Por estes dias, os pomares começam a encher-se de gente para a colheita da Maçã de Alcobaça.
Mas este ano a campanha vai saldar-se por uma redução na quantidade, que o presidente da associação de produtores estima que ronde os 20%. A culpa é da seca e das temperaturas “extremamente altas” que se têm feito sentir na região.
Já em Abril se previa “um ano de recursos hídricos deficientes devido à ausência chuva no Inverno”, recorda Jorge Soares, adiantando que se implementaram “inúmeras medidas restritivas e de poupança de água”.
“Foi um milagre para muitos fruticultores terem conseguido manter vivas as plantas e as maçãs até a colheita”, sublinha.
A quebra de produção sente-se na quantidade, mas também se reflectirá no valor, devido ao menor crescimento dos frutos.
O consumidor irá encontrar maçãs mais pequenas, mas de “enorme qualidade”, com um sabor “como nunca, devido à menor quantidade de água e à maior quantidade de compostos orgânicos”, explica Jorge Soares.
“Se os consumidores optarem por maçãs mais pequenas este ano, para além de obterem uma poupança nos gastos” conseguem o “mesmo poder nutricional de uma maçã grande de origens externas”.
“Vai ser uma campanha comercial na qual estruturas concorrentes da produção nacional têm oportunidade e interesse em invadir o mercado com maçãs grandes produzidas nos países de Leste da Europa, de elevado tamanho mas de sabor diferente daquele a que os consumidores de maçã certificada estão habituados”, sublinha o presidente da Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça.
Jorge Soares diz ainda ao JORNAL DE LEIRIA que “mais grave e assustador do que a quebra de produção ou a redução de calibres, foi o aumento de custos, superior a 35% face à campanha anterior, dos quais combustíveis, energia e fertilizantes com subidas superiores a 100%, enquanto embalagens, cartão e outros têm custos superiores a 50%”.
Por isso, diz o dirigente, “considerando que a qualidade está acima da média, excepto no tamanho da fruta, foi possível levar uma campanha de produção até ao fim com dificuldades inimagináveis há um par de anos atrás”.
“Resta a compreensão dos consumidores para preferirem maçã nacional, certificada na qualidade, na origem e na segurança alimentar, para ajudar a manter um sector que ficou exposto a riscos preocupantes, de custos e climáticos, e ajudarem a manter a economia nacional a contribuir para o emprego e para a receita fiscal”, afirma Jorge Soares.
Na semana passada também a Associação de Produtores de Pera Rocha do Oeste tinha anunciado quebras na produção que podem chegar perto dos 50%, devido à falta de água durante o ciclo produtivo e às altaa temperaturas, sobretudo em Julho.
No Oeste, a produção hortícola está igualmente a sofrer os impactos da falta de água. A Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste (AIHO), citada pela Lusa, estima para este ano quebras de 40% na produção de abóbora e de couves.
A AIHO pede “urgentemente uma estratégia” para a falta de água no sentido de assegurar o futuro do sector na região.
“Tememos que as próximas campanhas estejam em risco. Hoje, os produtores têm algum receio do que vão fazer porque estamos no Verão e não há previsão de chuva. E a próxima campanha está a começar e não temos reservas de água e os furos estão secos”, alerta Renato Gouveia, técnico da associação.
Estima-se que mais de metade da produção nacional de hortícolas seja produzida na região Oeste.
O sector hortícola factura cerca de 500 milhões de euros e emprega entre sete e oito mil trabalhadores, quer nas explorações agrícolas quer nas centrais de processamento e transformação dos produtos.
Com as vindimas já em curso em algumas das vinhas, Luís Vieira, administrador do Grupo Parras, com sede em Alcobaça, estima uma quebra de produção na ordem dos 10%.
A qualidade “será provavelmente melhor”. Ambas as situações resultam das condições endoclimáticas registadas, caracterizadas por pouca chuva e muito calor.
Também Carlos Pereira da Fonseca, responsável pela Companhia Agrícola do Sanguinhal, no Bombarral, aponta para uma quebra na ordem dos 15%, devido às condições climáticas registadas durante o ciclo produtivo.
“O que nos anima é que nestes últimos dias tem havido orvalhadas, muito benéficas para a vinha, e não houve escaldões no final de Agosto”.
De qualquer forma, sublinha que a qualidade “vai depender das condicções climatéricas que se verifiquem até ao final da vindima”, que ainda agora está a começar.