Lavoisier, Za! & La TransMegaCobla, Kriol e Cabrita.
Os primeiros concertos confirmados pelo festival Nascentes elevam as expectativas sobre o que vai acontecer na aldeia de Fontes em 2023, mas o maior destaque do programa já conhecido é mesmo a residência de criação do projecto Ligados às Máquinas, anunciado pela organização como “a primeira e provavelmente única orquestra de samples em cadeiras de rodas do mundo”.
No Nascentes, o colectivo constituído por elementos da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra, com o musicoterapeuta Paulo Jacob, vai apresentar ao vivo, pela primeira vez, estruturas que se baseiam em samples cedidos por mais de 30 artistas como, entre outros, a Orquestra e o Coro da Gulbenkian, Salvador Sobral, Samuel Úria, Joana Gama, Ana Deus, Rita Redshoes, Bruno Pernadas, Moullinex, Coro Ninfas do Lis, Joana Guerra, José Valente, Surma, Gala Drop, Lavoisier, Cabrita, First Breath After Coma, Vasco Silva e João Maneta.
Os Ligados às Máquinas vão, também, mostrar repertório mais antigo, num espectáculo inédito que assinala 10 anos de actividade.
No caldeirão fervilhante em que intervêm pessoas com alterações neuromotoras severas por paralisia cerebral ou doença degenerativa, há fado, kizomba, hard rock, techno e até sons da publicidade e cada uma expressa uma “identidade sonora” e a música “que lhe é mais significativa e mais importante”, explica Paulo Jacob.
Para o efeito, recorrem a computadores e software. “É isso que permite a cada um deles poder participar e disparar um determinado sample no momento em que é pedido, portanto, eu funciono mais ou menos como uma espécie de regente, de maestro”.
O director artístico do Nascentes, Gui Garrido, que vê nos Ligados às Máquinas “um exercício de liberdade”, salienta “a relevância artística” do projecto e nota que o festival procurar gerar “mais momentos de conexão às diversas vidas, não só para os corpos que são maiorias”.
O desafio de incluir “vários tipos de acessibilidade” tem orientado o Nascentes, que, já em 2022, recebeu a banda 5ª Punkada, também nascida na Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra.
Além dos Ligados às Máquinas, os concertos já confirmados incluem o duo Lavoisier e o saxofonista Cabrita, a estreia (em data única nacional) do projecto colaborativo ZA! & la TransMegaCobla (que junta os catalães ZA! à dupla Tarta Relena e aos Megacobla) e a festa de raiz africana dos Kriol, de Danilo Lopes (Fogo Fogo, Refillon e Orquestra Todos) e Renato Chantre (Kussondulota, Mercado Negro e Orquestra Cesária Évora).
O Nascentes, organizado pela Omnichord, destaca a sensibilidade dos Lavoisier para musicar “a palavra de Torga, com a mesma intensidade com que revisitam temas do cancioneiro tradicional compilado por Giacometti e Lopes Graça ou dão novas vozes às canções de José Mário Branco”; sublinha a “visão retro-futuristica” de ZA! & la TransMegaCobla que convida “a visitar as diversas paisagens que compõem a riqueza musical do Mediterrâneo, num jogo constante entre a modernidade e a tradição”; e lembra as “mazurkas, valsas, coladeras e batukes” que se juntam numa “autêntica viagem pelo psicadelismo tropical” com Kriol.
Cabrita vai apresentar-se em formato trio com composições “que vão do jazz ao blues, da música electrónica ao reggae e do rock n’ roll à world music”.
Os habitantes e o potencial da aldeia de Fontes, onde nasce o rio Lis, no concelho de Leiria, voltam a ser a principal força motriz do Nascentes, que tem o apoio do JORNAL DE LEIRIA e é desenhado com a comunidade local.
A programação contempla concertos, residências de criação, espaços dedicados ao público infanto-juvenil, convívios e um jantar comunitário e procura relacionar artistas e espaços, natureza e criação, rasgo e tradição.
“Promovendo a reflexão sobre a natureza, na sua multiplicidade de formas, e o questionamento sobre o modo como nos relacionamos com o outro, com a arte, com a cultura, com a paisagem e como nos transformamos através dessas relações”, lê-se na primeira nota de divulgação.
O Nascentes decorre entre 28 de Junho e 2 de Julho.