A campanha da colheita da fruta na região está prestes a começar e, apesar de algumas perspectivas positivas, a produção ainda não está no seu mais alto potencial e não recuperou totalmente da quebra significativa do ano passado.
Jorge Soares, presidente da Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA), estima uma colheita entre 5 a 10% superior a 2023, recuperando os números de 2022. “A produção está cerca de 10 a 20% áquem do nosso potencial, mas ligeiramente superior ao ano passado”, comentou o responsável, satisfeito ainda assim, com a ligeira recuperação deste produto local.
O dirigente identifica elementos positivos, nomeadamente para o consumidor, relativamente à produção. Este ano, as maçãs “não cresceram tanto”, fruto do “Inverno mais uma vez atípico” que “provocou um desaceleramento da entrada das plantas em actividade”. Por isso, a fruta chegará à prateleira mais pequena, o que se traduz “em outro tipo de qualidade”, com a maçã “mais rica” e desenvolvida de forma sustentável, o que garante propriedades mais concentradas a este alimento.
O ligeiro crescimento na produção de maçã vai permitir, segundo Jorge Soares, reforçar a exportação para um mercado que tem sido uma nova aposta nos últimos anos. Países da América Latina, onde se inclui o Brasil, estão “ávidos” e reconhecem a qualidade a Maçã de Alcobaça, garante Jorge Abreu.
“Esperamos exportar o dobro”, confessou o presidente da APMA, ao lembrar que, no ano passado, 10% da produção foi para o outro lado do Atlântico. Sem comprometer “a produção para o mercado nacional”, os produtores prevêm exportar o equivalente ao aumento da safra deste ano.
Os desafios permanecem os mesmos: doenças da fruta e alterações climáticas. E este último é aquele que mais preocupa os agricultores, já que “quanto mais frio estiver no Inverno, mais produzem [os pomares] na campanha seguinte”.
Por isso, invernos amenos como aqueles registados nos últimos anos são um dos grandes ‘inimigos’ deste fruto. “Ainda me lembro, há cerca de três décadas, contabilizávamos 700 horas de frio. Nos últimos cinco anos, em quatro deles dificilmente tivemos 500 horas de frio. Sempre que se verificam invernos mais amenos, as nossas plantas ressentem- se”, constata.
As vagas de calor também não ajudam e, quanto à chuva, não existem “estruturas de retenção” suficientes para impedir que a água chegue ao mar rapidamente.
Mesmo com todas as condicionantes, a Maçã de Alcobaça mantém a capacidade de inovar. Além das tradicionais variedades de Royal Gala ou Fuji, as prateleiras este ano vão exibir com maior abundância a Maçã Candine, produto estudado há seis anos e que se apresenta rosado, de um sabor “doce mascarado com a acidez” e que se mantém “sempre crocante”.
Temido abandono de pomares
Por sua vez, a Pêra Rocha do Oeste regista alguns problemas, com doenças e instabilidade climática que continuam a ameaçar a produção.
Sem adiantar dados específicos, Filipe Ribeiro, presidente da Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha (ANP), espera que a colheita corresponda aos dados “do ano passado”, quando as quebras ascenderam aos 13%.
Com os números em baixo, o responsável teme que os produtores “ponderem o abandono de alguns pomares”. “Já aconteceu o ano passado”, referiu, ao explicar que alguns agricultores abandonaram “parcelas que já têm histórico de quebras e de doenças”.
“Esperamos que seja o mínimo possível”, afirmou, ao adiantar que, no ano passado, o abandono de pomares esteve entre os “5 e 10%”.
Para este responsável, a solução para colmatar a queda contínua de Pêra Rocha passa pelos apoios nacionais e europeus, nomeadamente a “subsidiação para que os produtores façam seguro ao escaldão da fruta” e o financiamento a culturas com quebras de produção para “a reposição das espécies”.
Além disso, Filipe Ribeiro pugna pela “flexibilização do Green Deal [Pacto Ecológico Europeu]”. “O facto de termos esta agenda a médio/longo prazo pode traduzir-se na produção da fruta em outras geografias, onde o controlo não é tão exigente”, alerta.
Desta forma, o presidente da ANP defende “o equilíbrio” entre a manutenção dos pomares, nomeadamente com a utilização de produtos químicos, e as regras de sustentabilidade. “O ideal era, quando uma determinada substância sai, haver alguma que a substitua com o mesmo grau de eficácia e menos impacto no ambiente”, sublinha.