A maioria das intervenções em infra- estruturas municipais afectadas pelo incêndio está por concluir e ainda só foi pago 10,8% do apoio aprovado às autarquias. Segundo avança ao JORNAL DE LEIRIA o Ministério do Planeamento e Infraestruturas (MPI), os municípios de Castanheira de Pera e Pedrógão Grande ainda não receberam qualquer verba.
O pagamento só acontecerá mediante a execução por parte das autarquias. Figueiró dos Vinhos já recebeu 636.497 euros dos três milhões de euros aprovados. As intervenções previstas neste programa contemplam áreas como a segurança rodoviária, a recuperação de estradas municipais, viaturas, equipamento municipal, sinaléctica, entre outros.
Quem percorre o concelho de Pedrógão Grande constata junto às estradas as várias placas calcinadas pelo fogo, que teimam em não fazer esquecer a tragédia do dia 17 de Junho. Dos apoios aprovados às empresas apenas um quarto foi pago às 46 sociedades que sofreram danos devido aos incêndios nos concelhos de Alvaiázere, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande.
As empresas já receberam 3,5 milhões euros, de um investimento total de 25 milhões de euros nestes territórios, que contam com um apoio de 14,1 milhões de euros de fundos comunitários.
Pedrógão Grande apresenta 24 empresas com candidaturas aprovadas (18,8 milhões de euros de investimento), seguindo-se Figueiró dos Vinhos, com 13 empresas (1,89 milhões de euros), e Castanheira de Pera, com oito (4 milhões de euros).
Ferraria arrancou eucaliptos e cria abrigo colectivo
Há um ano, o povo de Ferraria de São João, na fronteira entre os concelhos de Penela e Figueiró dos Vinhos, combateu um fogo esfomeado por vidas e bens, como jamais havia visto.
[LER_MAIS] Um grande sobreiral protegeu parte da localidade, ao obrigar o incêndio a amainar, enquanto o resto do casario foi defendido pelas cerca de quatro dezenas de moradores, com toda a água, braços e vontade que conseguiram arregimentar.
Na madrugada seguinte, já cientes da tragédia que havia vitimado 64 pessoas em Pedrógão Grande, os moradores juraram que jamais voltariam a ser apanhados desprevenidos.
Reunidos em Assembleia de Moradores, seis dias após a provação, 50 habitantes e proprietários de terrenos aprovaram, por unanimidade, a criação de uma Zona de Protecção da Aldeia, com 100 metros de largura.
Da faixa, seriam retirados os eucaliptos – considerado um dos culpados da tragédia de Pedrógão Grande, pelo seu grande de inflamabilidade e ausência de ordenamento de plantação -, e plantados sobreiros, medronheiros, carvalhos e vegetação resistente ao fogo.
Os trabalhos começaram logo, com o apoio de voluntários. Os terrenos à volta da aldeia foram limpos de árvores queimadas e ficaram apenas as espécies autóctones. Foram plantadas árvores e criados pontos de água e acessos. Ferraria de São João tornava-se mais segura para quem lá mora, enquanto o País político debatia no Parlamento de quem eram as culpas.
“Estimávamos plantar mil árvores, mas a natureza surpreendeunos. Os carvalhos e sobreiros começaram a despontar e, em muitos sobreiros, mesmo queimados, apareceram novos rebentos”, conta Pedro Pedrosa, presidente da Comissão de Moradores, que está a considerar criar um abrigo colectivo para a população.
No horizonte, porém, os maiores motivos de preocupação continuam presentes. Um deserto de eucaliptos, já verdes, cresce e domina até onde alcança a vista, ameaçando esta e todas as aldeias da região.
“Outra questão que nos aflige é a ausência de um modelo de gestão dos terrenos. Há 255 parcelas, só à volta da Ferraria , pertencentes a dezenas de proprietários. Isto dificulta a sua limpeza e restante gestão, pois, muitas vezes, não sabemos a quem pertencem e não temos autorização para lá entrar”, sublinha Pedro Pedrosa.
O morador lamenta que, após todas as promessas de apoio oficial para estas questões, “ninguém tenha aparecido” ou explicado como actuar. “Estamos como estávamos no início do processo. Só nos estamos a focar naquilo que podemos fazer legalmente”, refere.
milhões de euros é o total aprovado para financiar as intervenções nas infra-estruturas municipais
46
empresas dos concelhos de Alvaiázere (1), Castanheira de Pera (8), Figueiró dos Vinhos (13) e Pedrógão Grande (24) sofreram danos devido ao fogo.