Começaram a treinar juntos há cerca de um ano e recentemente embarcaram na aventura das competições. Brincam ao dizer que aproveitam a desculpa do Jiu-jitsu para as típicas lutas de irmãos, com ela a gabar-se que pode aproveitar para se vingar um pouco nos combates e ele a garantir que não abre espaço a facilitismos senão perde nas finalizações.
Raquel e Ricardo Estrela têm 23 e 29 anos, nasceram na Gândara dos Olivais, em Leiria, são irmãos e encontraram na arte marcial de defesa pessoal “uma forma de controlar a ansiedade e aumentar a confiança”.
“A confiança ganhei-a aqui, treino após treino e com a família que acabou por se criar”, confidencia Ricardo que concilia o seu trabalho e os estudos da irmã com os horários dos treinos.
Ambos na faixa branca, num sistema de níveis com cinco cores, são separados nas competições oficiais pelo peso e pelas categorias, ela na de adulto e ele na de master.
De sorriso fácil e meio envergonhado, Raquel conta que nesta modalidade se sente “mais segura até para andar na rua à noite” e acrescenta orgulhosa que conquistou a primeira medalha de bronze no último fim-de-semana, na competição internacional ‘APJ’ em Barcelona, Espanha, de onde o irmão também trouxe uma medalha igual.
“A primeira luta perdi por estar com muita ansiedade, mas na segunda luta já me consegui abstrair e trabalhar melhor para vencer”, detalha, feliz “pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido e pela confiança ganha” para a próxima competição, a realizar-se na próxima semana em Lisboa.
Uma vitória numa luta que começou… com o amor.
“Acompanhava sempre o meu namorado nos treinos e quando ele tirou o curso de treinador decidi apoiar e começar a fazer as aulas dele e o meu irmão também quis experimentar”, explica Raquel.
O namorado é Vítor Hugo, de 26 anos, brasileiro e naturalizado português, que vive há quatro anos em Leiria e pratica Jiu-jitsu brasileiro desde os 9 anos.
Há uns meses perseguiu o sonho de ter uma academia e começou a primeira turma com a namorada e o cunhado na garagem. Agora, com um novo espaço amplo que abriu há nove meses já ensina cerca de meia centena de atletas em turmas de criança e adultos.
Para ele esta é, sem dúvida, uma das melhores modalidades do mundo onde “é possível uma pessoa mais fraca conseguir enfrentar alguém mais forte e pesado”.
“Há quem diga que é um xadrez humano porque é uma guerra em que se pensa no que o adversário vai fazer e é preciso antecipar, ter raciocínio rápido, reflexos e automatização dos movimentos”, explica, garantindo que “não é violento nem requer muita força, é apenas preciso ter técnica e muito auto-conhecimento”.
A grande diferença face ao Jiu-jitsu tradicional, de origem japonesa, é o desenvolvimento da luta no chão.
“Ao contrário das outras artes, há a possibilidade de a pessoa que está por baixo, com as costas no chão, ter diversidades técnicas e posições, de fazer submissões e cada um tem o seu jogo”, detalha o treinador com certificado oficial.
“Além disso a modalidade tradicional ainda faz treino com socos e pontapés e aqui já não se faz, temos projecções como no judo, a luta começa em pé e depois desenvolve-se no chão onde há o sistema de pontuação e as finalizações”, acrescenta sobre os combates que terminam com três toques, ou ‘tapinhas’ como diz Vítor entre risos.
Under Pressure
Pandemia deu empurrão à academia
As restrições impostas devido à pandemia levaram ao encerramento dos ginásios onde dava aulas e mesmo o alívio de medidas traduziu-se em menos horários e treinos sem contacto. As dificuldades poderiam ter ditado o fim mas acabaram por se tornar na maior força para Vítor Hugo seguir o seu sonho de abrir um espaço próprio.
A academia de Jiu-jitsu brasileiro Under Pressure nasceu há nove meses, numa paralela à avenida Marquês de Pombal, em Leiria, e já conta com 50 alunos dos quatro aos quarenta anos. “O Jiu-jitsu brasileiro está a começar a ser muito difundido na Europa, Portugal é o único País onde há um certificado profissional de treinador e em Leiria está a crescer e já há algumas academias que até treinam em conjunto, apesar de ainda não ser muito conhecido e haver preconceitos”, assume o treinador.