Assume que a decisão de sair de Portugal foi “puramente financeira”, mas confessa que ficar nos Países Baixos tem, sobretudo, que ver com a “qualidade de vida” e com as “excelentes” condições para conciliar o emprego com as vidas pessoal, social e familiar. Matilde Martins, de Leiria, vive em Arnhem e trabalha em Amesterdão, onde gere as redes sociais e o marketing de uma multinacional de calçado.
Formada em Design Gráfico e Multimédia, na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, a jovem, de 24 anos, começou a sua actividade profissional numa empresa de vídeo e comunicação de Leiria. Foi, diz, uma “boa” experiência profissional, mas, do ponto de vista salarial, ficou aquém do esperado.
Ainda antes de terminar o contrato caiu na real e decidiu que não queria ficar em Portugal a ganhar “800 ou 900 euros o resto da vida”. Uma convicção que reforçou quando o namorado recebeu uma proposta para trabalhar nos Países Baixos na sua área de formação, os moldes, que incluía também habitação.
Ele decidiu ir experimentar e Matilde pôs-se em campo à procura de emprego. Inscreveu-se numa agência de recrutamento para pessoas que se comunicam em Inglês e, ao fim de três entrevistas, recebeu uma oferta de emprego, com a garantia de que o lugar estaria à sua espera até que terminasse o contrato em Portugal, que durava mais dois meses.
Matilde Martins chegou aos Países Baixos em Janeiro de 2022 para trabalhar na Internacional Brands Group, multinacional que vende para mais de 100 países e que produz as conhecidas botas militares Magnum e calçado outdoor e desportivo. Faz a gestão das redes sociais e dedica-se ao marketing digital da empresa, trabalhando em contexto internacional, com colegas de mais de dez nacionalidades.
“A comunicação é feita em Inglês e o ambiente de trabalho é incrível”, conta a jovem, que reconhece que a adaptação foi “muito simples e feliz”. Para tal, assume, também contribuíram as condições de “conforto” proporcionadas pela empresa do namorado, que disponibilizou habitação, permitindo-lhes ultrapassar um dos grandes problemas da actualidade que também se faz sentir nos Países Baixos.
“Fomos uns sortudos. Tivemos uma experiência de adaptação muito suave”, confessa Matilde Martins. Nem o facto de trabalhar a uma hora de carro de Arnhem, cidade onde reside que fica perto da Alemanha, lhe trouxe dificuldades de maior. “É um país pequeno. Numa hora e meia atravessamo-lo de uma ponta a outra e tem óptimos transportes públicos, embora, no meu caso, tenha optado por usar o automóvel.”
Qualidade de vida
Mas, não é apenas pelo emprego, onde se sente realizada e compensada financeiramente, que Matilde Martins quer permanecer nos Países Baixos. “Descobri que se pode trabalhar, ter um nível salarial condizente e qualidade de vida. O emprego é apenas uma parte da vida”, salienta a jovem, que destaca a forma como as pessoas usufruem do contacto com a natureza e como a integram no seu quotidiano.
Por outro lado, é uma sociedade que valoriza “muito” a família. “Aqui, promove-se verdadeiramente a conciliação entre as vidas pro ssional e familiar. É um país incrível para viver”, assegura.
Regressar a Portugal não está fora dos planos de Matilde, mas, para já, não há uma data no horizonte. Prefere aproveitar o momento e as oportunidades. “A nossa saída de Portugal teve apenas que ver com a questão financeira, mas a decisão de ficar vai muito além disso. Viemos pelo salário. Queremos ficar pelo estilo e qualidade de vida.”