“Existem cerca de 1900 enfermeiros no distrito de Leiria. A OCDE define que o ideal são nove enfermeiros para cada 1000 habitantes. A média em Portugal é de 6,58. Somos o distrito do País com menor número de enfermeiros, com 4,5 por 1000 habitantes.”
O alerta foi deixado por João Morais, enfermeiro do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) e presidente do Conselho Fiscal da Secção Regional Centro da Ordem dos Enfermeiros, durante o debate O Estado da saúde no concelho de Leiria, organizado pelo PSD e pela JSD da Concelhia de Leiria, na sexta-feira.
Para João Morais, a falta de enfermeiros traduz-se “na menor qualidade dos cuidados de enfermagem, crescimento da mortalidade dos doentes internados, na existência de erros na medicação, e no aumento e de infecções associadas aos cuidados de saúde”.
O especialista sublinhou que “por cada euro investido em enfermagem, há um retorno de nove euros”, pelo que considera que não há poupança quando se opta pela não contratação de enfermeiros.
Já Carlos Cortes, presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, informou que “oficialmente existem 148 médicos no Pinhal Litoral e metade vai-se reformar até 2030”. [LER_MAIS] “Temos um desafio enorme que é arranjar médicos para esta região e é mesmo um desafio, porque os médicos que vêm não se fixam na região”, alertou. O médico acrescentou que Coimbra, por exemplo, “apresenta uma média de 11,6 por cada 1000 habitantes”, contra os 2,3 médicos por cada 1000 habitantes em Leiria”.
“O número de utentes do distrito sem médico de família atribuído é um dos mais altos da zona Centro.” Carlos Cortes destacou, que estes “não são números reais”, porque “incluem médicos que estão inscritos na Ordem, mas que emigraram, estão reformados ou no privado”.
A informação foi reforçada por Rui Passadouro, que tem várias responsabilidades no Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal de Leiria (ACES PL), e que estimou que cerca de 17 mil pessoas estejam sem médico de família. Segundo as suas contas, os números oficiais apontam para cerca de 8300 utentes, mas cerca de dez mil “não são frequentadores e não têm qualquer acompanhamento médico e são estes que nos preocupam”.
Carlos Cortes salientou que o problema no Serviço Nacional de Saúde é “o envelhecimento dos seus quadros”, já que a maioria dos médicos “tem 50 ou mais anos”. Este responsável interrogou: “Leiria precisa de 27 médicos no ACES PL e o Estado abriu apenas seis vagas?”
Carlos Cortes denunciou ainda que há dez especialistas que vão sair em mobilidade, pelo que “faltarão mais de 30”.
Falta de material nos centros de saúde
Falta de luvas, desinfectantes e toalhetes são algumas das falhas nos cuidados de saúde primários apontadas por João Morais. O enfermeiro lamentou que se esteja a usar luvas esterilizadas, cujo custo é maior para o Serviço Nacional de Saúde. “Uma caixa de mil luvas custa 5 euros, já as luvas esterilizadas têm um custo de 36 euros.” Este profissional criticou ainda a deficiente higienização entre troca de pensos. “Deveria haver limpeza imediata e não só ao final do dia.” Carlos Cortes, presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, considerou que o Centro Hospitalar de Leiria tem um dos maiores números de consultas realizadas. “É um e contribui muito para a saúde das populações, mas se tem menos médicos que os outros, significa que os profissionais trabalham mais que os colegas. Leiria destaca-se também pelo número de urgências que faz a mais na região Centro. Como faltam profissionais este serviço é caótico.”