É natural de Leiria, tem 20 anos e está no terceiro ano da licenciatura em design gráfico na School of Visual Arts, em Manhattan, Nova Iorque. Recentemente, Filipa Querido Mota viu um trabalho seu ser seleccionado para a exposição One-of-a-Kind Luxury, organizada pela Madison Avenue Business Improvement District em parceria com várias lojas de luxo desta rua daquela cidade americana, para a promoção dos bens e serviços das mesmas.
Esta exposição prolonga-se até 15 deste mês e o vestido criado pela jovem de Leiria é um dos 18 trabalhos seleccionados. O que tem de especial? Foi feito com talheres. Isso mesmo: garfos, colheres e conchas. A jovem criou ainda uma mala.
Como é que surgiu a ideia? Kevin O'Callaghan, professor da aula de 3D Design, desafiou os alunos do terceiro e quarto anos a escolherem um objecto e a criarem uma peça de vestuário ou acessório a partir do mesmo. “Quando o projecto me foi apresentado, pensei logo em como os dentes de garfos, quando encaixados, se assemelham a um zíper em ponto grande. A minha primeira ideia consistia em criar uma mala com utensílios de cozinha e garfos a servirem de fecho”, explica a jovem ao JORNAL DE LEIRIA.
Mas aquele professor sugeriu que criasse também um vestido e usasse a mala como algo complementar. “Os garfos foram, por sorte, perfeitos para o design do vestido, uma vez que quando dispostos lado a lado e em camadas criam um efeito de franja, semelhante aos vestidos flapper usados nos anos 20”.
A fazer o penúltimo ano do curso, Filipa Mota tem esperança que o facto de o trabalho ter sido escolhido para esta exposição lhe abras portas no futuro, em termos profissionais. “Ter uma peça feita por mim e o meu nome numa das áreas mais luxuosas de Manhattan é uma distinção muito grande.
[LER_MAIS] Os trabalhos têm recebido muita atenção, não só da parte dos media como também de instituições como o Metropolitan Museum of Art e estúdios de design sediados em Nova Iorque”, conta a jovem. “Têm sido também extremamente gratificantes os elogios que tenho recebido por parte de pessoas anónimas, que por acaso se deparam com a peça enquanto caminham pela avenida Madison”.
“Idealmente, esta exposição permitirme-á criar contactos importantes na indústria”, espera. Filipa Mota não tem ainda uma ideia muito clara do que fará depois de terminar o curso. “Tenho um gosto enorme pelas áreas de design editorial e de design ambiental, apesar de gostar de todas as vertentes de design gráfico. Quanto a onde…gosto imenso de viver em Nova Iorque. É uma cidade super artística e com muito potencial para futuros designers. Talvez quando terminar o curso queira ficar inicialmente aqui e depois… quem sabe?”.
O mundo das artes sempre foi uma das paixões de Filipa Mota. “Aos três anos, quando na escola me perguntaram o que queria ser quando fosse grande, desenhei uma pintora com uma taça de fruta desenhada numa tela. À medida que fui crescendo, desenvolvi um interesse por moda, houve uma altura em que quis ser designer de moda. Mais tarde, no secundário, interessei-me por marketing e publicidade, embora tivesse sido sempre mais sobre a parte artística do que propriamente a técnica”.
O interesse pelo design surgiu “a sério” depois de um ano de estudos nos Estados Unidos. No ensino secundário, em Leiria, a jovem estudou Ciências, mas para o 12.º ano candidatou-se uma escola internacional em Boston, Massachusetts.
“Foi depois desse ano que finalmente levei o meu interesse por arte e design a sério e decidi candidatar-me à School of Visual Arts (SVA), que tem um dos cinco melhores programas de Design Gráfico nos E.U.A”. O facto de estar localizada em Nova Iorque “aumenta exponencialmente as oportunidades e recursos acessíveis aos alunos”.
Ao longo dos dois últimos anos, Filipa Mota aceitou vários trabalhos na SVA, que fez ao mesmo tempo que os estudos. “Estou de momento à procura de uma oportunidade com estúdios de design para o próximo semestre e também para o verão”, explica.
Um vestido que “Lady Gaga usaria”
“Infelizmente”, o vestido criado por Filipa Mota não pode ser usado. “É muito pesado, foi criado a partir do manequim, com a exposição como único propósito”, explica a jovem ao JORNAL DE LEIRIA. “Um comentário que têm feito bastante é que parece um vestido que a Lady Gaga usaria”. Para fazer a peça, foram precisos 382 garfos, 59 colheres e duas conchas de sopa. Já a mala é composta por duas conchas e cerca de 50 garfos. Não foi fácil arranjar o material necessário. Foram precisas “inúmeras idas ao IKEA, a lojas de utensílios de cozinha, e a algumas lojas vintage e de produtos em segunda mão, e várias rupturas de stock” até que a jovem conseguisse obter tudo o que precisava.