Esta é uma crónica para todos os saudosos do 24 de abril, para os nostálgicos do salazarismo. – Nos anos 70, um em cada três portugueses não sabia ler nem escrever. Para comparar, o último ano em que países nórdicos como a Suécia e a Finlândia tiveram 30% de analfabetismo foi o de 1780. E a França e a Inglaterra o de 1850. Nos anos 70, acima de nós em analfabetismo, em 16 países da europa, só a Turquia;
– Em certas regiões do País a má-nutrição ainda afetava milhares de camponeses, e a sua baixa estatura média era reflexo disso. O raquitismo era frequente. Éramos o penúltimo na capitação do consumo de carne. (Depois de nós só a Turquia). Último na capitação de consumo de leite, o último na capitação diária de proteínas, penúltimo na capitação diária de gorduras;
– Nos anos 60 estudavam no ensino superior pouco mais de 24.000 alunos, dos quais apenas 7.000 eram mulheres. Em índice tão baixo, depois de nós, na Europa, ninguém!
– Nos primeiros anos da década de 70, um dos países do mundo com mais gastos militares per capita, acima dos EUA e União Soviética, era Portugal: 30 a 40% do orçamento (não se sabe bem) era dedicado à defesa, sobretudo para manter a guerra em 3 frentes;
– Nos anos 70 a vida nas províncias ultramarinas era de melhor qualidade que na Metrópole, porque os governos do Estado Novo, tentando implementar um desenvolvimento acelerado a todos os níveis, investiram nelas fortemente, muito mais que no Continente. Nos anos 70, por contraste com as capitais ultramarinas, a vida na metrópole era mais pobre, carente, tristonha e cinzenta.
– Na véspera do 25 de abril de 74 a maioria das habitações em Portugal não tinha saneamento com ligação à rede pública, nem água canalizada. – Numa década, de 64 até 74, emigraram mais de 800 mil portugueses, uma média de 80 mil ao ano;
– No final da década de 60, de entre 16 países da Europa, Portugal era o penúltimo na capitação de consumo de energia. Depois de nós só a Turquia;
– Nessa época Portugal tinha pouco mais de 60 kms de autoestrada; – Até 24 de abril os jornais, a televisão, os livros, os espetáculos, eram censurados;
– Até esta data a Assembleia da República não integrava deputados da oposição – apesar da “primavera Marcelista”;
– Até esta data a polícia política continuava a vigiar, a prender e mesmo a torturar todos os suspeitos de se oporem ao regime. E chegou a matar opositores no exílio, como o general Humberto Delgado, que deveria ter sido eleito Presidente da República em 1958, caso o resultado da eleição não tivesse sido falsificado. Essa terá sido uma grande oportunidade perdida!
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990