Ao fim de 13 anos a interpretar covers, porquê o primeiro álbum de originais?
Sempre o quis fazer mas nunca tive essa coragem. E, na altura, estava preocupado com o que queriam ouvir e não com o que eu queria transmitir. Mas mais vale tarde, que nunca.
Há algum episódio na história de vida que tenha servido de gatilho para este momento criativo?
Sem dúvida alguma que o nascimento da minha filha há dois anos atrás foi o factor decisivo para achar que devia abrir a gaveta dos rascunhos e partilhá-los. Entrar no carro e ouvi-la pedir a minha música faz com que sinta que valeu a pena cada segundo a fazer este trabalho.
É mais difícil para alguém que passa tanto tempo com canções de outros encontrar o registo adequado para se expressar em nome próprio?
Talvez seja, sim. As influências e referências são impossíveis de ignorar. Todos nós as temos. E, por um lado, a estrada de bares traz-nos alguns vícios técnicos que poderão ser, ou não, bons. Por outro, acho importante ter noção disso e filtrar para os originais apenas as coisas positivas que os covers nos trazem.
No disco participam vários músicos convidados. Vão estar também no concerto de apresentação, dia 28 de Fevereiro, no Teatro Miguel Franco?
Este disco contém muitas participações de grandes músicos e amigos. Conta com um grande trabalho técnico e de co-produção do leiriense Rui Calças e de vários teclistas, bateristas, violinistas, metais… Somos sete músicos em palco. Não vão estar todas as pessoas que participaram no álbum mas vão estar algumas. O concerto vai ter um ambiente muito intimista. As pessoas vão assistir a um espectáculo e não apenas a um concerto.
De onde vêm as influências de folk, música celta e americana?
Em grande parte, é culpa do meu pai. Sempre tivemos em casa muita música deste género e com seis anos de idade o ultimato seria fazer os trabalhos de casa se, ao mesmo tempo, pudesse ouvir o disco dos Creedence Clearwater Revival. Aos 12 anos pedi-lhe para me levar à Irlanda e não à Eurodisney. Viajar sempre foi o meu maior vício e ter vivido lá fora fez com que alargasse os meus horizontes musicais e que me apaixonasse ainda mais por este estilo.
Diz que se sente melhor no palco do que em qualquer outro lugar.
Sempre fui uma pessoa muito tímida. No palco sinto uma protecção e uma segurança inexplicáveis. Fecho os olhos e deixo-me levar. Muitas das vezes evito fazer intervalo nas minhas actuações porque nem sei para onde ir, o que fazer e a quem falar. Não imagino estar muito tempo sem luzes, palmas e todo aquele nervosismo contagiante que o palco nos traz.
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E se não estiver em palco, onde é que prefere estar?
Em casa com a minha família. Passo imenso tempo no meu estúdio a trabalhar mas faço o possível para conseguir passar o maior tempo possível com a minha família. Mas se estivesse agora em Bali, também não estaria mal.
É inevitável perguntar: música e representação, são dois amores ou há um de que gosta mais?
Já devia estar preparado para esta pergunta e não estou mas… a música é talvez a minha escolha. Nunca abdicaria do curso de representação que tirei e de todas as vezes que subi ao palco para representar, isso trouxe-me um background artístico muito forte. Para trabalhar como actor teria de abdicar de viver aqui e isso não ajuda muito. Adoro a nossa cidade.
São muitas noites e histórias fora de casa.
Acho que teríamos de marcar outra entrevista só para as contar mas… esquecendo as grandes “personagens” que se encontram por aí na noite tenho um episódio que aconteceu há alguns anos na Recepção ao Caloiro da Guarda. Tinha um projecto de folk na altura com o Paulo Mouta Pereira, Nuno Simões, André Moinho e nesse dia convidámos o Carlos Moisés e a Dalila Marques dos Quinta do Bill. Era uma bela noite de graus negativos, de tal maneira que os restaurantes estavam fechados porque a água canalizada tinha congelado. O espectáculo correu muito bem, não fosse o público no final chamar nomes às nossas mães. Aqueles nomes que não se podem dizer numa entrevista de jornal. Achámos uma situação constrangedora até porque tínhamos a noção de ter feito um bom trabalho. Bendita a pessoa que nos informou que na Guarda, é a maneira que têm de demonstrar que adoraram o espectáculo. A gripe que apanhei por me terem roubado o casaco do camarim também ajuda a recordar-me desta história.
Home, editado no final do ano, é o álbum de estreia de João Leiria, nome artístico de quem decidiu prestar homenagem ao distrito onde nasceu e ao concelho em que reside. O espectáculo de apresentação do primeiro disco de originais do músico nascido na Marinha Grande há 35 anos, acontece a 28 de Fevereiro, no Teatro Miguel Franco, precisamente em Leiria. Com a promessa de muita interactividade e seis músicos a acompanhá-lo (André Moinho, José Carlos Duarte, Francisco Vala, André Mendes, Diogo Pedro e Rúben da Luz). Em palco, João Leiria começou pelo teatro, em 2001, com duas peças no Teatro Experimental de Cascais (TEC), depois de frequentar a Escola Profissional de Teatro de Cascais. Também fez televisão, com aparições nas séries Morangos com Açúcar (2005) e Podia Acabar o Mundo (2008). Habituado a tocar covers em bares por todo o país, a solo ou com o projecto João Leiria & Friends, lança-se agora num registo na primeira pessoa, com influências de Creedence Clearwater Revival, banda que ouvia com o pai, na infância, ou dos Mumford & Sons e de cantores como Leonard Cohen, Johnny Cash, Dave Matthews e Ben Harper. A estética folk, celta e americana atravessa as 10 faixas de Home.