O Vilafranquense garantiu a subida à 2.ª Liga. A troca a meio da época valeu a pena?
Agora é fácil falar, porque o destino quis que o Vilafranquense subisse. Tinha outras propostas e decidi pelo Vilafranquense, porque desde o primeiro minuto que me queriam muito. Era um clube que também tinha dificuldades, mas era uma família e um grupo muito coeso. Foi o que fez a diferença para subir de divisão.
A saída de Leiria teve a ver com salários em atraso, mas foi encontrar o mesmo problema em Vila Franca…
É triste e pouco digno para o futebol duas equipas que foram à meia-final do play off sofrerem de salários em atraso. Afecta-nos a nós, assim como às nossas famílias. Veja-se os jogadores que têm filhos, que dependem do seu salário para sustentar a família. É muito triste. Quando fui para o Vilafranquense prometeram-me mundos e fundos e também fui um boc ado enganado. Fui ingénuo. Naquele momento queria dar um novo r umo à minha vida e ac reditei em certas pessoas que depois me falharam com os compromissos. Tivemos quase três meses sem receber. Mas isso tornou- -nos mais fortes e mais solidários. Se alguém chorava no balneário, eu chorava pela tristeza dele. Essa união permitiu "destruir" qualquer equipa.
Em Leiria, a equipa também não deixou de ganhar.
A qualidade individual é muito grande. A vinda do novo treinador, ajudou bastante. Senti que o treinador Filipe teve um grande cunho nesta União, o que fez com que fossem ao play off e estivessem sem perder. Infelizmente, voltaram a não perder no play off e não conseguiram a subida. Mas é muito difícil gerir as dificuldades financeiras, porque os jogadores deixam de ter dinheiro para coisas mesmo básicas, como pagar a conta da luz ou da água. Como sou de Leiria, a minha família ajudava-me se precisasse, mas jogadores que vieram do Brasil ou do continente africano, estão aqui sozinhos. As pessoas pensam que os salários são muito grandes e não são. As suas condições eram precárias. Tentei ajudar no que eu podia, mas havia situações muito delicadas.
Como foi marcar um golo e ajudar a eliminar a equipa que contribuiu para a sua formação?
Não consegui festejar. Tive noção que foi um momento de inspiraç ão. Se tentar aquele lance mais cem mil vezes talvez não consiga. O destino quis que fosse contra o Leiria. É um misto de emoções, porque enquanto profissional queria que o Vilafranquense passasse, mas custou-me bastante prejudicar o clube do meu coração. Sei que as pessoas lutaram desde o primeiro dia de treino, onde estive inserido, até ao último para o objectivo e não conseguiram. E, no fundo, o meu golo foi muito decisivo, porque balançou a eliminatória um bocado para o nosso lado.
Como foi a reacção dos antigos colegas?
Tenho amigos para a vida na União. Quando eliminámos o Vizela e eles [UDL] o Lourosa fizemos um "pacto" de não falar sobre futebol nessas duas semanas. Quando eliminámos a União eles começ ram a brincar comigo: ‘o que é que foste fazer, nem rematas de fora da área e foste rematar quase de meio-campo’.
Subiram à 2.ª Liga as duas equipas que ficaram em segundo lugar na prova regular. Concorda com a organização do Campeonato Nacional de Seniores (CNS)?
É um modelo da Idade Média e não premeia a regularidade. Depois o play off tem umas características muito específic as. Havia jogos onde o [LER_MAIS] plano era só fazer golos. É muito injusto ver equipas fortes, bem organizadas, com todas as condições e num jogo menos bem conseguido, ou num momento de inspiração de outro jogador, acaba a época. Aconteceu com o Leiria e com o Vizela. Ficámos em segundo lugar e andámos cerc a de seis jornadas com um ponto de diferença do terceiro e tínhamos obrigatoriamente de ganhar. Se calhar, foi essa pressão e ritmo competitivo que nos fez crescer e atingir o objectivo. Fomos justos vencedores, mas este modelo competitivo é muito fraco. É mais difícil subir neste campeonato do que da 2.ª para a 1.ª Liga.
Como leiriense entristece-o que a UDL tarde em subir ao escalão profissional?
Sinceramente, parece bruxedo. No ano passado sofri na pele uma coisa de que não estava à espera: um estádio cheio, o meu clube do coração, a ganhar 1-0 e depois um golo sem jeito nenhum afastou-nos da subida. Gostava muito de ver o Leiria na 1.ª Liga outra vez. Tem todas as condições. Estando a jogar em Vila Franca de Xira ou até noutro país, estarei sempre a torcer pelo Leiria. Foi o clube que me fez crescer enquanto jogador e enquanto pessoa e irá estar sempre no meu coraç ão. O que mais desejo é que consigam passar este CNS o mais depressa possível. Para o ano sou 200% do Leiria.
Parece a maldição Béla Guttman. É a maldição Bartolomeu?
Já ouvi isso, mas não acredito. São pormenores que têm feito a diferença. Não acredito muito no azar, mas acho que o Leiria tem tido um azar tremendo em não conseguir subir aos campeonatos profissionais. Pelo menos há três anos que o merece. Oxalá construam um plantel competitivo e que consigam para o ano.
O seu futuro passa pelo Vilafranquense?
Ainda não sei. S ei que há interesse em que continue. Houve já uma primeira abordagem, mas temos de nos reunir para ver se chegamos a acordo ou não. O meu objectivo é competir nas ligas profissionais, um campeonato ideal para as minhas características. Seja no Vilafranquense ou noutro clube, estar na 2.ª Liga é o salto ideal.