Numa época onde um dos “apelidos” mais populares em páginas do Facebook e no Instagram deverá ser Photography, encontramos em Leiria alguns fotógrafos que se aventuraram para lá do fugaz e enganador reconhecimento dos “amigos” das redes sociais.
São amadores, mas poderiam ter sido profissionais, se a fortuna não lhes tivesse ditado outro caminho. Henri Cartier-Bresson dizia que os fotógrafos lidam com coisas que desaparecem e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo capaz de fazê-las voltar outra vez. “Não podemos revelar ou copiar uma memória.”
Falámos com alguns deles, já que seria impossível reuni-los a todos em apenas duas páginas, para saber o que os leva a apostar numa técnica que reflecte mais a subjectividade do observador do que a fidedignidade do alvo observado.
Le plus grand concours photo du monde
No início deste ano, o JORNAL DE LEIRIA dava conta de que três fotógrafos de Leiria, Luís Lobo Henriques, João Ferreira e Francisco Duarte Mendes, estavam entre os candidatos à final da 38.ª edição do Le plus grand concours photo du monde 2016, promovida pela revista PHOTO Magazine.
Para a final, foram seleccionadas apenas 400 fotografias e, destas, apenas um lote reduzido acabaria por ser escolhido e impresso no primeiro número de 2017, da revista francesa.
Nesse grupo, entraram Luís Lobo Henriques e João Ferreira que, já em 2015, haviam conseguido o mesmo feito. O primeiro apresentou na competição um trabalho protagonizado por Frederico Riachos, campeão nacional de natação e João Ferreira concorreu com o seu Arquipélago.
Neste trabalho retrata Cabo Verde no âmbito de um projecto maior que passa por percorrer, a médio-longo prazo, vários países de língua oficial portuguesa e documentar os povos e culturas, onde a influência portuguesa ainda é visível.
Embora não tenha figurado na edição da PHOTO relativa ao concurso, Francisco Duarte Mendes, conseguiu-o, primeiro, em 2011 e, depois, em 2013, ano em que também alcançou uma menção nos Sony Awards,na categoria Arquitectura. Em 2016, foi o vencedor no El Fotón, concurso espanhol, também na secção Arquitectura e vencedor do concurso Enterro do Bacalhau 2016, do JORNAL DE LEIRIA.
O Lobo que caça imagens há 40 anos
Luís Lobo Henriques é um fotógrafo de faro apurado para o melhor enquadramento, contraste, luz e cores. Este professor formado em Línguas e Literatura Moderna, que desde os 16 anos se dedica à fotografia, foi um dos primeiros a tornar-se presença assídua em concursos internacionais.
Tantas vezes, que já lhes perdeu a conta. “Se calhar sou o mais velho de todos, porque, desde 1978, que entro em concursos. Já participei e venci em dezenas ao longo de 40 anos de fotografia.
Destaco os prémios alcançados em organizações da Oikos e os da PHOTO, revista que, para mim, foi sempre uma escola e um culto, e onde fui finalista umas 15 vezes. Participei, pelo menos, cinco vezes nos concursos da Rotas e Destinos e da Volta ao Mundo.”
Na bagagem, conta com dois prémios da PHOTO, em 2010 e 2012, onde, à semelhança do que aconteceu, em 2015 e 2016, foi finalista no Plus grand concours photo du monde. “Nada é mais incentivante do que um desafio.
Pensar em competir com uma fotografia é pôr à prova as suas qualidades e o nosso talento”, afirma, salientando que há que testar as capacidades e receber o feedback.
O professor, que diz ter muitas fotografias sonhadas e planeadas na cabeça, afirma que é gratificante receber sugestões de amigos que seguem o seu trabalho para se me candidatar a determinado concurso.
“Houve até quem já me dissesse por piada: ‘epá! Eu pago-te a inscrição!’ Muitos concursos têm taxa de inscrição por fotografia, que pode rondar os dez ou 20 euros/dólares.”
Neste momento, alguns dos seus trabalhos podem ser vistos na mostra Índia, rostos de canela, patente no Posto de Turismo da Batalha, até 11 de Junho.
O ser humano no cerne da imagem
Desde a década de 90 que João Ferreira, vencedor do Prémio Vida Quotidiana 2017,do conceituado Estação-Imagem, com Arquipélago, se interessa por fotografia.
Nos últimos anos, os prémios e o reconhecimento bateram-lhe à porta, especialmente desde que inaugurou a exposição 1.3 Billion, retrato do dia-a-dia captado no sul da China em diferentes períodos desde 2011.
Entre 2010 e 2011, publicou em revistas de automóveis clássicos, em Portugal e França e, a partir de 2012, o seu trabalho virou-se para a fotografia documental baseada na figura humana, tendo projectos elaborados e publicados em vários países.
“No ano passado, com o Arquipélago recebi uma menção honrosa no Tokyo International Photo Awards, no Japão, e fui finalista do Prémio Revelação dos Encontros da Imagem, em Braga. Fui ainda seleccionado pela Canon, em parceria com a agência de fotografia Magnum, para as leituras de portefólio do Festival Visa pour l’Image 2016, em Perpignan, França. O Visa pour l’image é tão conceituado quanto o World Press Photo, mas consideravelmente menos badalado”, conta.
Mil e uma fotografias para fazer
No caso de Francisco Mendes, foi o reconhecimento em sites e depois os convites para publicar em revistas da especialidade, que o levaram a aventurar- se em concursos.
“Primeiro os nacionais, depois os internacionais, no sentido de as minhas propostas serem analisadas por pares desconhecidos, e sem qualquer ligação a mim.”
Como acontece com a maioria dos artistas, Francisco Mendes, que é professor de Educação Física, diz que não consegue destacar os seus trabalhos mais bem conseguidos.
“Tenho trabalhos que, por serem tão queridos, nunca foram colocados à analise de júris e têm o seu valor só por existirem nos meus arquivos, que estão disponíveis no mundo virtual, mas que não são bandeiras.”
Não obstante e após alguma reflexão, acaba por destacar a menção honrosa obtida nos Novos Talentos Fnac 2012, com o trabalho abstinência. peleja.poder, o lugar de finalista no Sony Awards, e “o orgulho” de ser publicado pela Taschen, no livro Great Scapes Europe.
“Tenho mil e uma fotografias que gostaria de fazer; de pessoas que gostava de fotografar ou locais, contudo, isso é um lugar-comum. Assim, a fotografia que sempre quis fazer mas ainda não fiz, é a próxima que irei fazer, sem saber ainda qual será, e isso deixa-me contente.”
(…)
Costeau e Attenborough como inspiração
Sair da zona de conforto
O trabalho de Filipe Silva não aparece todos os meses nas páginas da National Geographic mas bem poderia acontecer. Aos 42 anos, é, no meio da fotografia da natureza, um nome conhecido.
“Sempre invejei a vida de Jacques-Yves Cousteau e de David Attenborough. Uns dias após comprar a minha primeira câmara, decidi retratar o mundo, saí da minha zona de conforto e viajei pelo planeta em busca de espécies, paisagens, culturas e tradições, levando-me a especializar na fotografia de natureza, vida selvagem e culturas.”
Desde 2005, que algumas dessas fotografias chegaram às semifinais e finais do concurso BBC Wildlife Photographer of the year.
“Concorri com algumas fotografias de natureza que tinha obtido na Noruega, aquando de uma expedição que fiz em busca de imagens de águias pesqueiras. A imagem em particular [em cima] viola uma série de ‘regras’ fotográficas e o meu primeiro impulso foi apagá-la”, recorda.
Não o fez e o “crime” acabou por compensar. No baú conta já com duas menções no GDT – European Wildlife Photographer of the Year e as suas imagens foram publicadas em livros, revistas e calendários.
“Procuro promover através delas a preservação e divulgação de locais, espécies e tradições.”
Actualmente, é membro da Direcção da Natugrafia – Associação de Fotógrafos da Natureza e elemento da associação Espanhola de Fotógrafos da Natureza – AEFONA.
Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo.