Poeta, sacerdote e professor, José Tolentino Mendonça nasceu na ilha da Madeira em 1965. Estudou Ciências Bíblicas em Roma. Em 2019, foi nomeado Cardeal pelo Papa Francisco. A sua poesia é publicada pela Assírio & Alvim e a obra ensaística, desde 2017, pela Quetzal. Foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa em 2023.
Tolentino é um autor que me tem suscitado curiosidade. A abertura da Igreja para a sociedade como instituição feita de homens, e por isso, humanos e imperfeitos, torna em minha humilde opinião, esta sua abordagem à escrita, uma liberdade espiritual do sacerdote em busca da sua humanidade inserido nas comunidades. Escrever sobre temas que muitas vezes teríamos como profanos / distantes à igreja (sexo, relações, etc.) faz com que permaneça então, o que é no corpo do homem, o exercício da bondade e a assunção do amor para além da carne.
Em 2013, publica este A Papoila e o Monge. Obra que surgiu numa sequência fortuita de circunstâncias existenciais, uma delas sendo a conversa interminável sobre Kerouac. Esse episódio fortuito deu origem ao mergulho dele nos seus escritos, culminando no Book of Haikus. Neste livro de haikus, estarão em primeiro lugar, a amizade e o envolvimento com a arte (de dimensão existencial), duas componentes indestrinçáveis da experiência humana no universo deste autor. Também uma viagem ao Japão por convite do Centro Nacional de Cultura (durante a qual só conseguiu “estar”, não escrevendo uma linha sequer), se deve igualmente a uma experiência de leitura e da vivência cultural.
A beleza e simplicidade dos haikus, desvelam-no na condição de homem, e se não soubéssemos que seria um sacerdote a escrever, acreditaríamos ser um supremo amante da condição humana e do próximo, sem reservas.
Mesmo que faça frio
não aproximes do fogo
um coração de neve
O que buscamos
Uns nos outros
É sempre a noite.