O recrutamento começa logo no ensino secundário, em simultâneo com a luta pela influência nas associações de estudantes. Não há combate entre juventudes partidárias sem contagem de espingardas na escola. É o laboratório onde as jotas arriscam as primeiras batalhas e o viveiro que ajuda a renovar a militância. Às claras ou na clandestinidade, as iniciativas repetem-se em cada ano lectivo, com objectivos políticos e estratégicos: cativar os melhores, afirmar a ideologia, condicionar decisões.
Oficialmente, as juventudes partidárias negam a vontade de controlar as associações de estudantes. Mas os currículos dos dirigentes mostram caminhos que se cruzam, não raras vezes. "É normal, havendo militantes da JS, por exemplo, numa lista de uma escola secundária, que esses militantes façam o trabalho junto à liderança dessas listas, façam o convite, porque são pessoas da sua relação e são pessoas que se destacam", afirma Diogo Cruz, ele próprio militante da JS quando se tornou presidente da associação de estudantes da Domingos Sequeira, anos antes de assumir a liderança da federação distrital de Leiria da Juventude Socialista. Tudo passado. O presente é o cargo de assessor do vereador Gonçalo Lopes na Câmara Municipal de Leiria.
As associações de estudantes significam poder, mesmo que apenas um poderzinho. E, sobretudo, amplificam a voz de quem as dirige. "As jotas têm o objectivo de espalharem a mensagem o mais facilmente possível e ao maior número de pessoas possível e chegarem às associações de estudantes é uma forma de o fazer", reconhece Diogo Cruz. "Não concordo com a ideia de ter as associações de estudantes para as controlar. Isso sempre foi algo contra o qual me bati".
[LER_MAIS]
Boletins e jornais de parede. Na JCP, "a regra é que haja um grupo de estudantes que lute pela escola", explica Valter Cabral. Os colectivos de base, que também existem nas empresas. Autónomos, reúnem com frequência para debater temas da actualidade. E revelam-se "de importância extrema" para a JCP, porque é nos estabelecimentos de ensino que os comunistas mais jovens vão "agitando e organizando". O reforço da militância também se faz "à porta da escola e nas turmas", sublinha o coordenador regional de Leiria da JCP, que critica "a partidarização das associações de estudantes".
Com dezenas de militantes no distrito de Leiria, e alguns núcleos históricos no concelho da Marinha Grande e na ESAD em Caldas da Rainha, a JCP acredita que "os comunistas têm o papel decisivo de alertar, consciencializar e puxar" pelas massas estudantis, o que acontece com boletins, páginas nas redes sociais e jornais de parede. Cada acção é uma oportunidade de recrutamento, porque vestem a camisola 24 sobre 24 horas, em qualquer lugar, nota Valter Cabral.
Jogos e palestras. Na JSD, as últimas eleições autárquicas, disputadas em Outubro, adiaram a já tradicional volta às escolas. O programa costuma envolver jogos interactivos ou palestras e assemelha-se ao formato da formação sub-18 dinamizada pelos laranjinhas, que também ocorre no secundário. "Ensinar alguma coisa de política e ao mesmo tempo cativar as pessoas, neste caso, para a JSD", resume Fábio Bernardino. "Quando reparamos que existe alguém que tem apetência para falar em público, ou por estar interessado nestes assuntos, tentamos sempre chamá-los para a JSD porque a estrutura só tem a ganhar com isso", diz o líder da concelhia de Leiria da Juventude Social-Democrata, que soma 250 militantes.
Qualquer que seja a ideologia, a capacidade de recrutamento das juventudes partidárias depende muito do exemplo familiar e de amigos. O resto passa-se nas escolas, onde todos os jotinhas declaram as melhores intenções. "Temos alguns militantes que já foram presidentes de associações de estudantes do secundário, mas não é critério nem nunca foi nosso objectivo entrar nas associações de estudantes", garante Fábio Bernardino.
Nas três escolas secundárias da cidade, eis o panorama: Bernardo Soares é o novo presidente da associação de estudantes da Afonso Lopes Vieira – com Diogo Antunes, da JS, como vice-presidente – e substitui Rita Coimbra, militante da JS. Na Rodrigues Lobo, Anjali Parekh acaba de suceder a Dário Seguro Joaquim, que é o secretário da concelhia de Leiria da Juventude Popular e foi candidato pelo CDS à Assembleia Municipal de Leiria. E na Domingos Sequeira, o presidente interino da JS em Leiria, Vitor Santos, corre actualmente pela conquista da associação de estudantes.