A Federação queria, a Liga também e o Governo anuiu. O futebol vai regressar em Portugal no último fim-de-semana de Maio, mas nada será como dantes. Apenas as últimas dez jornadas da 1.ª Liga e a final da Taça de Portugal serão disputadas, mas o envolvimento será absolutamente diferente de tido o que foi visto até agora. E é aqui que Leiria entra.
O primeiro-ministro assumiu que este reinício “está sujeito ainda à aprovação pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) do protocolo sanitário que foi apresentado pela Liga de Futebol Profissional”. António Costa declarou ainda que o regresso “está ainda condicionado à avaliação dos estádios que cumpram todas as condições indispensáveis para que a actividade seja retomada”. Ainda assim, é certo que o regresso dos jogos “será sempre feito à porta fechada”.
Além da cadência de jogos ser exigente, muitas vezes com dois jogos por semana – com a consequente degradação dos relvados -, vários dos campos utilizados no escalão mais alto do futebol português não deverão cumprir todos os requisitos de segurança sanitária exigidos. Há também os casos do Marítimo e do Santa Clara, equipas das regiões autónomas, territórios que estão em quarentena, pelo que as viagens de e para as ilhas estariam sempre rodeadas por problemas burocráticos.
Problemas
– Mais de nove anos sem jogos da Liga
– Inexistência de tecnologia VAR
– Área dedicada à Covid-19 no recinto
Oportunidades
– Estádio dos mais modernos do País
– Centralidade e acessibilidade da cidade
– Capacidade hoteleira da região
Neste momento, tudo aponta que a realização dos 90 jogos que faltam para concluir a 1.ª Liga, além da final da Taça de Portugal, sejam realizados nos recintos mais modernos do País, onde cabe o Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria. Ainda assim, o presidente da Câmara admite que terá sempre “alguma despesa”, seja para dar retoques necessários na infra-estrutura, seja nos processos de desinfecção de edifício e relvado.
Lobby
Começou por falar-se em fazer todos os jogos numa área concentrada e o Algarve, com campos e capacidade hoteleira, partiu à frente, mas já estará afastado “pela distância”. Em resposta, as associações de futebol de Leiria, Coimbra e Aveiro resolveram disponibilizar os estádios construídos para o Euro’2004 para ajudar a resolver o problema.
“Apresentámos a candidatura porque começámos a perceber que havia equipas cujos campos não teriam condições. Depois, porque três jogos em 10 dias deixa um campo completamente destruído. Daí acharmos pertinente disponibilizar os nossos estádios”, justifica o presidente da Associação de Futebol de Leiria (AFL), Manuel Nunes.
Já o presidente da Câmara Municipal de Leiria tinha sido contactado por dirigentes de SAD interessados em saber quais as melhores propostas hoteleiras e campos para treinar no caso de os jogos sempre avançarem no Magalhães Pessoa. Gonçalo Lopes considera que apesar de não haver receita de bilheteira nem movimentação de público, a recepção destes jogos seria “muito bom” para a “dinâmica da hotelaria” nesta altura tão sensível, com estágios de diversas equipas a realizarem-se na região. “Não sendo muito, sempre teria algum impacto no turismo.”[LER_MAIS]
O autarca admite até que a utilização do recinto possa prolongar-se até à próxima temporada, em Agosto e Setembro, já que não é líquido que até lá não exista uma segunda vaga da pandemia ou que tudo esteja estabilizado.
No entanto, há ainda trabalho a fazer, sublinha Manuel Nunes. “Pelo que me apercebo, terá de ser necessário realizar a avaliação anual da Liga e outro pormenor é instalar o vídeoárbitro (VAR), questões que, creio, se resolvem facilmente. Mas é um estádio com condições excelentes, funcional e com balneários muito bons, amplos e arejados, que é uma das questões com que a DGS mais se preocupa. Por isso, acredito que as possibilidades são boas”, augura o dirigente.
Por Leiria, há ainda por resolver a questão da área dedicada à Covid-19, instalada no estádio desde o início de Abril. O sistema de recolha para testes decorre precisamente na pista do estádio, sem que os utentes tenham de sair do carro. Algo que, para Gonçalo Lopes, é facilmente adaptável. “Sem público a chegar de carro, poderemos mudar esse espaço para o parque de estacionamento. Não me parece que haja conflito, até porque toda a zona importante para o futebol – bancada vip, balneários e garagem – está do outro lado do estádio”, sublinha o autarca.
Chance
Numa segunda linha, a AFL apontou o Estádio Municipal da Marinha Grande, que ficará disponível para estágios e treinos das várias equipas. “Nesta região temos boas instalações hoteleiras, hospitais e auto-estradas, ainda por cima num local central, que deixa as equipas todas em igualdade de circunstâncias”, explica o dirigente.
Para Manuel Nunes, esta é uma oportunidade que recolocaria a região Centro no mapa do futebol profissional, “estimula a economia local” e ajuda a justificar, “ao fim destes anos todos”, que o investimento foi “importante para dar uma viragem na qualidade das infra-estruturas” e “é duradouro”. “Passados 16 anos, ainda estão em boas condições e disponíveis para resolver problemas, como é o caso desta pandemia”.