na zona da serra, em Porto de Mós. O agricultor explica que os javalis passam o dia no mato e atacam as culturas à noite, em grupo ou isolados, “ cada vez mais próximo das casas, como se fosse tudo deles”.
Presidente da União de Agricultores do Distrito de Leiria, António Ferraria fala de um crescimento “descontrolado” da população de javalis, com prejuízos “avultados” pela destruição de “culturas agrícolas” e “deitando abaixo os muros que dividem as propriedades onde procuram de caracóis para comer”.
Considerando que a “sobre-população de javalis é uma grande preocupação” no concelho, o presidente da Câmara de Porto de Mós, revela que o vice-presidente do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) lhe transmitiu, no início desta semana, que a instituição “irá autorizar batidas ao javali dentro da área do parque e durante a época de venatória [de caça]”.
ICNF “atento”
Ao JORNAL DE LEIRIA , o ICNF garante que está “atento” à evolução das populações de animais selvagens”, como é o caso do javalis, “em particular nas áreas protegidas”. Reconhecendo que “a única opção viável para o controlo da densidade de javalis é através da caça”, actividade que em parque naturais está sujeita a condicionantes acrescidas, o instituto admite a adopção de “medidas de correcção extraordinárias”, com autorizações específicas para a realização de acções de controlo da “população de javalis”. Segundo este organismo, está em vigor um edital que autoriza batidas, a realizar por entidades gestoras de zonas de caça até ao final deste mês, mediante pedido feito junto do ICNF. Em circunstâncias normais a caça ao javali, por batida ou montaria, só é permitira de Outubro a Fevereiro