Gwangju, cidade sul-coreana, integra a Rede de Cidades Criativas da UNESCO, com numerosos projetos de cooperação e mediação artística. Altamente desenvolvida e tecnológica, mantém as raízes da sua cultura tradicional ao longo do Han, o rio “milagroso”, segundo os coreanos.
Ali nascia, há 53 anos, Han Kang, a romancista e poeta que tem o rio no seu nome, e a primeira mulher asiática a receber o Prémio Nobel da Literatura.
A notícia ainda é fresca. O prémio foi recentemente anunciado pela academia sueca, que elogiou Han Kang pela sua “prosa poética intensa que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”.
Como seria de esperar, as vendas dos livros da 18ª mulher galardoada com o mais alto prémio literário dispararam.
Nos escaparates das livrarias volta a luzir A Vegetariana, romance distinguido pelo Man Booker International Prize.
E é de se pegar nele! Não há como resistir ao anunciado na primeira frase: “antes de a minha mulher se ter tornado vegetariana, sempre pensei nela como alguém que não tinha rigorosamente nada de especial”. Esta mulher é Yeong-hye, a dona de casa que decide deixar de comer carne após sonhar com o abate violento de animais. A decisão não é compreendida por ninguém e traz-lhe uma série de consequências desastrosas para a sua vida familiar, para o seu corpo e para a sua saúde mental. Os sonhos aterradores e a realidade impiedosa exacerbam a espiral catastrófica do rumo que toma a sua vida.
Han Kang, numa alusão ao verso “creio que os humanos deveriam ser plantasl”, leva a personagem a querer transformar-se numa árvore e a alimentar-se de sol.
E o corpo debilita, qual soldado derrotado nas incessantes batalhas.
Tal como Olga Tokarczuk ou Doris Lessing, ambas premiadas com o nobel e já convidadas neste espaço, Han Kang também mergulha no impacto das ações humanas na natureza, sem deixar de arrancar a crosta das feridas do passado bélico do seu país.