Antes do design gráfico, a música. É na fundação dos Allstar Project que Paulo Silva, também conhecido por Paulo da Fonte, se torna Paulo Fuentez. “Uma piada”, numa banda em que todos tinham apelidos hispânicos, naturalmente, inventados.
A brincar, o nome ficou. Até hoje. Ao ponto de obliterar a assinatura Maçã Mecânica, que consta nos primeiros flyers, do mesmo período.
Acolhidos pelo grupo de teatro O Nariz no Orfeão Velho, onde passam a ensaiar, os Allstar Project começam também a organizar concertos no edifício do centro histórico de Leiria, o que leva Paulo Fuentez, que já trabalhava em publicidade, a desenhar os cartazes. Em simultâneo, inicia, em 2002, na sétima edição do Acaso, uma colaboração com o festival, que mantém até hoje.
São praticamente duas décadas a comunicar cultura. Além do Nariz, que organiza o Acaso, e The Allstar Project, para quem também fez capas de álbuns, aparece ligado, como designer gráfico, através da Fade In, do a9)))) e de outros colectivos, a momentos relevantes, ao longo dos anos, para uma determinada geração. Parte dela encontrava-se no Arts, no Anubis ou no Cinema Paraíso, bares que recorriam a Paulo Fuentez numa fase em que o papel colado na rua se revelava indispensável na divulgação de eventos, antes da explosão das redes sociais.
É desse tempo, a revista Nome, que fundou e editou. Hoje, “imprime-se alguma coisa, mas o grosso da comunicação é online”. Em gráfica no sistema offset, no entanto, o designer podia “ser mais imaginativo” e explorar “papéis, texturas, relevos, cortantes, tintas, o que fosse”.
Álibi, Pharmácia, Sushi Electrónica, Fish e Suite são outros estabelecimentos emblemáticos da noite de Leiria no currículo de Paulo Fuentez, que elege, entre os projectos favoritos, o logótipo criado para a loja Creaminal.
O antigo baixista dos Allstar tem como clientes o Orfeão de Leiria (e o festival Música em Leiria), a companhia de teatro Leirena e a revista de poesia Acanto. É o responsável pela identidade da 26ª edição do Acaso (que está a decorrer) e da exposição Plasticidade, patente no Museu de Leiria.
Em 20 anos, o sector das artes mudou. Em Portugal e em Leiria. “Mudou imenso e para melhor”, hoje “há espaço, há algum dinheiro, há sensibilidade”, avalia Paulo Fuentez, que viu a transformação da primeira fila. Principal diferença? “Há uma indústria cultural”, em vez de “carolice pura e dura”.