Natural de Leiria, Vicente Valentim andou, com uma equipa, nas ruas de Lisboa, Madrid e Atenas a contar bandeiras nacionais penduradas em fachadas, no âmbito da investigação que fez sobre o efeito da erosão das normas sociais e da entrada da extrema- direita nos parlamentos europeus na legitimação dos pensamentos extremistas dos eleitores.
O trabalho valeu-lhe agora o prémio Jean Blondel para a melhor tese de doutoramento em ciência política escrita na Europa, atribuído pelo European Consortium for Political Research (ECPR).
Investigador na Universidade de Oxford, Vicente Valentim, de 31 anos, encara a distinção com uma “grande sensação de orgulho e validação”. Até porque, frisa, é um prémio que “já foi atribuído a pessoas cujo trabalho admira muito”.
Na tese de doutoramento, que defendeu em 2021 no Instituto Universitário Europeu, em Florença, Vicente Valentim pretendeu compreender o aumento de comportamentos anti-democráticos e de direita radical registado nos últimos anos e se esse crescimento significa que “as ideias das pessoas mudaram e se tornaram, elas próprias, mais radicais ou anti-democráticas”.
A principal conclusão a que chegou é que essas pessoas “já há muito tinham estas ideias, mas que as escondiam por terem medo de ser julgadas no seu meio social”, com a entrada dos partidos de extrema-direita nos diferentes parlamentos da Europa a contribuir para legitimar os pensamentos destes eleitores.
“As pessoas começaram a sentir-se mais à vontade em expressar e agir com base nas ideias que já tinham”, salienta Vicente Valentim, que aponta o capítulo sobre as elites políticas como um dos pontos da investigação que mais o surpreendeu.
Nessa parte da tese, tentou perceber “se o sucesso dos partidos de direita radical torna o debate político mais negativo”, uma vez que essas forças políticas são “caracterizados por um discurso muito negativo”, centrado nos problemas e “não nas soluções”.
“Focando-nos no caso da Alemanha, o que concluímos foi que, quando actores de direita radical têm sucesso eleitoral, os restantes políticos fazem esforços para se diferenciar do discurso da direita radical e do seu discurso negativo”, revela o investigador.
Formação em Música
A “génese” do interesse de Vicente Valentim pela ciência política começou em Leiria, pela mão do professor que lhe deu essa disciplina quando frequentou o 12º ano na escola Domingos Sequeira. No entanto, nessa fase, a paixão pela música levou a melhor e acabou por se licenciar Jazz e Piano. O mestrado foi já em ciência política.
“A música é um meio muito competitivo em que é difícil singrar. Senti que talvez não tivesse o que era preciso para fazer a música que queria e decidi enveredar por outro caminho”, conta, confessando, no entanto, que a música continua a ter um papel “muito importante” na sua vida. “Ainda toco piano, mas, mais do que isso, ouço muita música e tento ver concertos regularmente.”