Contrariamente à maioria das modalidades desportivas, no bilhar não existe o ‘tradicional’ treino, em que treinadores e atletas se juntam para aperfeiçoar técnicas e definir tácticas. Trata-se, na verdade, de uma modalidade em que os clubes não têm treinadores e cada jogador treina por si. Uns recorrendo a vídeos e informações na internet, outros partilhando conhecimentos entre si.
Para responder a esta necessidade e formar os atletas, há cerca de seis anos, a secção de bilhar da União Desportiva de Leiria (UDL) iniciou uma academia, a única no distrito e uma das poucas em Portugal, onde existem menos de cinco escolas de bilhar.
As aulas são dadas por Fernando Leão, após ter sido desafiado pelo responsável da secção de bilhar da UDL, nas instalações da União Recreativa, Cultural e Desportiva ‘Os Unidos’, em Casal dos Matos, onde todas as semanas treinam dezenas de jogadores, não só da UDL, mas também de clubes como Sporting, Os Nazarenos, ACR Maceirinha ou Os Candeeiros.
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“Enquanto responsável da secção, onde tenho muitos atletas, senti que era fundamental dar-lhes treino para evoluírem. Mesmo os mais experientes têm sempre técnicas a aperfeiçoar. Desportivamente era importante ter estas aulas, pelo que decidi desafiar o Leão, que chegou a dar aulas de bilhar há 20 anos”, explica Octávio Santos, também presidente da associação ‘Os Unidos’.
A academia começou com seis jogadores e, hoje, tem perto de 30, dos 19 aos 65 anos. “É uma modalidade onde tem de existir um equilíbrio muito grande entre o físico e o mental. Pode não parecer, mas é extremamente cansativo. Chegamos a competir de manhã à noite e fazem-se, literalmente, quilómetros à volta da mesa”, refere Octávio, que assume ainda as funções de presidente da Associação de Bilhar de Leiria e de comissário da Federação Portuguesa de Bilhar.
A paixão pela modalidade, explica, começou há 20 anos como uma “brincadeira de café”. “Nunca tinha ligado muito até experimentar. Antigamente era sobretudo um jogo de café, mas isso mudou, e hoje em dia procuramos contrariar essa ideia e criar uma cultura mais elitista para a modalidade.”
“Fazemos este trabalho em prol da modalidade”
Fernando Leitão não pensou duas vezes quando foi desafiado a pertencer ao projecto. Acredita que “o trabalho é ainda mais importante que o talento” e que “o trabalho árduo acaba por vencer o talento de quem não trabalha”, não vendo obstáculos em treinar atletas de clubes adversários.
“Alguns atletas que aqui treinamos depois são adversários dos jogadores da UDL. Mas fazemos este trabalho em prol da modalidade, e isso é o mais importante”, afirma. O crescimento do número de jogadores que procuram a academia tem sido notório e, para Fernando Leitão, prende-se com a inexistência de treinadores e com o passa-palavra.
“Nos clubes não há formação. É um problema desta modalidade. A federação ainda não conseguiu criar um curso de treinadores. Em todos os outros desportos os treinadores são formados. Aqui não”, refere Leitão, reconhecendo que ele próprio procura informação na internet: “Como não existem cursos, não temos outra opção.”
As aulas são dadas três dias por semana, a partir das 18:00 horas, nas vertentes de pool e pool português. “Nas aulas temos apenas um jogador por mesa. E o espaço já começa a ficar apertado. A procura tem aumentado porque os outros jogadores começam a perceber a evolução dos atletas que aqui treinam, e ficam também interessados”, acrescenta, salientando ainda a presença de três atletas femininas, numa modalidade onde continua a predominar o sexo masculino.
Mas a procura não se verifica apenas por parte de atletas experientes. Também os que nunca experimentaram a modalidade, como o jovem Lucas, de 19 anos, procuram a academia. “Comecei há mais de três anos. Na altura não praticava nenhum desporto e um familiar sugeriu-me participar nestas aulas. Gostei muito e continuei a vir”, explica Lucas, que para já não representa qualquer clube.
A frequentar o 2.º ano da licenciatura em Engenharia Mecânica, no Politécnico de Leiria, salienta que, “embora os estudos sejam a prioridade”, o bilhar é “uma óptima forma de abstrair do dia-a-dia, e também de crescer, já que nos ensina a sabermos assumir os nossos próprios erros”.