Uma experiência “muito interessante” é como Nelson Ferreira está a encarar o seu mais recente desafio de responder a uma encomendada de 50 quadros que irão decorar o palácio de um príncipe saudita. Artista plástico e retratista, natural da Maceira, Leiria, está há vários anos radicado em Londres, onde também dá aulas na Walt Disney, Discovery, Paramount, National Gallery e Saatchi Gallere. Em Portugal, o seu trabalho pode, ser apreciado em duas exposição, em Lisboa e na Batalha.
Nelson Ferreira recua até aos seus tempos de estudante na Secundária Manuel Cargaleiro, e aos intervalos passados com uma professora “fantástica” que ensinava a fazer retratos, para recordar o momento em que percebeu que queria ser artista. Antes, teve o sonho de ser bioquímico, para “trazer os dinossauros de volta”, e viveu a “obsessão” pela arqueologia, influenciado por Indiana Jones.
Terminado o secundário, seguiu- se a licenciatura em Pintura na Faculdade de Belas Artes em Lisboa, que “não era bem o que estava à espera”, por ser “muito focada nas técnicas e correntes artísticas do século XX”. Ruma depois ao Canadá, onde tem família, e é convidado para participar numa exposição promovida pelo Consulado de Portugal em Montreal. Acaba por regressar ao País, “já mergulhado na crise”, e em 2004 faz, de novo, as malas, agora com destino a Londres. Arranja emprego a servir às mesas, no famoso Caffè Nero e dá as primeiras aulas de pintura aos seus colegas. Três meses depois, despede-se e começa a trabalhar numa loja de material de artes, ao mesmo tempo que continuava a ensinar pintura e desenho.
“Londres era uma cidade de oportunidades, onde uma carreira podia crescer rápida e exponencialmente. Hoje, já não é assim”, constata Nelson Ferreira, que partiu depois numa viagem pelo mundo. Queria “estudar pintura a sério” em contacto com “grandes mestres”. Percorreu “quase 50 países” e aprofundou técnicas como a serigrafia, miniatura indiana, iconografia russa e grega, pintura chinesa e pintura a óleo flamenga e barroca.
Quando voltou a Londres, os convites começaram a surgir. O primeiro, recorda, foi para dar aulas na Crown Estates, uma organização que “pertence à rainha”. Desde então, tem criado e ministrado cursos para a National Portrait Gallery, Saatchi Gallery e Victoria & Alberto Museum. É ainda formador de artistas da Walt Disney e dá aulas de pintura e desenho em instituições como o Banco da América, escritórios de advogados ou gabinetes de arquitectos. “Aqui, é normalíssimo as empresas ofereceram este tipo de actividades aos seus funcionários”, salienta Nelson Ferreira, que tem também trabalhado em Portugal como formador no MNAC, no Museu Nacional de Arte Antiga, na Faculdade de Belas Artes de Lisboa e na Universidade Autónoma de Lisboa.
Da colaboração com o MNAC resultou ainda o programa Fungagá das Artes, uma ideia da directora da instituição, Emília Ferreira, materializada por Nelson Ferreira em parceria com o artista António Faria, considerado o melhor projecto educativo do 2021 pela Associação Portuguesa de Museus. Presentemente, está com duas exposições em Portugal: “Fogo – Água – Terra – Ar – Ícones Neo-bizantinos a Têmpera de Ovo” e “A Pintura sublimou o espírito”, ambas patentes até final de Outubro, a primeira no Mosteiro da Batalha e a segunda em exibição no MNAC. Esta última serviu também de ponto de partida para a curta-metragem “Azul no Azul”, do realizador italiano Gianmarco Donaggio.
Nelson Ferreira encontra-se ainda a desenvolver um conjunto de 50 quatros, em pintura abstracta, que lhe foram encomendados para decorar o palácio de um príncipe saudita.