Sob o mote “Esta é a luta que vos pariu”, o Observatório de Violência Obstétrica em Portugal (OVOpt), organizou várias manifestações em todo o País, para assinalar o Dia pela Eliminação da Violência Obstétrica.
Em Leiria, a concentração de hoje, dia 6 de Novembro, realiza-se a partir das 16 horas, no Jardim da Almuinha Grande.
A associação agendou para hoje vários protestos em diferentes cidades, que acontecem todos à mesma hora,em Lisboa, junto à Assembleia da República, em Faro, no Porto, em Viseu, Coimbra, Viana do Castelo e Bragança.
Acções de solidariedade
Segundo uma nota da OVOpt estas pretendem ser acções simbólicas de solidariedade com todas as mulheres (pessoas que vivam ou tenham vivido na pele as mesmas opressões, sejam mulheres (trans ou cisgénero), homens trans ou pessoas não binárias), que sofreram violência obstétrica, marcando um ano de luta.
“Após um ano de formação do movimento EuViVO e, posteriormente em Janeiro o mesmo se ter constituído como Observatório da Violência Obstétrica, o OVOpt volta às ruas para lutar contra a indiferença com que o Ministério da Saúde, a Direcção-Geral da Saúde, demais decisores políticos e a Ordem dos Médicos, têm ignorado todas as reivindicações feitas pelas mulheres neste último ano – em continuidade de anos anteriores, desde 2004, data dos primeiros passos do movimento pela humanização do parto em Portugal”, explica o OVOpt.
Reestruturação urgente
O observatório sublinha que luta por um Serviço Nacional de Saúde de “qualidade, universal e gratuito, que albergue os cuidados a todas as pessoas e, posiciona-se firmemente contra o encerramento de maternidades públicas”, acreditando “ser necessária e urgente a reestruturação dos Serviços de Saúde da Mulher e da Saúde Materno-Infantil com a implementação de um sistema que integra locais adequados para vigilância da gravidez baixo risco e para assistência ao parto de grávidas com gravidezes de baixo risco, modelo este que é o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para uma experiência de parto positiva”.
Defendendo “estes centros de nascimento criados de acordo com modelo ‘midwifery model’, modelo biopsicossocial, recomendado pela OMS”, a OVOpt entende que é “o que melhor permite uma prestação de cuidados adequada para cada mulher e, assim, diminuindo a probabilidade de realização de más práticas, evitando a ocorrência de actos de violência obstétrica”.
Experiências positivas
Com a implementação deste sistema, “os médicos obstetras terão total disponibilidade para acompanhar gravidezes e partos de alto risco em ambiente hospitalar, centrando a sua intervenção, quando necessária, no acompanhamento destas mulheres”.
“O OVO PT crê que, com esta mudança, caminharemos para um sistema em que os profissionais de saúde orientem as suas práticas pelas evidências científicas, incentivando a que acompanhem de perto e apliquem o que são as descobertas e desenvolvimentos científicos para uma experiência de parto positiva e sem qualquer tipo de violência obstétrica”, refere ainda a nota de imprensa.
O que é a Violência Obstétrica
A Violência Obstétrica é uma forma de violência de género praticada contra a mulher grávida, parturiente ou puérpera, amplamente disseminada nas maternidades públicas e privadas do país. É uma forma de violência que está normalizada e que não é reconhecida pela comunidade médica e por parte da sociedade civil como violência. Por este motivo, as vítimas sofrem em silêncio, culpabilizando-se pelos maus-tratos sofridos e evitando recorrer a mecanismos legais, que, lamentavelmente, não lhes conferem justiça.
Algumas condutas que consubstanciam Violência Obstétrica:
- Maus-tratos físicos: amarrar a parturiente à maca, restringir a liberdade de movimentos, manobra de Kristeller, manobras de indução de parto (sem consentimento e/ou indicação clínica), negação ou imposição de alívio de dor, raspagem dos pelos púbicos.
- Maus-tratos psicológicos: ameaçar, coagir, humilhar, discriminar, gritar, omissão de informação sobre o estado de saúde do bebé, omissão de informação sobre o decorrer do parto.
- Violência sexual: toques sucessivos invasivos e/ou agressivos, realização de episiotomia.
- Intervenções realizadas sem consentimento da mulher e desrespeito pela recusa.
- Interferência desnecessária no processo de parto (por exemplo, com vista à sua aceleração).
- Supressão da autonomia da mulher.
- Omissão ou recusa de cuidados.
- Práticas contrárias às Recomendações da Organização Mundial de Saúde.
A Violência Obstétrica pode ocorrer durante as consultas e exames de vigilância da gravidez, no trabalho de parto e parto, durante o período de internamento no puerpério, em situações de assistência à perda gestacional, na assistência à interrupção voluntária da gravidez (IVG), na assistência a tratamentos de fertilidade, cuidados de pós-parto e em qualquer outro cenário em que haja prestação de cuidados de saúde à mulher grávida, parturiente e puérpera.
- Violência Obstétrica em Portugal
Em Portugal, estima-se que 1 em cada 3 mulheres foram vítimas de Violência Obstétrica. Todos os dias, as grávidas e as parturientes são sujeitas a procedimentos rotineiros e desnecessários, cuja motivação não lhes é explicada e sem que seja solicitado o seu consentimento.
A corrente pró-vida tem tido também um impacto muito negativo, sendo primordial que, tanto o colégio da especialidade da OM, como o Ministério Público, entendam as circunstâncias em que as mulheres sofrem este tipo de violências com base em crenças pessoais dos profissionais.
Há um desrespeito evidente pelo corpo da mulher grávida, actuando como se fosse inapta para gestar e parir. Grande parte dos profissionais de saúde actua como se o bebé tivesse de ser salvo da mãe, não centrando os seus cuidados na mulher, acabando até mesmo por culpabilizar a mulher para justificar más práticas.
Fonte: Manifesto OVOpt