Não consegue estar longe do Mosteiro da Batalha nem por poucos dias. Tornou-se funcionário do monumento há 37 anos, mas depressa passou a sentir aquele espaço como a sua própria casa. Falamos de Luís Ceiça, guardião do Mosteiro da Batalha.
Luís António Matias Ceiça nasceu na Batalha a 27 de Agosto de 1957. Foi o mais novo dos três filhos de uma doméstica e do proprietário de uma oficina de bicicletas. Os seus pais deram-lhe a oportunidade de estudar e Luís Ceiça fez o curso geral de mecânica na Escola Comercial e Industrial Domingos Sequeira, em Leiria.
Hoje, admite que poderia ter tirado maior proveito dos estudos, que se poderia ter esforçado mais. No entanto, reconhece também, que tinha nessa fase da juventude muitas outras actividades que o faziam dispersar a atenção. Uma delas era o futebol.
Entre outras formações, Luís Ceiça foi guardaredes no Grupo Desportivo da Batalha e numa equipa de Porto de Mós. Além disso, recorda, “era também grande amante de caça. Comecei a ir com o meu pai, aos 16 anos, e chegava a fazer 40 quilómetros por dia pelo Alentejo”.
[LER_MAIS] Além destas paixões, o jovem partilhava também outro gosto com muitos dos seus familiares: a fotografia. Luís Ceiça explica que nunca fez nenhuma formação, mas salienta que é tão grande o gosto pela imagem, que terá disparado cerca de meio milhão de fotografias, grande parte das quais relativas ao Mosteiro da Batalha.
Quando cumpriu o serviço militar, com recruta nas Caldas da Rainha e passagem pelo Campo de Tiro de Alcochete, o jovem Luís Ceiça ainda teve oportunidade de jogar à bola com Paulo Futre. Jogavam em torneios em campos do Montijo, na brincadeira, para passar o tempo, conta Luís.
Feita a tropa, o jovem regressou à Batalha e ainda ficou durante algum tempo a trabalhar na oficina do pai. Mas esse emprego não iria durar muito.
A direcção do Mosteiro precisava de pessoas para supervisionar as exposições que se faziam naquele monumento. Luís Ceiça foi admitido e até hoje nunca mais deixou o Mosteiro.
Abre e fecha o monumento, sobe à cobertura para limpar, para lavar os vitrais, acompanha visitas e conhece todos os recantos daquela casa. O casal real Carlos e Sofia, de Espanha, e inúmeros governantes e investigadores portugueses foram algumas das personalidades que já acompanhou em visita.
“Não consigo estar dois dias sem ir ao Mosteiro”, confidencia Luís, frisando que muitas vezes deixou a vida pessoal e familiar em segundo plano em prol daquele espaço. Entre os episódios mais caricatos do seu quotidiano no Mosteiro está o da santa. Ou seja, certo dia, enquanto fazia limpezas, surgiu uma santa junto às outras imagens.
Nem o próprio Luís nem ninguém estava a perceber de onde tinha surgido a santa, até que um conhecedor de arte sacra a identificou. Tratava-se de uma santa que tinha sido roubada do Mosteiro 18 anos antes.
“Ou aconteceu um milagre ou foi alguém que se arrependeu de a ter levado e a trouxe de volta”, observa o guardião.
A vida associativa, cultural e até política da região têm tido o cunho de Luís Ceiça. O guardião do Mosteiro foi fundador da Rádio Batalha, foi presidente do Clube de Caça e Pesca da Barosa e, filiado no Partido Socialista, o funcionário do Mosteiro também foi membro da Junta de Freguesia da Batalha, tendo sido um dos grandes impulsionadores da construção do edifício-sede daquele órgão.
Mas são os louvores atribuídos a Luís Ceiça pelas personalidades que já visitaram o Mosteiro que mais animam o guardião. “Não há dinheiro que pague”, refere o funcionário, que prevê nunca se desligar do monumento, mesmo quando chegar a idade da reforma.