Existem, actualmente, em Leiria, sete lojas maçónicas constituídas, todas de diferentes orientações filosóficas, mas, em breve, serão oito, com o aparecimento da primeira loja mista – com elementos masculinos e femininos – da cidade.
Denominada Isabel de Aragão, homenageia a rainha santa, esposa de D. Dinis que, rezam a lenda e a história, se distinguiu como intelectual e na protecção dos mais desfavorecidos, quebrando barreiras entre classes sociais, cujo contacto entre si era praticamente nulo.
Os trabalhos de preparação têm decorrido por video-conferência, mas a loja irá proceder à cerimónia de “levantar colunas”, como se diz no meio, no último fim-de-semana de Setembro ou primeiro de Outubro.
A data dependerá da evolução da pandemia. Da maçonaria, diz-se que é uma sociedade que reúne intelectuais e, muitos deles, pessoas com lugares de topo na sociedade, e que é uma organização secreta, porém, dizem-nos que embora essa seja a fama, não é bem assim.
“Somos uma organização discreta”, esclarece David Martins, antigo director da Associação Lar Emanuel e actual presidente da sua Assembleia Geral, que reivindica ser “o mais antigo maçon de Leiria e o quinto do distrito”.
É membro de uma loja do Grande Oriente Lusitano, “a mais antiga potência maçónica portuguesa, da família liberal e adogmática da maçonaria”, e também [LER_MAIS]elemento fundador da nova loja mista.
Desde antes da implantação da I República, com a Loja Gomes Freire, que muitos leirienses integraram o movimento maçónico, “dando o seu contributo para o prestí- gio e grandeza da nossa cidade”, explica, ressalvando “que o seu único compromisso é, antes de tudo, com a maçonaria, os seus valores, os seus princípios”.
E alguns desses princípios são bem conhecidos de quem teve a disciplina de História no 9.º ano: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Mas, afinal, o que fazem os maçons nas suas reuniões e qual é o objectivo da nova Loja Isabel de Aragão?
“A loja é mista, porque não estamos no século XVIII”, esclarece Mónica Santos, docente do ensino superior e também ela membro fundador da nova estrutura. Faz parte de uma Loja da Grande Loja Simbólica da Lusitânia, da Maçonaria Mista Portuguesa.
“A única verdadeiramente representativa da Maçonaria Mista, com reconhecimento outorgado por parte do Grande Oriente de França, a maior e mais antiga Potência Maçó- nica da Europa Continental, e igualmente da família liberal e adogmática.”
A designação completa sai-lhe fácil e na ponta da língua.
A professora explica que a mulher tem na sociedade contemporânea, um papel em tudo igual ao do homem.
“Nem maior, nem mais importante. Tem de ser igual, e se, em muitos sectores, o não tem, luta por tê-lo. Ora a maçonaria, não pode ser um espaço de aperfeiçoamento humano, como aquele que reivindicamos, dividindo homens e mulheres…”
E adianta que este é o momento de ter “Leiria no mapa da maçonaria mista, progressista, liberal e adogmática, corporizada na Grande Loja Simbólica da Lusitânia”.
David e Mónica explicam que, desde que se colocou a hipótese de se criar uma nova loja mista – “a primeira de Leiria”, reforçam -, houve muitas pessoas, na maioria jovens, a proporem integrá-la. A designação, explicam, é uma homenagem à rainha que, nos séculos XIII e XIV, revelou ser uma “grande estadista, mulher de acção e de grande cultura e profundas convicções espirituais” e consorte de D. Dinis.
Afinal, sublinha a docente do ensino superior com um sorriso, “há sempre um grande homem ao lado de uma grande mulher!”
Na nova loja, além do apoio fraterno entre elementos, promete-se o debate de temas importantes para a Humanidade, à semelhança daquilo que acontece noutros estabelecimentos do movimento, ao mesmo tempo que os elementos se dedicam ao aperfeiçoamento individual e espiritual.
David Martins ilustra como exemplo desses temas, a discussão que haveria de levar à criação do Servi- ço Nacional de Saúde, em 1979, por António Arnaut. David Martins esclarece que o que move os maçons é “uma certa forma de espiritualidade laica, que nada tem a ver com a religião, seja ela qual for, que cada um possa professar ou não, repudiando todo o tipo de fanatismos.”
“Tal como estava escrito na entrada do templo de Delfos, na Grécia antiga, ‘conhece-te a ti mesmo’, a frase atribuída a Sócrates é uma das mais conhecidas da Filosofia, também o maçon, homem ou mulher, tem o dever de fazer esse percurso interior de auto-conhecimento”, explica Mónica Santos.
“Quando surge a necessidade da partilha, do comungar em amor fraterno, com os irmãos e irmãs, as reflexões a que chegou, então, esse trabalho faz-se na loja, aplicando o ritual inerente à escola ou orientação maçónico-filosófica a que se pertence, e que apelidamos de ‘rito’”, resume.
“Quantas vezes, ao longo dos anos, pensando ter opiniões firmes e inabaláveis acerca deste ou daquele assunto, saio da reunião da loja com uma ideia completamente diferente daquela com que entrei”, admite David Martins.