A partir da próxima semana, entre os dias 23 de Março e 8 de Abril, a cidade de Leiria é convidada a reflectir e a aprender mais sobre o que é cenografia e qual é o seu papel. Porquê? Porque resumir o trabalho cenográfico à tela de fundo duma cena de teatro é uma visão totalmente redutora e um grupo de artistas plásticos, arquitectos, actores e cenógrafos juntou-se para demonstrar a amplitude desta disciplina presente nas várias expressões artísticas e que, quase imperceptivelmente, trespassa também todas as acções do nosso quotidiano.
A ideia deste evento foi trabalhada em conjunto pela arquitecta e designer Joana Marcelino (Joana Marcelino Studio), com o actor Frédéric da Cruz (director do Leirena- Teatro), com o artista plástico Ricardo Romero (associação Riscas Vadias) e com o também artista plástico Nuno Viegas. Sob o mote A ilusão do real, o grupo vai levar a cabo um conjunto de exposições, masterclasses, workshops e intervenções que se realizam em vários pontos da cidade de Leiria.
Além da livraria Arquivo, a iniciativa conta com a parceria da Riscas Vadias, do Joana Marcelino Studio e do Leirena – Teatro, com o apoio da Câmara Municipal de Leiria, da Herdade do Rocim, do JORNAL DE LEIRIA e da Respol. Na passada quinta-feira, os parceiros reuniram-se na livraria Arquivo para apresentar o programa e dar início à reflexão sobre a temática.
Cenografia: o que é isso afinal? Joana Marcelino, arquitecta de formação e apaixonada pelas artes, começa por salientar que a cenografia está presente em várias formas de expressão artística, sendo nalguns pontos parecida com a arquitectura. Ambas acabam por trabalhar com a luz, com os objectos e com o mobiliário.
Frédéric da Cruz lembra que o teatro é o lugar onde se vê. Onde se vê a acção propriamente dita e tudo aquilo que está em cena, incluindo o cenário. Um cenário que pode ser fixo, uma lona ou tela pintada, que se mantém imóvel do início ao fim da peça, ou um cenário que também se pode adaptar, dialogar com o actor, e ser ele mesmo uma espécie de outro actor em cena. “Um cenário cumpre um papel simbólico, funcional, é um elemento visual que pode transmitir imagens, que pode transmitir fotografias”, exemplificou o director do Leirena. Um cenário é muito importante, na medida em que “apoia o público a viajar e a pensar”, sublinha Frédéric da Cruz.
Já Ricardo Romero intervém no espaço público, em espaços que foram primeiramente idealizados por um arquitecto. Intervém com as suas pinturas de gente, cães e cenas do quotidiano. Como tal, as peças que faz “são elas próprias a cenografia da nossa vida”.
Para Nuno Viegas, a cenografia situa-se entre várias disciplinas, como teatro, artes visuais e arquitectura. E talvez por isso ela seja tão difícil de balizar. “É o fundo da pintura, que exalta o protagonista, é o que dá ambiente e espaço. A cenografia cria um espaço simulado, é uma coisa falsa, uma ilusão do mundo, tal como é a pintura”, aponta Nuno Viegas.
“Uma ilusão temporária que serve para nos dar o contexto da acção, mas que também pode ser ela própria um elemento, um actor. Algo que pode sair de fundo para passar a ser a figura”, realça o artista plástico. E cabe ao cenógrafo combinar todas estas nuances e “construir uma imagem, uma ilusão que seja eficaz nesse transporte da mensagem”, defende Nuno Viegas.
Um projecto sem protagonistas
Desta vez, formou-se uma equipa de trabalho diferente para organizar este evento. Joana Marcelino frisa que a arte faz parte de todos os membros desta equipa, uma equipa que quer, de forma “honesta” e “incansável”, explicar o que é cenografia de uma forma “explícita e profissional”.
Também Frédéric da Cruz salienta que “esta será a primeira vez em que o Leirena-Teatro faz parte de um projecto onde ninguém é protagonista e todos são responsáveis pelo desenho do projecto”. O que todos pretendem é “dar a conhecer onde entra a cenografia na nossa vida, que é em todo o lado”, salienta o actor, esperando que esta seja uma semana “de festa”, de celebração das artes. Mais habituado a trabalhar em intervenções de rua,
Ricardo Romero admite que para si não é fácil sair da zona de conforto. Por isso, este evento é também uma “motivação extra”, de estar presente na promoção do diálogo interdisciplinar entre teatro, dança, música, passando pela poesia e pela cenografia. “Esta equipa tem sido magnífica, porque todo este evento foi realizado em tempo recorde”, considerou Ricardo Romero. “Fruto de limitações orçamentais e de tempo, agilizámos as coisas para no fundo bater tudo certo e dignificar a ilusão do real”, explicou o artista plástico.
A primeira de muitas edições
Em nome da Câmara Municipal de Leiria, Gonçalo Lopes, vereador da Cultura, deixou palavras de agradecimento pela capacidade de planeamento, que permitiu alcançar “uma programação inovadora em Leiria e no País”, pela inclusão da formação e das oficinas entre as iniciativas previstas. Gonçalo Lopes agradeceu a “programação de qualidade” e notou que esta é “uma “oportunidade” para os amantes de teatro e de tudo o que ele envolve aprenderem com quem tem talento. “É uma programação que tem preocupação de formar e de capacitar pessoas para intervirem na arte com a qualidade que é desejada”, reforçou o autarca.
“Hoje, o sucesso de empresas, organizações, associações e autarquias resulta da capacidade de fazer equipas. Incluir a Câmara nesta equipa é motivo de orgulho”, salientou Gonçalo Lopes. “Que corra tudo bem para que esta primeira edição se repita em futuras edições”, desejou o vereador.
Palcos e talentos diversos pela cidade
O arranque do evento acontece dia 23 de Março com uma exposição de Nuno Viegas para ver no Joana Marcelino Studio até 8 de Abril. De 24 de Março e até 8 de Abril, há exposição de João Mendes Ribeiro, arquitecto, cenógrafo e membro fundador de A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra, para ver no edifício da antiga redacção do JORNAL DE LEIRIA. De 24 de Março até dia 8 de Abril, há masterclass com João Mendes Ribeiro, na sala vermelha do m|i|mo (Museu da Imagem em Movimento) e há também tertúlia na livraria Arquivo. Dia 31 de Março, o artista plástico Nuno Viegas dinamiza na livraria Arquivo um workshop para crianças e há também tertúlia no m|i|mo. Dia 7 de Abril, há masterclass – tertúlia com a cenógrafa Marta Carreiras no Espaço Leirena- Teatro. No mesmo dia, tem lugar o encerramento com um espectáculo de video/instalação acompanhado com poesia, música e dança, para assistir na antiga sede do JORNAL DE LEIRIA, na Praça Rodrigues Lobo. Paralelamente, estão programadas muitas outras oficinas: a 3 de Abril, há oficina dirigida por Ricardo Romero à InPulsar/ Redes na Quinta, na Arquivo; a 4 de Abril há oficina aberta dirigida por Frédéric da Cruz na Arquivo; já no dia 5 de Abril, há oficina dirigida por Ricardo Romero à InPulsar/ Redes na Quinta, no Espaço Redes na Quinta.