Começou a praticar kickboxing há cerca de uma década porque o pai tinha cinco filhas e queria que se soubessem defender. No início achava que não ia gostar daquilo, ao fim de um ano já estava a competir e acabou por ser a única que nunca mais parou.
“Adoro isto porque é muito mais do que a malta pensa. Não são apenas murros e pontapés, nem sequer é violento, é uma modalidade com regras, com muita disciplina dentro e fora dos treinos e um jogo onde se está sempre a aprender e evoluir”, explica, sobre o que a leva a achar o kickboxing “extremamente motivador”.
No aeroporto, a fazer uma escala entre voos, Francisca Caiado Cardoso, de 23 anos e das Caldas da Rainha, recorda, ao telefone, como evoluiu da menina que tinha aulas de defesa pessoal para a jovem que é campeã do mundo. Quatro vezes!
Bonita, com ‘carinha de anjo’, 56 quilos e 1,72 metros, ninguém diria que a ‘Xica’ também é conhecida como ‘leg killer’. “Porque dizem que gosto de massacrar as pernas”, justifica, entre gargalhadas.
Está a regressar da Turquia, onde na última semana renovou o título mundial de kickboxing na categoria low kick -60Kg, após dois combates vitoriosos no Campeonato do Mundo de Artes Marciais, organizado pela ISKA, International Sport Kickboxing Association, no Kemer.
Uma conquista que vai directamente para o palmarés onde já conta com as vitórias de 2016, 2017 e 2018, alcançadas na Grécia e em Itália.
É o resultado, garante, “de muito trabalho, foco e dedicação”.
“Mas, essencialmente, do querer porque acredito que isto parte muito da nossa cabeça, do quanto queremos e se realmente queremos mais do que o outro”, atira.
E neste caso, Francisca queria mesmo muito. Tanto que nunca parou de lutar para estar nesta competição, mesmo quando parecia estar condenada pela falta de apoio da Federação Portuguesa de Kickboxing e Muaythai perante os custos de participação que rondavam os dois mil euros.
“Fiz uma publicação nas redes sociais a pedir ajuda e consegui. Não estava à espera de receber tanto apoio, veio de todo o lado, desde pessoas que não conheço a amigos, família, patrocinadores, o município e até anónimos”, recorda, grata pelo empurrão.
A integrar a comitiva portuguesa, composta por 83 atletas e 11 membros da equipa técnica, mostra-se “muito feliz e orgulhosa” por envergar a bandeira portuguesa e conquistar uma das 71 medalhas arrebatadas pelos lusos na competição (26 de ouro, 29 de prata e 16 de bronze).
No entanto, sublinha, isto não chega. “Sou ambiciosa, estou sempre à procura de mais e quero chegar ao topo. Conquistei este campeonato amador, mas quero lutar contra os melhores atletas e ser campeã do mundial profissional”, sublinha.
É um desejo, ou uma promessa, que sela o fim do ano que marcou o regresso aos treinos e às competições após as restrições da pandemia.
Licenciada pela Escola Superior de Desporto de Rio Maior, em treino desportivo com especialização em kickboxing, alia o esforço de atleta com a missão de ser treinadora, confessa-se apaixonada por crianças e está confiante no futuro. “Vai ser bom, de certeza”, afirma.