Carlos Alberto Silva (Pombal, 1958) tem já uma vasta obra endereçada ao público infantil, e a sua proveitosa presença do lado da animação da leitura, nas escolas, bibliotecas e monumentos de grande parte da nossa região fazem dele uma figura de respeito e exemplar.
Desde 2013 até agora, conto mais de uma dúzia de livros, quase todos em edição de autor, com ilustrações de vários artistas, incluindo o próprio autor, também ele capaz de ‘habilidades gráficas’ encantadoras. Em 2019, recebeu o ‘Prémio Literário Afonso Lopes Vieira’, com O desenho impaciente, editado em 2021 pela edilidade leiriense, com as magníficas ilustrações de Irene Gomes.
Temas como a relação das crianças com os animais, a natureza, a poluição, os medos, angústias e fantasias próprios da infância ou a descoberta de novas geografias, e dos fulgores da História de Portugal, seja no registo dramático, poético ou na forma de breves contos ou fábulas (Loro Sa’e e o Bornal das Histórias (2013); Ó Simão, seu trapalhão, já armaste confusão! (2011; 2014); O livro das palmas (2014; 2016); O urso que perdera o coração (2010; 2015); Sete pulgas pequeninas (2015); A cinta do seareiro (2016); Contos e lendas de arrepiar (2017); A nuvenzinha que gostava de trovoada (2017); Marina e os mares de plástico (2018; 2022); Não tenho medo do monstro verde (2023); A revolta dos lusecos. O 25 de Abril contado à minha neta (2024); A canção das rãs (2024)), e até os jogos de tabuleiro, muito tem o leitor infantojuvenil por onde escolher. De todo este mundo da palavra literária, criou Carlos Alberto Silva uma obra promissora, de excelente qualidade e capaz de dar aos pais e educadores ótimos instrumentos para fidelizar os valores importantes, sem cair em desajustados ou anacrónicos moralismos, porém trilhando a luz das novas eras sem vacilar no absoluto relativismo, criador de monstros nos futuros…
Talvez por falar na palavra temida, seja ela a aparecer no novo livro de 2024: Vamos à caça de monstros. Com ilustrações de Cherie Zamazing, ilustradora freelance de livros infantis com obra já conceituada em vários países, o novo livro dá o salto para a nova literacia do ‘preenchimento da imagem’ e o impacto cromático nos leitores mais jovens (e mais velhos) que é, evidentemente, a marca exterior e apelativa deste objeto – e aqui, sim, a diferença entre livro-objeto ou ebook começa a tornar-se esbatida e o ecrã pode bem ser o meio recetor preferido…
Construído em função dos contrastes (o dia / a noite; a luz / a sombra; o tamanho dos pequenos / a hipotética sombra gigantesca dos monstros; o silêncio / os ruídos), de valores como os da equipa, da curiosidade e solidariedade com liberdade (‘Portanto, vamos caçar um monstro, pode ser?’), da lógica infantil aplicada à espacialidade (‘Portanto, para caçar um monstro, precisamos de nos equipar.’; ‘… precisamos de ir espreitar para debaixo da cama.’ ‘Abrimos a porta do guarda-fatos e damos uma espreitadela.’; ‘… espreitar para dentro da sanita.’; ‘… no desvão do sótão.’; ‘… entre as árvores do quintal.’), até à criatividade que recusa uma negação das aventuras e se propõe criar uma armadilha, na qual apanha o monstro real: o gato que tão bem conhecem. Características são as rimas e a linguagem poética, que serve a capacidade de memória dos mais pequenos e de todos os que apenas oralmente seguirem a intriga. O mesmo se pode dizer do refrão que vai pontuando a história – repleto de ironia… – e pode ser mimado pelo grupo de ouvintes/leitores (‘Vamos até lá, sem fazer banzé, / pé ante pé, pé ante pé.’). Dentro da fantasia infantil, e imaginário capaz de encontrar monstros em todos os lugares, já cabe a capacidade de planeamento e organização dos materiais necessários e as decisões de futuro.
As personagens deste livro sabem ser silenciosas, imaginativas e construtivas, solidárias até alcançar o objetivo pretendido – assim podem acabar com os monstros e criar nova(s) história(s) no futuro. Porque haverá sempre um Natal…