Ao entrarmos no balneário da equipa sénior de futebol do Grupo Recreativo Amigos da Paz (GRAP) não podemos deixar de nos fixar num nome. Nos cabides destinados aos jogadores, entre um Mocheco, um Boris, um Lomba, um Aliú Camara e um Lagoa, há um… Postiga.
Isso mesmo! O antigo avançado do Sporting e do FC Porto está numa pré-reforma milionária nos indianos do Atlético de Kolkata e não acreditamos que alguma vez vá vestir a camisola amarela do clube dos Pousos.
Assim sendo, o que faz, no campo da Charneca, um Postiga, que veste o número 12 e usa uma camisola de guarda-redes? Acima de tudo, dá e recebe muito amor.
Jorge Marques. É este o nome do rapaz a quem foi colocada a alcunha. De dia é segurança no Centro Comercial D. Dinis, à noite e aos fins-de-semana transforma-se em Postiga, o mais acarinhado membro do grupo de trabalho do GRAP.
Às terças, quintas e sextas, depois de largar o batente, apanha o Mobilis rumo à sua casa no Vidigal, pega na mochila, entra noutro autocarro para os Pousos e vai treinar. Já é assim há 12 anos, desde que começou a treinar no clube por influência de Patrick, um antigo atleta do clube e seu vizinho.
No passado domingo, passavam 15 minutos das 13 horas quando Jorge Postiga chegou ao campo da Charneca à boleia de um colega de equipa. Faltavam pouco menos de duas horas para o jogo entre o clube do coração e a Associação Espeleológica de Óbidos. Foi naquele domingo, como é sempre.
Não falta a um treino, não falta a um jogo, seja em casa ou fora. “Ele não vive isto como fazendo parte da equipa. Ele faz parte da equipa e todos os anos assina uma ficha de contrato”, salienta Rui Jorge, presidente do emblema dos Pousos.
“Criou-se uma união no balneário em torno do Jorge que é algo inimaginável. Ele vive o GRAP a sério. Tem equipamento como os outros, tem o cesto para os jogos em casa e fora como os outros, e a lista integra sempre os 18 convocados mais o nome do Postiga.
Ele tem sempre de assinar a ficha”, diz José Manuel Pereira, membro da Direcção do clube dos Pousos. “É para ele um dos maiores prazeres, ver lá o seu nome. Leva isto muito a sério e se faltar a um treino avisa sempre, se chega atrasado justifica sempre”, conta o treinador, Carlos Tocha.
Postiga faz questão de treinar sempre com a equipa. Pode fazê-lo em duas posições: como ponta-de-lança ou como guarda-redes. Prefere a segunda opção porque “é mais parado”, admite ao JORNAL DE LEIRIA.
“No GRAP tratam-me bem, brincam comigo como eu brinco com eles. É pessoal porreiro”, faz questão de explicar Postiga, um ex-sportinguista que mudou para o Benfica “quando foi campeão” e que aprecia as qualidades goleadoras de Jonas e as defesas impossíveis de Éderson.
“As brincadeiras são sempre dentro do respeito máximo que ele merece. Ele gosta muito de participar nos 'meínhos' e o pessoal deixa-o brilhar sempre”, conta Carlos Tocha que é, de resto, “como um irmão”, segundo as palavras de Postiga.
“É verdade! Já conheço o Jorge há 9 anos e nutro um carinho muito especial por ele. Já foi algumas vezes jantar a minha casa, conviver comigo, com a minha esposa e o meu filho, é uma pessoa que preso e respeito muito”, sublinha o técnico.
Mas não se pense que a ligação do Jorge ao GRAP é meramente afectiva. Ele trabalha e trabalha bem. “Está sempre disponível para qualquer coisa. Ajuda na colocação e recolha dos materiais e gosta de poder participar no treino. Tem um papel activo dentro do grupo e nós tentamos dar-lhe esse prazer sempre que possível”, avança Carlos Tocha.
Além de treinar com a equipa, nos dias de jogos faz o aquecimento juntamente com os guarda-redes sob a orientação de… Zenga, o técnico responsável por esse posto específico.
Depois, ainda equipado, sobe à bancada para fazer a estatística do jogo. Remates, cartões, golos, “se os sócios quiserem saber o tempo de jogo perguntam ao Postiga”, diz José Manuel Pereira.
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