O Centro Hospitalar de Leiria (CHL) contratou nos últimos oito meses 69 médicos externos para integrarem as escalas de turno do Serviço de Urgência Geral (SUG) do Hospital de Santo André, para colmatar a falta de recursos humanos. Apesar de ter desembolsado 390 mil euros na contratação de generalistas este ano, o caos instala-se de quando em vez no SUG.
Além dos 69 generalistas, o CHL solicitou à empresa externa mais médicos para constituírem os turnos necessários, mas esses simplesmente não compareceram ao serviço, criando um problema ainda maior ao hospital, sem resposta para dar aos utentes que recorrem às urgências, obrigando-os a esperar mais de sete horas para o primeiro atendimento.
Segundo dados facultados ao JORNAL DE LEIRIA, só nos meses de Julho e Agosto de 2021, as faltas dos médicos externos, muitas delas injustificadas e sem aviso prévio, atingiram os 71%.
Os médicos generalistas representam o maior custo extra com recursos humanos em prestação de serviço, apesar do valor ter vindo a diminuir desde 2019. Nos primeiros oito meses de 2018, o CHL gastou 417 mil euros, tendo desembolsado 390 mil euros na contratação de generalistas este ano. Em quatro anos, contabilizando apenas oito meses, foram gastos quase 1,7 milhões de euros com o reforço desta especialidade.
O JORNAL DE LEIRIA procurou comparar os mesmos números com o Hospital Distrital de Santarém, classificado pela Administração Central do Sistema de Saúde como Grupo C, o mesmo que Leiria integra, apesar do CHL ter uma área de influência de cerca do dobro. Em Santarém, este ano foram contratados 59 prestadores de serviço para as urgências, que deram resposta a 45.124 utentes.
[LER_MAIS]Já em Leiria, os 69 médicos contratados tiveram de atender um total de 55.177 pessoas. O recrutamento para o SUG do hospital de Leiria é um problema que se arrasta há anos. Para tentar minorar a situação, o CHL criou, em Julho, uma equipa fixa, constituída por 11 clínicos, garantindo assim que as equipas estejam preenchidas a 100%, durante a semana, das 8 às 22 horas. “Ao dia 31 de Agosto, integravam as equipas fixas dez médicos generalistas e a partir do dia 3 de Setembro passaram a 11. Está em curso a integração de mais um elemento”, refere o CHL.
Fora as equipas fixas, os turnos no SUG são realizados com recurso a internos ou a externos. No entanto, o número de internos “pode variar em função do número de internos disponíveis”, já que alguns em determinado momento “estão em estágios noutros hospitais”.
Apenas no caso das especialidades de Medicina Interna, Cirurgia Geral Ortopedia, Anestesiologia e Cardiologia, as contratações à hora são feitas para “complemento de escolas, sendo estas maioritariamente asseguradas por médicos do CHL”, explica o hospital. Quanto a especialidades mais concretas, há sempre um clínico presente ou de prevenção, pronto para se deslocar ao hospital em caso de necessidade, como gastroenterologia, psiquiatria, oftalmologia, neurologia ou dermatologia.
Verificando o tempo médio de horas prestadas pelos médicos contratados a serviços externos, nota- -se que o maior número são de medicina interna, seguindo-se cirurgia geral e anestesiologia. Só este ano foi necessário recorrer à contratação externa de cardiologistas, com uma média de 1,9 horas diárias.
Verdes diminuem
Há duas semanas, o JORNAL DE LEIRIA denunciou que a falta de médicos estava a causar constrangimentos no atendimento das urgências, provocando horas de espera superiores a sete horas. Uma das explicações apontadas pelo hospital para o problema são as falsas urgências. “Este excesso de procura reflecte a falta de resposta dos centros de saúde da região e o aumento do número de casos Covid-19” na sua área de influência”, justifica o CHL.
Segundo o hospital, continua a registar-se um número elevado de atendimentos com a cor verde e azul (de acordo com a Triagem de Manchester correspondem a doentes pouco urgentes e não urgentes), atingindo os 40% do número total de atendimentos.
No entanto, segundo os dados disponibilizados, nos últimos quatro anos a tendência tem sido para a diminuição destes doentes. Ao invés, o número de doentes urgentes tem vindo a aumentar, tendo atingido o seu pico em 2021, com o maior número de situações triadas com as cores laranja e vermelho, as mais graves.