O Tribunal Judicial de Leiria começou hoje a julgar a menor que matou a irmã de 19 anos, no ano passado em Peniche. A arguida, agora com 17 anos, confessou hoje no Tribunal de Leiria que proferiu 30 golpes com uma faca, após ter sido ameaçada pela vítima com um pé de cabra.
A jovem está acusada pelo Ministério Público (MP) dos crimes de homicídio qualificado e profanação de cadáver, por causa de um telemóvel.
Na sessão de hoje, a arguida confessou que a irmã, que sofria de nanismo, lhe retirava várias vezes o telemóvel, porque não queria que falasse com rapazes na internet ou presencialmente.
Segundo contou, no dia 15 de Agosto de 2023, as duas irmãs encontravam-se sozinhas em casa, quando pegou no telefone fixo para encontrar o seu telemóvel, que a irmã havia escondido.
“Quando a minha irmã viu que estava a telefonar para o meu telemóvel ficou chateada. Foi ao quarto do pai buscar um pé de cabra para me ameaçar”, relatou, ao revelar que se recusou a dar o aparelho e foi ameaçada pela irmã: “ou soltas o telemóvel ou dou cabo de ti”.
A acusada dirigiu-se à cozinha para ir buscar uma faca e ambas avançaram uma para a outra.
A vítima levantou o pé de cabra para atingir a arguida, momento em que a menor desferiu o primeiro golpe no abdómen. “Foi tudo muito rápido. Dei-lhe 30 facadas”, confessou.
Sem conseguir explicar a razão por que continuou a desferir as facadas, apesar da irmã já se encontrar no chão e a sangrar, a arguida disse que percebeu que a irmã já não respirava. “Chamei por ela e não respondia e o coração não batia. Não queria acreditar que a tinha matado. Pensei em chamar ajuda, mas tive medo”, afirmou, com a voz embargada.
A menor acabou por esconder o corpo da irmã debaixo da cama durante três dias, relatando que depois a levou num carrinho de mão para um quintal, onde a enterrou.
Questionada pelo pai sobre a ausência da irmã, disse-lhe que estaria em Lisboa com o namorado.
A arguida confessou ainda que estava sempre sob supervisão da irmã, que dizia “às pessoas para se afastarem” dela, “porque não era boa pessoa”.
De acordo com a acusação, a que a agência Lusa teve acesso, as duas irmãs viviam com o pai e dele dependiam financeiramente, uma vez que a vítima estava desempregada.
Segundo o MP, o progenitor apresentava dependência do álcool, pelo que irmã mais velha “assumia uma posição de supervisão” sobre a mais nova, “vigiando e tentando reprimir contactos sexuais e amorosos via Internet”.
Em 15 de Agosto de 2023, a vítima começou a repreender a irmã mais nova por estar a trocar mensagens desse teor através da aplicação ‘Whatsapp’, começando ambas a discutir.
De acordo com a acusação, a arguida veio a munir-se de “provavelmente uma faca” e, aproveitando-se do facto de a irmã ser anã, atingiu-a “em diversas partes do corpo”, apesar de esta ainda ter fugido dentro de casa.
Depois, arrastou o corpo para o quarto, escondendo-o debaixo da cama.
Ao fim de três dias, enrolou-o num lençol, fazendo uma trouxa, e, com a ajuda de um carrinho de mão, transportou-o para um terreno nas traseiras da habitação, onde fez um buraco com uma pá e o enterrou.
Tendo em conta que as paredes e o chão da habitação se encontravam sujos de sangue, a agressora limpou esses vestígios, “nunca demonstrando o mais pequeno mal-estar ou arrependimento”.
A mãe veio a apresentar queixa à PSP do desaparecimento da irmã mais velha no dia 19 de agosto, uma vez que desconhecia o seu paradeiro desde o dia 15.
A Polícia Judiciária começou a investigar o caso, vindo a encontrar o corpo da vítima em 15 de setembro, um mês depois.
Na ocasião, em conferência de imprensa, o diretor da Polícia Judiciária de Leiria, Avelino Lima, indicou que a investigação conduziu os inspetores para o núcleo familiar e as diligências realizadas para a identificação de vestígios de natureza biológica.
O motivo da discussão e do crime, “à volta da posse de um telemóvel”, foi “completamente fútil”, sublinhou.
A jovem agressora veio a ser detida e ficou a aguardar julgamento em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Tires, no concelho de Cascais, no distrito de Lisboa.
A família estava sinalizada pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Peniche, mas não por maus-tratos.