Duas edições no Teatro José Lúcio da Silva e (muito provavelmente) duas vezes lotação esgotada. Com brilho e plumas, o Leiria Drag Festival volta a acontecer este sábado, 24 de Fevereiro, e ontem ao final da tarde a produção estava a menos de 40 bilhetes de vender, pelo segundo ano consecutivo, os mais de 700 lugares da principal sala de espectáculos do concelho.
“Achamos que é um grande passo a nível artístico e um grande manifesto, para a cidade, ter esta capacidade de aceitação”, comenta Fábio Casaleiro, que com Rafael Bento e João Estrada, donos do Glitz Club, na Boa Vista, organiza o evento dedicado ao transformismo. “O maior fora de Lisboa”, assinala. Embora alguns espectadores se desloquem de outras zonas do País, o público reside, maioritariamente, na região.
“Um espectáculo drag tem um encanto diferente de outro espectáculo qualquer porque a própria arte drag acaba por ser a junção de muitas artes, desde o teatro à moda”. E também a música, o humor, por vezes “alguma sátira” e “crítica social”, acrescenta, até concluir: “Merece espaços com visibilidade”.
Além de se ocupar com a produção, Fábio Casaleiro integra o elenco do Leiria Drag Festival e encarna a personagem Cherry Flavor. Tem 25 anos, trabalha como designer e é originário da Marinha Grande. Iniciou-se no transformismo em 2020, a reviver os tempos de bailarino, por brincadeira, hoje “são raras as semanas” em que não muda de look para o que chama de manifesto em saltos altos. “A arte drag mostra-nos que não há limites para a nossa criatividade e para a nossa imaginação”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “Permite-me conhecer outras formas de me relacionar com as pessoas”. E mais: “A Cherry possibilitou que o Fábio chegasse a palcos que só o Fábio não chegaria”. Por exemplo, podcasts e a gravação de uma série. O caminho é “exaustivo” e “muito dispendioso”, no entanto, “muito recompensador”, assegura.
Após três edições no Glitz Club, em 2023 e 2024 o Leiria Drag Festival instala-se no Teatro José Lúcio da Silva, maior e mais central. “Estarmos a ganhar espaço e visibilidade também fez com que as pessoas tentassem chocar com a nossa presença”, realça Fábio Casaleiro, que reconhece a polémica na internet. “Este ano, os comentários acabaram por ser mais violentos”, admite, ligados “ao crescimento de movimentos extremistas”.
Tanto o Município de Leiria como o Teatro José Lúcio da Silva estão a acompanhar o caso e, segundo Fábio Casaleiro, “foi pedida segurança redobrada por causa de ameaças”. Entretanto, a organização solicitou à Inspecção-Geral das Actividades Culturais, a reclassificação do espectáculo (que não inclui nudez nem violência física ou verbal) de maiores de 6 anos para maiores de 14, de modo a esvaziar as preocupações e reacções nas redes sociais.
“Tentar criar espaços seguros, sem medos, violência ou reacções de ódio” é um dos objectivos do Leiria Drag Festival, comenta Fábio Casaleiro, que destaca a importância de “descentralizar” o movimento drag para o “dar a conhecer”.
Com apresentação de Rio de Carvalho e Eva Brown, o Leiria Drag Festival conta com 14 artistas drag, incluindo alguns “que já têm presença marcante lá fora, como é o caso da Belle Dommage, conhecida pelo estilo burlesco”, explica a organização. Destacam-se também Saraj Logan (natural da Bélgica), Linda Xennon e Stefani Duvet.
O programa de aproximadamente 90 minutos começa às 21:30 horas e contempla ainda actuações dos cantores Leandro Noronha, Rui Serrinha e Soraia Morais, da Escola de Dança de Leiria e do grupo de dança do ventre Belly Lis Dance.