Augusta Rodrigues, de 86 anos, e Hortense Silva, de 70, fazem parte do grupo de sete idosas, do lar dos Outeirinhos, da Santa Casa da Misericórdia da Marinha Grande, que aproveitaram o dia para passear até Monte Redondo, e que, de regresso, pararam para almoçar junto à Lagoa da Ervedeira.
Satisfeitas com o farnel, de sandes de ovo e chouriço, sopa e fruta para rematar, sentadas agora no café, para uma bica ou para um chá, as senhoras são a prova de que este recanto da Freguesia do Coimbrão tem feito as delícias de gente de todas as idades ao longo de gerações.
Mas, desde o passado sábado, há novidades na Lagoa da Ervedeira, que pela primeira vez adquire o estatuto de estância balnear e ganha nadador-nadador, para assegurar a vigilância na zona fronteira à Casa do Guarda, entre 1 de Julho e 10 de Setembro.
Só este ano, Augusta já terá vindo passear até à lagoa “três vezes ou até mais”. Natural de Oliveira de Azeméis, passou a residir na Marinha Grande para acompanhar o marido, que por aqui encontrou emprego numa serração. Costumava[LER_MAIS] frequentar outras praias da região, quando os filhos eram pequenos. “Mas nunca aprendi a nadar, não havia professores”, recorda a octogenária.
Já Hortense não se perde de amores pela praia, é antes o passeio e o convívio que movem esta idosa, natural da Lourinhã, há muito radicada na Marinha Grande. Elisabete Sousa, ajudante de lar, conduziu a carrinha da Santa Casa. Com ela veio também Filipa Pedrosa, educadora social.
O passeio pela Lagoa da Ervedeira costuma implicar merenda, mas não envolve banhos. É um grande desafio tendo em conta que são grupos onde nem sempre existe grande mobilidade. Embora, com a chegada do nadador- -salvador, talvez um dia se equacione a possibilidade.
Mesmo sem banhos, o passeio à lagoa é sempre uma oportunidade para conviver, interagir com pessoas diferentes, promover o exercício e estimular memórias, salienta a técnica. Tiago Cabecinhas, da Bajouca (Leiria), e Inês Gaião, de Cascais, ambos de 30 anos, formam um jovem casal.
Tiago já conhecia bem o local e convidou Inês para apreciar a paisagem e o baloiço ali instalado. Apesar de ter apreciado a vista, a jovem explica que as acessibilidades não são as melhores para quem, como ela, tem mobilidade reduzida. “Talvez os passadiços ou o tapete pudesse estender-se um pouco mais até à água”, propõe.
Quanto à presença do nadador- -salvador, “já fazia sentido, uma vez que nos últimos anos tem sido uma praia muito frequentada para banhos”, constata Tiago.
Lúcia Martins, de 38 anos, com as filhas, Susana e Lara, de 20 e de 13 anos, são de Setúbal e costumam visitar a Lagoa da Ervedeira há vários anos. Preferem sobretudo os dias de semana, quando o espaço é menos frequentado e é mais fácil encontrar estacionamento. Apreciam o facto de ser uma praia de água calma. E congratulam- se porque, aos poucos, depois do incêndio florestal, a zona foi-se recompondo com a plantação de algumas árvores no local.
Natural da Marinha Grande, Eleonora Santos, de 45 anos, faz praia na Lagoa da Ervedeira com bastante regularidade, “para fugir ao vento e ao frio”, que muitas vezes se fazem sentir junto à costa, em São Pedro de Moel, exemplifica. “É um sítio tranquilo para trazer as crianças”, observa Eleonora, que valoriza o facto de existir café e casas-de-banho de apoio. Passar a ter nadador-salvador também tranquiliza mais, reconhece.
O filho, Eduardo Pereira, de 12 anos, também entende que esta “é uma boa praia”, “calma e sem vento”. É igualmente boa a impressão da sua amiga, Leonor Gomes, também de 12 anos, que visita a Lagoa da Ervedeira pela primeira vez.
O passo é “importante”, mas faltam melhoramentos
Com o hastear de bandeiras no local, no sábado, dia 1 de Julho, a Lagoa da Ervedeira transformou-se oficialmente na primeira praia de interior do concelho de Leiria. “É um passo muito importante para fruição daquele espaço e para a segurança das pessoas que o utilizam. Significa que a água tem qualidade e que área limite reúne condições”, afirmou o vereador Luís Lopes, durante a última reunião de câmara, realizada no Coimbrão.
Com a passagem a ‘praia de banhos’, passou a ser obrigatário o local dispor de instalações sanitárias, balneários, chuveiros e nadador-salvador. “Vamos ainda ter instalações provisórias com recurso a contentores”, adiantou Luís Lopes, em declarações à agência Lusa, explicando que, tratando-se de uma área sob a responsabilidade da Agência Portuguesa do Ambiente (plano de água) e do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), não se pode “criar estruturas de raiz sem que isto seja devidamente articulado”.
Luís Lopes explicou que a Casa do Guarda foi reaproveitada para balneários, instalações sanitárias e posto de socorros, “sem aumentar o edificado”, para que “a área se mantenha o mais natural possível”.
Apesar das alterações, alguns moradores do lugar da Ervedeira defenderam durante a reunião de câmara, a necessidade de mais melhoramentos. Rita Silva falou sobre a necessidade de requalificar o parque infantil e o parque de merendas, recomendou a colocação de lombas na estrada que dá acesso à lagoa e a criação de uma ciclovia a ligar a zona e a praia do Pedrógão.
Sobre a necessidade de algumas melhorias também falou ao nosso jornal Virgílio Cruz, presidente do Grupo de Amigos da Lagoa da Ervedeira. Vigiar a praia “é um passo muito importante, que peca por tardio”, notou o presidente, acreditando que poderiam ser feitos mais investimentos para garantir acesso a pessoas de mobilidade reduzida, bem como na requalificação das mesas do parque de merendas, que “estão obsoletas”, mas são muito utilizadas até por grupos que ali realizam festas e eventos.
Existem inclusive agências de turismo que já incluem a lagoa nos percursos que promovem, apontou Virgílio Cruz. E, na medida em que o espaço é muito usado para a prática desportiva, seria útil implementar na zona equipamentos de manutenção física, propôs.
O responsável pelo grupo gostaria ainda que a vigilância da lagoa se viesse a estender à zona poente.
Em reunião de câmara, Luís Lopes adiantou que a autarquia “está a trabalhar no projecto” do parque infantil, de onde, entretanto, já foram retirados equipamentos que estavam danificados. Ao nível da mobilidade, o autarca anunciou que será colocada sinalização para limitar a velocidade a um máximo de 30 quilómetros/hora, reconhecendo que o facto de não haver passeios limita a aplicação de lombas.
O arranjo de passadiços e o aumento da contentorização, com recolha diária dos resíduos, foram outras das melhorias anunciadas.
Na mesma reunião de câmara, o presidente do Município de Leiria, Gonçalo Lopes, revelou que a autarquia vai solicitar ao ICNF mais um talhão da mata nacional, para “dar continuidade à intervenção feita” no primeiro, localizado junto à lagoa, com 27 hectares, que tem vindo a ser tratado com apoio voluntário, associações e empresas.
“Há uma parte da lagoa que tem uma espécie de areal (…) que não vai ser vigiada”, avançou Luís Lopes, à agência Lusa, adiantando que no Verão do ano passado foi feito um controlo do número de pessoas que frequentavam o espaço, tendo um número médio diário entre as 500 e 550 pessoas.
Com as novas condutas, “é expectável que este número aumente” pelo que o município equaciona “rever a dimensão das infra-estruturas” e, ao invés de ter apenas uma praia fluvial vigiada, alargar essa vigilância à outra.
Ao nosso jornal, Tiago Santos, presidente da Junta de Coimbrão, defendeu que tornar a lagoa numa praia vigiada era uma necessidade que se impunha, devido ao número crescente de pessoas que têm vindo a frequentá-la. Acredita que este estatuto poderá motivar mais pessoas a conhecê-la.
No final desta primeira época balnear será pertinente fazer um balanço e verificar o que se pode melhorar, considerou.
Gonçalo Costa coordena a equipa de dois nadadores-salvadores que, desde sábado, vigiam a lagoa. Nota que o maior desafio é garantir que não haja incidentes e que os banhistas cumpram a sinalização e não ultrapassem o perímetro de segurança. O coordenador explica que estão a ser realizadas estatísticas para perceber a afluência à praia fluvial, bem como das assistências que venham a ser prestadas. Uma ambulância e bombeiros destacados para a Praia do Pedrógão passam a descolar-se à Ervedeira, pelo menos duas vezes por dia, informa ainda. Os dias de sol que se fizeram sentir no passado fim-de-semana incentivaram muitos veraneantes a optar pela lagoa. Cerca de 300 passaram sábado pela Ervedeira, que no domingo recebeu cerca de 400, adianta Gonçalo Costa.